Compositores de hits de Anitta e Ludmilla se mantêm longe dos holofotes

Campeões de arrecadação de direitos autorais, eles desfrutam dos benefícios de fazer sucesso profissional longe da fama e do assédio

por Ana Clara Brant 12/02/2016 08:00

ACERVO PESSOAL
O compositor Bruno Caliman, campeão de arrecadação de 2015 e dono do estilo "calimanismo" (foto: ACERVO PESSOAL)

Provavelmente, você não conhece Bruno Caliman, Umberto Tavares e Jefferson Jr., mas certamente já ouviu algumas de suas canções. Atuando no backstage, esses compositores figuram na lista dos autores que mais receberam direitos autorais no Brasil em 2015.

“Por essência, a função do compositor já é de bastidor. O intérprete leva todo o mérito. Mas não vejo isso como um problema. Quem tem que fazer sucesso é a música, não eu”, afirma o carioca Umberto Tavares, de 37 anos, responsável por sucessos do pagode e do funk como O baile todo (Só as cachorras/As preparadas/As popozudas/O baile todo), que levou ao estrelato o grupo Bonde do Tigrão; Bang (Vem na maldade, com vontade/Chega, encosta em mim/Hoje eu quero e você sabe que eu gosto assim), gravado por Anitta; Hoje (Hoje, é hoje, é hoje, é hoje!/Hoje eu tenho uma proposta/A gente se embola/E perde a linha a noite toda), que estourou na voz de Ludmilla; Reinventar (Sem tua metade/Sou tão imperfeito/Tudo tem um jeito, coração), lançado por Belo; e Adoleta (Não quero mais brincar, brincar de adoleta/Lê peti peti polá, lê café com chocolát), interpretado por Kelly Key.

No ranking divulgado no fim de janeiro pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o campeão é Bruno Caliman, de 39 anos. Baiano radicado no Espírito Santo, ele foi o compositor mais tocado nas rádios e nas casas de diversão (boates) em 2015 e também está entre os que mais ganharam dinheiro nos segmentos shows, músicas ao vivo (bares, restaurantes e churrascarias) e sonorização ambiental.

Também de Caliman, o hit sertanejo Escreve aí (Entro no meu carro/Abro o vidro/E antes de ir embora eu te digo/Olha aqui, ainda vou te esquecer... Escreve aí), gravado por Luan Santana, foi a música mais executada nas rádios brasileiras no ano passado. Em 2014, o compositor ficou em 1º lugar com Domingo de manhã (Eu nem sei/O que faria nesse inverno/Qualquer coisa que não fosse com você/Me causaria tédio), gravado por Marcos & Belutti.

“O que me dá mais orgulho e me deixa feliz é que não sou cantor; apenas autor. Se eu divulgasse as minhas canções, seria mais fácil, mas consegui essa proeza sem estar nos grandes centros, sem pertencer a uma grande gravadora”, diz Caliman, presente no rol dos autores que mais arrecadam no Ecad desde 2007.

A primeira de suas composições que estourou foi Beber, cair e levantar (Beber, cair e levantar. Beber!, cair e levantar! Beber, cair!). Pouco tempo depois, veio Locutor, que explodiu com Luan Santana. Foi ali que o baiano passou a ser conhecido no meio sertanejo e a ser gravado por outros representantes do gênero, sobretudo os da nova geração, como Michel Teló e Gusttavo Lima.

“Com o passar do tempo, fui criando um estilo próprio, que muita gente apelidou de ‘calimanismo’. Minhas músicas têm expressões mais autênticas e coloquiais, como ‘velhinha gagá’ em Te esperando, gravada pelo Luan. Crio canções mais modernas e que abordam o cotidiano das pessoas, sobretudo da juventude”, diz.

CAMARO Foi Fiorino (De Land Rover é fácil, é mole é lindo/Quero ver jogar a gata no fundo da Fiorino) que abriu definitivamente as portas para ele. Com o sucesso da composição, alguns músicos encomendaram outra que falasse de carro. Assim surgia Camaro amarelo (E agora eu fiquei doce igual caramelo/Tô tirando onda de Camaro amarelo) – esta em parceria com outros autores – e que deu fama aos sertanejos Munhoz & Mariano.

