Ângela Maria faz show intimista, dividindo o palco apenas com o violonista Ronaldo Rayol

Apresentação acontece hoje à noite no Teatro Bradesco

por Ana Clara Brant 08/07/2016 08:58

Foi numa festa de réveillon, realizada no começo da década de 1950, que Ângela Maria ganhou o apelido que virou praticamente “sobrenome”.

A então Rainha do Rádio foi apresentada ao presidente Getúlio Vargas, que não escondeu a satisfação em conhecê-la. “Que prazer te conhecer, Sapoti”, disse ele. A estrela fechou a cara, pois achou que ele a chamara de “jabuti”.

“Só depois fui entender (risos). Ele me perguntou por que estava emburrada, e explicou que me apelidou de Sapoti porque eu tinha a cor daquela fruta e voz tão doce quanto o sabor dela. Nunca tinha comido sapoti, mas virou a minha marca. De vez em quando, um fã me presenteia com essa frutinha”, comenta a cantora.

Jair de Assis/Divulgação
Com 68 anos de carreira, Ângela Maria diz que o cenário da MPB não é muito favorável (foto: Jair de Assis/Divulgação)

Pela primeira vez em 68 anos de carreira, Ângela faz turnê acompanhada apenas de um instrumentista. Acostumada a se apresentar com bandas e orquestras, ela tem adorado a nova experiência, tanto é que batizou o show de Ângela à vontade em voz e violão.


Hoje à noite, no Teatro Bradesco, ela e o violonista Ronaldo Rayol revisitam clássicos do cancioneiro nacional.

“O show é bem intimista. A gente fica mais próximo do público, é uma oportunidade de as pessoas ficarem mais atentas à nossa voz. Por outro lado, não dá para desafinar, nem para errar a letra. Se bem que a plateia até gosta quando isso acontece”, diverte-se.

O repertório só tem clássicos. Nunca (Lupicínio Rodrigues), Só louco (Dorival Caymmi), Manhã de carnaval (Luiz Bonfá-Antônio Maria), O portão (Roberto Carlos) e As rosas não falam (Cartola) estão entre eles. Sem contar os principais sucessos da carreira da Sapoti: Babalu, Lábios de mel, Gente humilde e Vida de bailarina.

Ângela Maria lamenta que atualmente não se valorizem artistas do passado como eles merecem. Para ela, o cenário atual da MPB não é muito favorável.

“Vira e mexe aparece um novo artista e logo depois some. Por que ninguém permanece fazendo sucesso por 68 anos?
Antigamente, a gente ligava o rádio e só ouvia música boa. Hoje não. Tirando o povo do pagode, de que gosto muito, como a Alcione, está complicado. Foram antigos compositores como Vicente Paiva, Ary Barroso, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Garoto que fizeram a música brasileira”, desabafa.

Eleita várias vezes a melhor cantora do Brasil – e fonte de inspiração para Elis Regina e Milton Nascimento –, a Sapoti acredita que o segredo de sua longevidade nos palcos é o misto de muito trabalho com talento e Deus. “Não é sorte, mas uma coisa divina mesmo. Agradeço todos os dias a Deus por ter me dado essa voz”, conclui.

SAUDADES
DO CAUBY
Apesar de sentir muita falta do amigo e parceiro Cauby Peixoto, morto em maio, Ângela Maria diz que a melhor maneira de homenageá-lo é estar no palco. “Cauby faz muita falta. Era uma pessoa e um artista maravilhoso. Mas não consigo parar. Nesses quase 70 anos de estrada, nunca tirei férias. Minha vida é cantar. A gente tem que continuar”, afirma ela, anunciando que pretende gravar dois discos este ano.

ÂNGELA MARIA
Projeto Uma voz, um instrumento. Com Ronaldo Rayol (violão). Hoje, às 21h. Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Ingressos: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia). Informações: (31) 3516-1360.

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