Tradição em Minas, festas juninas extrapolam o forró e têm atrações que vão da MPB à música eletrônica

De hoje ao dia 25, sempre às sextas e sábados, elas ocuparão a programação de clubes, boates, condomínios, espaços abertos e hípicas de BH

por Helvécio Carlos 03/06/2016 09:00
Beto Novaes/EM/D.A Press
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Pelo menos nas próximas semanas não tem para ninguém na balada. De hoje ao dia 25, sempre às sextas e sábados, as festas juninas vão ocupar a programação da cidade em clubes, boates, condomínios, espaços abertos e hípicas. Os números impressionam. Os dois maiores clubes da cidade – Pampulha Iate Clube e Minas Tênis Clube –, por exemplo, esperam reunir este ano 20 mil pessoas. A procura por ingressos é tão grande que há um mês os bilhetes para o Arraiá do PIC, que tem a dupla Bruno & Marrone como atração principal, estão esgotados.

“Festa junina é manifestação cultural que está enraizada na cultura mineira. Não há nada mais gostoso que curtir uma noite de inverno comendo doces e outras delícias tão comuns a esta época do ano. Daí esse sucesso em Belo Horizonte”, conta Mariângela Lima, que deu o pontapé inicial para festas produzidas em espaços abertos, arrastando multidões. Ela reconhece que muita coisa mudou, especialmente o público, mas comemora o fato de poder voltar a fazer sua festa ao ar livre. Mariângela faz ponderações com relação às atrações musicais dos eventos típicos do mês de junho. “Alguns colocam funk”, diz, lembrando que ela prefere convidar bandas de pop rock justamente “por ser gênero musical também com tradição em Minas Gerais”.

Se a balada ferve com os eventos típicos do mês, as festas juninas movimentam bairros da cidade o ano inteiro. “As escolas de samba estão para o carnaval do Rio de Janeiro assim como as quadrilhas – sem desmerecer as agremiações carnavalescas da cidade – estão para as festas juninas em Belo Horizonte”, teoriza Danilo Martins, diretor do Núcleo Mineiro Feijão Queimado de Cultura ou simplesmente Feijão Queimado. O grupo tem o maior números de vitórias no Arraiá de Belô, tradicional concurso de quadrilhas da cidade.

Com 36 anos de criação, o Feijão Quimado tem 12 troféus de primeiro lugar no campeonato promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte. A luta agora é para conquistar mais um torneio e ficar com o tricampeonato. “Queremos conseguir a façanha”, torce o diretor do grupo, que tem 60 integrantes e, desde de maio, faz ensaios de cinco horas aos sábados, domingos, feriados e “durante a semana – quando precisamos acertar alguma coisa na coreografia – são apenas duas horinhas”.

A comparação com uma escola de samba fica mais evidente ao perceber que as quadrilhas desenvolvem um tema ou, no caso da Feijão Queimado, prestam alguma homenagem durante a evolução da coreografia. “Em 2014, lembramos os tropeiros; no ano passado, a homenagem foi pelos 35 anos de fundação do Feijão Queimado. O deste ano, por enquanto, é segredo. A concorrência é muito grande”, afirma Danilo, reforçando a comparação com as escolas de samba, em que os maiores detalhes são guardados entre os integrantes do grupo.

Para se manter, eles fazem o que podem para aumentar o caixa. A administração pública oferece uma subvenção – a União Junina Mineira –, repassada às quadrilhas que compõem o grupo especial e o de acesso. “Mas o valor, de quase R$ 6 mil, é pouco em vista dos nossos gastos, que chegam em torno de R$ 20 mil”, contabiliza Danilo, lembrando que, durante todo o ano, o grupo promove diversos eventos para levantar fundos.

O desenhos dos vestidos e ternos dos homens são de responsabilidade de Lúcia Helena Coelho, presidente e fundadora do Feijão Queimado. A seu lado tem uma equipe de costureiras da comunidade Itatiaia, na Região da Pampulha. Depois das apresentações no Arraiá de Belô, em festas fechadas e pelo interior do estado, o figurino é guardado no acervo até ser reaproveitado em novas edições da festa. Em alguns casos, são doados para quadrilhas menores, em geral no interior do estado.

Quem também não perde tempo com ensaios é a turma do Grêmio Recreativo Arraial São Gererê, do Bairro São Geraldo. “Desde janeiro entramos com tudo. Ensaiamos nos finais de semana e feriados cerca de quatro horas”, diz Jadison Nantes, diretor artístico e o noivo da quadrilha. Tricampeã e nove vezes dona do segundo lugar do Arraiá de Belô, o grupo conquistou o segundo lugar no Arraía do Brasil, ano passado, em Palmas. “Concorremos com quadrilhas de todo o país”, comemora Jadison, que não revela qual o tema deste ano. “Se contar, alguém pode pegar a ideia para ele”, diz, bem-humorado. “Manter o segredo é mais superstição do que uma realidade. A turma prefere não divulgar”, emenda o noivo da São Gererê, que reune 65 integrantes, entre dançarinos e equipe técnica.

O Arraiá de Belô será dividido em dois finais de semana. As quadrilhas do Grupo de Acesso farão apresentações dias 24, às 19h30, e 25 e 26, às 16h. O local não havia sido determinado até o fechamento desta edição. Já as integrantes do Grupo Especial têm apresentação na Praça da Estação, nos dias 2 de julho, às 16h, e 3 de julho, às 15h. Este ano, o musical Gonzagão, a lenda será apresentado na sexta-feira, 1º de julho, como atração do Arraiá de Belô.

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