M.I.A. defende refugiados sírios e compra briga com gigante do futebol

Paris Saint-Germain teria exigido reparação depois que cantora usou camisa do time com a frase ''Fly Pirates'' no vídeo de 'Borders'

por Bossuet Alvim 11/01/2016 16:30

 

Em um barco lotado de homens árabes e posando em frente às grades de uma fronteira, M.I.A. canta sua mensagem pró-refugiados no clipe de Borders. Enquanto dispara versos que denunciam a crise migratória na Europa, a artista britânica veste a réplica da camisa oficial do Paris Saint-Germain, em que a frase da companhia aérea patrocinadora — "Fly Emirates" — foi trocada por "Fly Pirates". O voo com os piratas, contudo, pode ter incomodado o time de futebol francês. Nesta segunda-feira, 11, a cantora divulgou no Twitter uma carta, supostamente enviada por representante do clube parisiense, que exige a retirada do vídeo do ar.

 

Apesar de a alfinetada de M.I.A. ter endereço certeiro — as autoridades e a parcela da população europeia que se posicionam contra o abrigo aos estrangeiros —, a polêmica respingou no gigante dos esportes. O texto atribuído à equipe do PSG menciona "a desagradável surpresa de descobrir que a cantora, neste vídeo, aparece duas vezes usando a camiseta oficial de nosso time", enfatizando a alteração do slogan da Emirates Airlines, empresa fundada nos Emirados Árabes Unidos. "Mais do que surpresos, nós simplesmente não entendemos por que estamos associados a tal denúncia por meio de nossa logo e da camiseta oficial de nossos jogadores", segue a carta.

Twitter/M.I.A./Reprodução
''Se tivesse uma Torre Eiffel na camiseta seria considerado apoio, imagino'', ironizou cantora (foto: Twitter/M.I.A./Reprodução)
O texto enumera algumas conquistas esportivas e cita a doação de um milhão de euros feita pelo PSG a uma organização de assistência a refugiados na França. A equipe estaria interessada no "ressarcimento dos danos sofridos" por parte de M.I.A. A assessoria de imprensa do clube parisiense ainda não se pronunciou oficialmente a respeito da publicação.

 

Depois de divulgar o material atribuído ao time, M.I.A. usou as redes sociais para contra-argumentar. "O PSG quer derrubar o vídeo de Borders dentro de 24 horas por causa desta camiseta que eu comprei em uma escala no Qatar, quando viajava para gravar o clipe. Eles não querem ser associados a pessoas que não são privilegiadas, mas mesmo assim mantêm jogadores que são imigrantes de segunda geração", escreveu no Instagram.

 

Pelo Twitter, a inglesa foi mais ácida. "Borders foi lançado no dia da cerimônia do Paris Memorial para as vítimas do ataque a Paris. Se tivesse uma Torre Eiffel na camiseta seria considerado apoio, imagino", ironizou. "Quando faço vídeos, acabo entrando em listas de inimigos, e não nas listas de melhores do ano. Por que será?", questionou a cantora.

 

M.I.A. relembrou sua disputa pública com a Liga Nacional de Futebol Americano dos EUA (NFL). Em 2012, ao participar da performance de Madonna no Super Bowl, a artista mostrou o dedo médio ao público, ao vivo. O gesto obsceno surgiu no palco do evento televisivo mais assistido dos Estados Unidos. "Eu e os esportes — é um lance de amor e ódio. Eles não sabem do que houve entre a NFL e eu?", brincou.

 

A cantora foi processada pela liga norte-americana, que exigiu a indenização de US$ 16 milhões. Um acordo foi fechado fora dos tribunais. Em negociação secreta.

 

Tributo aos refugiados

Youtube/Reprodução
Refugiados homens são principal alvo de conservadores contrários à oferta de asilo (foto: Youtube/Reprodução)
Lançado em novembro, o clipe de Borders é mais uma das várias mensagens politicamente engajadas de M.I.A. Ao se cercar de jovens árabes, a cantora de origem tamil (etnia do Sri Lanka) faz alusão à situação das pessoas que fogem de países em conflito, como a Síria, e buscam abrigo em nações do Hemisfério Norte.

 

Os jovens rapazes refugiados do vídeo são justamente os cidadãos mais discriminados por conservadores como o presidenciável norte-americano Donald Trump, que chegou a afirmar, em discurso, que eles agem como "cavalo de Troia" nos países que lhes oferecem abrigo, conduzindo ataques terroristas.

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou que, até o ano passado, mais de 4,2 milhões de refugiados sírios buscaram asilo em outros países. O perfil de metade desse grupo revela que 50,5% são mulheres e 49,7% homens. Apenas um quarto destes têm de 18 a 59 anos.

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