Certa vez, quando cortava o cabelo num salão do interior da Bahia, o barbeiro comentou: “Vocês viram no Domingão do Faustão que aquela Camaro amarelo foi eleita a música do ano? Como pode? Por isso que este país não vai para a frente”. O compositor nem esboçou reação. “Deixei ele falar. Preferi ficar quieto, até porque estava com a tesoura afiada na mão. Eu é que não ia me arriscar”, brinca.

Em outra ocasião, ele foi barrado num camarote justamente na hora em que estava tocando Camaro... “Cheguei a falar que tinha feito aquela música, mas não teve jeito.” Ele diz não se importar com essas situações e assegura: nunca procurou a fama, mas o reconhecimento. “Gosto de preservar minha intimidade e privacidade”, afirma.

Outro que não liga para o anonimato é o compositor e produtor carioca Jefferson Jr., de 30, parceiro de Umberto Tavares em muitas composições e na gravadora, estúdio e editora U.M. Music, que também conta com o compositor Mãozinha. “Tenho uma vida bacana. Consigo pagar minhas contas. Essa coisa de ficar mais no bastidor te ajuda a ir ao restaurante, ao supermercado, não tem tanto assédio. Sempre fui um cara mais discreto. A gente ganha muito menos do que o artista, mas paz de espírito não tem preço”, diz Jefferson, que aprendeu a preservar sua intimidade com a mãe, que é irmã e backing vocal da cantora Alcione.

SINCERIDADE  “Conheço os dois lados. O da minha tia, que é uma vida de estrela, que admiro demais e não recrimino, e o da minha mãe, que prefere ficar mais na dela. Foi (por) esse (caminho) que optei.” Por não ser conhecido, Jefferson acaba ouvindo opiniões bem sinceras com relação à sua obra. A maior parte, segundo ele, é favorável. “Vira e mexe, estou em algum lugar e, quando toca alguma música minha, ouço comentários de gente elogiando. Isso é bem legal, é genuíno, porque a pessoa não sabe que eu sou o autor”, conta.

Um dos casos mais peculiares ocorreu quando ele foi tirar o visto para os EUA. A entrevistadora norte-americana analisou o Imposto de Renda de Jefferson Jr. e perguntou de que ele vivia. “Falei que era compositor. Ela me perguntou que música tinha feito. Comentei que a mais recente era Mais fácil, que ganhou uma versão em inglês, Easier, gravada pelo Sorriso Maroto com participação do  norte-americano Brian Mcknight. Ela contou que adorava o Brian e me deu o visto na hora”, diverte-se.

Tanto Umberto quanto Jefferson estão no ranking dos principais arrecadadores do Ecad, com suas composições gravadas por artistas como Anitta, Belo e Ludmilla. “A gente tem criado para cantores com muito apelo popular. A expectativa para este ano é boa também, porque produzimos e compusemos para o Nego do Borel, tem um novo disco da Ludmilla pintando por aí e a própria Anitta ainda tem músicas nossas para divulgar. A gente não pode se queixar.”

SEM CRISE

Apesar de 2015 ter sido um ano de crise, o setor de direitos autorais de execução pública de música comemora os ótimos resultados. No total, o Ecad distribuiu R$ 771,7 milhões a 155.399 titulares de música (compositores, intérpretes, músicos, editores e produtores fonográficos) e associações. Um valor quase 10% acima da meta estipulada pela instituição para o ano. Do total distribuído, 68% foram repassados para o repertório nacional.



Segmento shows - compositores e músicos que mais arrecadaram em 2015 segundo Ecad:
1. Sorocaba
2. Roberto Carlos
3. Dave Grohl
4. Marcelo Camelo
5. Erasmo Carlos
6. Lulu Santos
7. Caetano Veloso
8. Nando Reis
9. Tim Maia
10. Herbert Vianna
11. Bruno Caliman
12. Jorge Ben Jor
13. Rodrigo Amarante
14. Dorgival Dantas
15. Jorge (cantor da dupla com Matheus)
16. Carlinhos Brown
17. Gilberto Gil
18. Victor Chaves
19. Magno Santana
20. Matheus (cantor da dupla com Kauan)


