''Ninguém no Brasil cantou como ele'': Agnaldo Timóteo e famosos lamentam a morte de Cauby Peixoto

Artistas chamam a atenção para sua voz do ídolo, que se casava com todos os estilos

por Walter Sebastião Ana Clara Brant 17/05/2016 08:00
Arquivo EM/D.A Press
(foto: Arquivo EM/D.A Press)
Uma voz que impressionava todos. Dono de presença no palco absolutamente marcante. É assim que artistas se referem a Cauby Peixoto, inclusive aqueles que adotaram estética distinta da que fez a fama do cantor. O guitarrista e compositor Heraldo do Monte, de 81 anos, conta que, ao passar o som durante um evento, viu Cauby entrar no palco. “Parecia um sistema de som 5.1 no teatro. A voz dele era demais”, recorda, referindo-se ao equipamento de alta qualidade sonora.

“Cauby foi meu ídolo maior. Ninguém no Brasil cantou como ele. Professor de todos, tinha voz inigualável. Só Jesus explica”, afirmou Agnaldo Timóteo. Nos anos 1950, quando morava em BH, Agnaldo era chamado de Cauby mineiro. Amigo do artista, ele elogia a beleza e o romantismo de seu repertório.

Agnaldo Timóteo conta que Cauby era discreto, circunspecto e muito simples. Sempre falava baixo. “Ele nunca foi de contrariar concepções, era artista especial. Levou a vida no diapasão da diplomacia”, garante o mineiro. “Meu sentimento é de perda e de amor a Deus por tê-lo levado para junto dele.”

Eduardo Dusek diz que Cauby representa o samba-canção, o rádio, os anos 1950 e a tradição dos grandes cantores. “Ele tem uma voz dourada, um lustre de cristal inigualável”, compara o compositor, com a autoridade de quem teve a música Não explique (parceria com Luiz Antônio de Cássio) gravada pelo amigo. “Era dono de um estilo brilhante, exacerbado, extremamente musical”, acrescenta.

Certa vez, Cauby estava na plateia de um show de Dusek. O público pediu que os dois cantassem juntos. “Ele disse que não se lembrava da música, eu respondi que soprava. Então, o que soprava no ouvido dele saía outra coisa, muito bem colocada. Mesmo sem saber a letra, a interpretação era perfeita, um fenômeno. Cauby foi uma joia rara”, conclui.

AMIZADE Parceira de longa data do cantor, Ângela Maria, de 87, chorou muito e começou a gritar ao saber da morte dele. O último show da dupla foi realizado no dia 3, no Rio de Janeiro. “São 67 anos de amizade. Não perdi um amigo, perdi um irmão. Não esperava que fosse tão cedo, esperava continuar por muitos e muitos anos ao lado dele. Ele era mais alegre no palco. Fora do palco, era mais calado. Falava pouco, mas falava bem. Não falava mal de ninguém. Não abria a boca para achar defeito em ninguém. Para ele, todas as pessoas eram ótimas. Era um ser humano fora de série”, elogiou a cantora, ao chegar ao velório do amigo.

Nancy Lara, empresária do cantor, informou que ele deixou um disco inédito, que será lançado até o fim do ano.

CAETANO No Instagram, Caetano Veloso declarou: “Cauby é uma das mais lindas vozes que o Brasil já ouviu. Ele tem uma musicalidade natural, espontânea, e uma personalidade que o torna uma das pessoas mais queridas da MPB.” A página de Chico Buarque no Facebook trouxe vídeo de Cauby interpretando Bastidores, que o compositor fez para ele.

Diretor do documentário Cauby – Começaria tudo outra vez, Nelson Hoineff disse que o Brasil perdeu um artista especial. “Jamais iremos conhecer igual”, lamentou. “Cada segundo com Cauby foi eterno. Ficamos todos mais pobres sem Cauby. Podemos esperar 100 anos, mil anos, mas não voltaremos a ver um intérprete brasileiro como ele. Que lá de cima, Cauby cuide de nossa orfandade”, afirmou.

Maria Rita, filha de Elis Regina, comentou nas redes sociais: “Arrasada com essa notícia… Não está fácil não hein...”. Daniela Mercury lembrou “a voz inconfundível, linda, grave, doce e poderosa que enfeitou nossa vida por tantas décadas”. Guilherme Arantes postou: “Vai-se um gênio”. O cantor Serguei tuitou: “Cauby Peixoto se foi. Hoje é dia de fazer a dança da libélula elétrica ao som de Conceição. RIP, querido”. (Com agências)

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