'Crucificados pelo Sistema' é relançado pelo Ratos de Porão

"É um disco comemorativo de 30 anos. É o Crucificados, só que em uma capa luxuosa, preta e em alto relevo%u2026", conta João Gordo

por Agência Estado 07/03/2016 10:57
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(foto: Reprodução / Internet)
O punk paulista tem alguns marcos em sua história: a compilação Grito Suburbano, em 1982, com as bandas Cólera, Inocentes e Olho Seco, é a primeira gravação do gênero e inicia os registros musicais. O Começo do Fim do Mundo, no Sesc Pompeia, idealizado por Antônio Bivar e Antônio Carlos Calegari, é o primeiro grande festival e caracteriza a amplificação do movimento, mas também o aumento das brigas entre gangues e de uma cobertura midiática sensacionalista dos jovens que andavam de coturno e cabelo espetado. Crucificados pelo Sistema (1984), do Ratos de Porão, é o primeiro disco inteiro de uma única banda - antes dele, havia apenas compilações e compactos - mas também coincide com o final desta primeira fase do movimento.

"Quando o disco foi lançado, já não havia mais movimento punk. Acabou em briga, as bandas acabaram, outras ficaram mais pop. Até eu saí do Ratos", diz João Gordo, vocalista da banda. Eles ainda procuravam uma identidade no começo da carreira. A mistura de influências do punk americano e europeu e um pedal de distorção deram a sonoridade para músicas que já eram ensaiadas constantemente. Na hora de gravar, o produtor Fábio Sampaio avisa que os custos para um compacto ou LP seriam os mesmos. E foi assim que surgiu o primeiro álbum punk da América Latina.

O som já se aproximava do hardcore, o que alienou muitos dos puristas da época. "Aquele pé de galinha na capa, a gente começou a ser chamado de traidor ali", explica João, fazendo referência à bandeira pelo desarmamento nuclear adotado como símbolo pacifista dos hippies nos anos 1960, e que era parte da arte do disco.

Desde então, a banda anda em uma linha fina entre a idolatria e a acusação. Uma pesquisa rápida na internet é suficiente para encontrar versões das mais diversas e esquisitas de Crucificados pelo Sistema. A mais famosa delas é do Sepultura, mas até artistas japoneses aparecem fazendo covers em português. O disco com tiragem de 600 cópias e sub-apreciado na época, chega a custar R$ 3 mil em sites de venda de vinis.

"Esse disco era para ser lançado em 2014, mas, como as coisas demoram, está saindo agora. É um disco comemorativo de 30 anos. É o Crucificados, só que em uma capa luxuosa, preta e em alto relevo… cheia de frescura e de brinde vem esse compacto que foi o show no Napalm."

O compacto é também o registro de um dos poucos shows da formação clássica e o fim de uma era. Alguns dos punks trabalhavam na casa noturna do centro de São Paulo, que, para compensar o baixo salário, prometia palco aberto a eles um domingo por mês. O mesmo Fábio Sampaio, que bancou Crucificados pelo Sistema, gravou a apresentação do Ratos de Porão, pouco antes de entrar em estúdio, e dos Inocentes, já sem Ariel Uliana e com Clemente nos vocais.

Hoje, o Ratos de Porão é uma das bandas nacionais mais reconhecidas lá fora, mas quem quiser ouvir o som dos caras ao vivo provavelmente terá que viajar para São Paulo. "A gente é uma banda que mora longe e eu não tenho o mesmo vigor. De uns tempos para cá começou o negócio de ser banda grande, mas eu já estou cansado para fazer turnê longa", diz João Gordo. Sorte dos paulistas.

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