Sucesso em BH, Coco da Gente viaja a Portugal para se apresentar em festival de cultura popular

Inspirados nos mestres nordestinos e no candombe, grupo começou a tocar no Largo do Orlando, no bairro Santa Tereza

por Márcia Maria Cruz 30/05/2016 07:00
Fabiano Mendonça/Divulgação
(foto: Fabiano Mendonça/Divulgação)
O rodopiar das saias de chita, as batidas ritmadas dos pés em resposta à percussão, as umbigadas dos dançarinos conquistam quem chega de mansinho a uma roda de coco. Tem sido assim em Belo Horizonte desde que o músico e capoeirista Pedro Campolina voltou de Londres, em 2012, e resolveu reunir os amigos no Largo do Orlando, em Santa Tereza, na Região Leste, para jogar capoeira e dançar coco. De pouco em pouco, os ritmos nordestinos – apreciados na cidade pelos amantes do forró e da cultura popular – tornaram-se pretexto para o encontro que passou a ocorrer com regularidade.


A brincadeira se profissionalizou com a formação da banda Coco da Gente. De tão séria a pesquisa sobre a cultura brasileira, o grupo foi convidado para se apresentar no Festival Pé-na-terra, que será realizado de 16 a 19 de junho, em Portugal. Os mineiros vão se apresentar na Vila da Fuseta, na Região do Algarve.

''Será de extrema importância mostrar o que temos estudado e produzido de cultura popular por aqui. O aprendizado que traremos de culturas tradicionais de outros países de língua portuguesa só tende a enriquecer nossa pesquisa e nosso trabalho'', afirma Pedro Campolina.

O Festival Pé-na-terra promove o intercâmbio da cultura tradicional brasileira com países de língua portuguesa. Na programação há palestras, mostra de documentários, oficinas e apresentações culturais. ''Alguém que vivenciou a apresentação ou a roda do Coco da Gente no Brasil curtiu e apresentou para a galera do Pé-na-Terra, que entrou em contato com a gente'', conta Pedro. A ida à Europa foi viabilizada pelo programa Música Minas.

MESTRES Na bagagem, o grupo leva a pesquisa acerca das diferentes formas de apresentar o coco. ''Fomos beber na fonte dos velhos mestres'', conta Pedro Campolina. Em Maceió (AL), os mineiros foram recebidos por dona Zeza do Coco. Em Pernambuco, quem fez as honras foi mestre Pacheco Cantador.

''Aprendemos com vários mestres, entre eles Selma do Coco, Pombo Rocho, Arnaldo, Ulisses e Juarez, em Olinda; Ulisses, na Tabajara; Cosminho, em Igaraçu; e as famílias Calixto e Gomes do tradicional samba de coco de Arcoverde'', destaca o mineiro.

Em cada uma dessas regiões, o coco tem características próprias, que são passadas de geração para geração. O ritmo aproximou os mineiros da ciranda, do samba de roda e do folguedo de roda, também brincadeiras de matrizes africana e indígena.

A receptividade ao coco em Belo Horizonte foi tão boa que a banda criou o bloco homônimo, que se tornou a revelação do carnaval deste ano na capital. O sucesso do casamento entre ritmos nordestinos e a cultura mineira tem explicação na origem de ambos. “Vejo muita similaridade entre o coco, ou os cocos de lugares distintos, o congado e o candombe. As raízes são parecidas, todas manifestações de resistência vindas do povo negro e indígena”, explica Pedro Campolina.

BERIMBAU O mineiro lembra que o ''portal'' para o universo da cultura popular foi a capoeira, que também faz parte do repertório das apresentações além-mar. “Desde meus 13 anos conheço a capoeira. No princípio, era só mais um esporte, mas aos poucos percebi seu valor cultural. A partir daí, comecei a estudar a música, começando por berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco. Nesse caminho, aprendi samba de roda, outros ritmos e manifestações culturais.”

Porém, a carreira de Pedro como percussionista teve início em Londres, onde ele tocou baião, xote e arrasta-pé. “Já comecei na onda nordestina. Nunca mais parei”, conta O grupo Coco da Gente é formado por Pedro Campolina, Camilo Bernardes, Danilo Amarelo, Flor de Liz Lídia, Fabrícia Oliveira e Juliana Floriano.

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