Segmento rádio - compositores e músicos que mais arrecadaram em 2015 segundo Ecad:

1. Bruno Caliman
2. Anderson Freire
3. Roberto Carlos
4. Sorocaba
5. Nando Reis
6. Victor Chaves
7. Erasmo Carlos
8. Umberto Tavares
9. Marília Mendonça
10. Juliano Tchula
11. César Augusto
12. Jefferson Junior
13. Solange de Cesar
14. Caetano Veloso
15. Lulu Santos
16. Djavan
17. Ray (cantor da dupla com Renan)
18. Zezé Di Camargo
19. Herbert Vianna
20. Paula Fernandes

Segmento música ao vivo em bares, restaurantes e churrascarias - Compositores e músicos que mais arrecadaram em 2015 segundo Ecad:

1. Djavan
2. Lulu Santos
3. Renato Russo
4. Caetano Veloso
5. Nando Reis
6. Herbert Vianna
7. Zé Ramalho
8. Bruno Caliman
9. Roberto Carlos
10. Tim Maia
11. Alceu Valença
12. Vinícius de Moraes
13. Allê Barbosa
14. Chico Buarque
15. Gilberto Gil
16. Jorge Ben Jor
17. Rafael (cantor e autor de músicas para Cristiano Araújo e Wesley Safadão)
18. Victor Chaves
19. Gonzagão
20. Erasmo Carlos

Segmento casas de festas - Compositores e músicos que mais arrecadaram em 2015 segundo Ecad:

1. Yorrana Plinta
2. Marcos Luporini
3. João Walter Plinta
4. Anitta
5. Vanessa Alves
6. Michael Sullivan
7. Paulo Massadas
8. Miguel
9. Dennis Dj
10. Arnaldo Saccomani
11. Calvin Harris
12. Pharrell
13. Filipe Escandurras
14. Magno Santana
15. Naldo Benny
16. Djavan
17. Umberto Tavares
18. Tim Maia
19. Marcelo Ferreira Menezes
20. Jefferson Junior

Segmento sonorização ambiental - Compositores e músicos que mais arrecadaram em 2015 segundo Ecad:

1. Nando Reis
2. Lulu Santos
3. Herbert Vianna
4. Victor Chaves
5. Djavan
6. Samuel Rosa
7. Sorocaba
8. Caetano Veloso
9. Gilberto Gil
10. Vanessa da Mata
11. Jack Johnson
12. Jorge Ben Jor
13. Ryan Tedder
14. Calvin Harris
15. Max Martin
16. Pharrell
17. Marisa Monte
18. Bruno Caliman
19. Arnaldo Antunes
20. Renato Russo

Segmento casas de diversão (boates) - Compositores e músicos que mais arrecadaram em 2015 segundo Ecad:

1. Bruno Caliman
2. Dennis Dj
3. Dorgival Dantas
4. Henrique Tavares
5. Calvin Harris
6. Magno Santana
7. Rafael
8. Marília Mendonça
9. Allê Barbosa
10. Filipe Escandurras
11. Ronny dos Teclados
12. Renato Russo
13. Sorocaba
14. Jorge Ben Jor
15. Thales Lessa
16. Samuel Deolli
17. Juliano Tchula
18. Tiago Doidão
19. Tim Maia
20. Juliano (cantor da dupla com Henrique)

As músicas mais tocadas em shows no Brasil em 2015, segundo o Ecad:

1. "Lepo Lepo" (Magno Santana/Filipe Escandurras)
2. "Maus Bocados" (Gerson Gabriel/Rafael/Bruno Varajão)
3. "Jeito Carinhoso" (Allê Barbosa)
4. "Domingo de Manhã" (Bruno Caliman)
5. "Porque Homem Não Chora" (Ronny dos Teclados)
6. "Gordinho Gostoso" (Dj Ivis)
7. "Até Você Voltar" (Juliano Tchula/Marília Mendonça)
8. "Não tô Valendo Nada" (Henrique Tavares/Juliano)
9. "Logo Eu" (Samuel Deolli/Filipe Labret)
10. "Fui" (Fabio O'Brian/Pablo/Magno Santana/Filipe Escandurras)

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