Terceiro disco de Silva volta ao pop

Júpiter fala de amor e enfatiza canções mais diretas, além de buscar ampliar o público

por Shirley Pacelli 10/01/2016 06:00
Divulgação
Silva tem produção autoral e conta com a parceria, nos arranjos e letras, do irmão Lucas (foto: Divulgação)
As declarações rasgadas de paixão e as dúvidas mais banais de um relacionamento estão lá, mas não faça confusão: Júpiter é um disco de amor, não romântico. Quem esclarece é Silva, cantor, compositor e multi-instrumentista capixaba, dono da voz e produção das 11 faixas minimalistas do novo álbum de estúdio. “O disco fala bastante de amor, mas de formas indiretas. Fala da liberdade. Não é só música melosa”, explica o cantor.

Depois de Claridão (2012) e Vista para o mar (2014), trabalhos “bem etéreos”, Júpiter traz leveza que faz viajar. A novidade, lançada em dezembro, tem proposta mais pop, com beats e arranjos R&B. Silva conta que durante a produção do disco voltou a ouvir canções que falavam de amor, como as músicas de Roberto Carlos e Tim Maia. Além disso, estava em uma ótima fase pessoal. “Tudo isso refletiu”, conclui ele.

Os sintetizadores, elemento marcante do trabalho do artista, ainda estão lá. Mas o terceiro álbum traz músicas que vão direto ao ponto, numa produção mais enxuta que valoriza a voz. “Em 2014, fui para o Japão em um evento em Tóquio. Ouvi muita música experimental. E chegou uma hora em que cansei. Está legal, mas quero a velha e boa música simples”, lembra Silva.

A fase mais pop do multi-instrumentista foi tanto transformação natural do seu trabalho quanto algo pensado para atingir um público maior – sair de nichos. “O grande desafio de quem produz e compõe é fazer músicas que as pessoas queiram ouvir, se emocionem com aquilo”, diz. O desafio se torna ainda maior por causa de seu processo de produção, muito autoral. “Não tem essa ‘eu sou difícil, chique. Só grupo seleto que gosta de mim’. É um trabalho democrático”, completa.

Para Silva, a mudança constante é uma necessidade. A primeira produção veio aos 23 anos, que completou 27. “É normal cansar do que se vem fazendo. Isso você pode ter certeza: nunca vai ouvir o mesmo Silva em todos os discos. Se for para ser o mesmo, prefiro não fazer o disco”, ressalta.

SAÍDA AO TÉDIO

O título do CD, homônimo à faixa-single, é uma “viagem”, brinca Silva. Desde a escola, o cantor sempre adorou astronomia. Música erudita fez parte da sua infância, sendo a Sinfonia 41– Júpiter, de Mozart, a sua predileta. No horóscopo chinês, advinhem qual o planeta regente do cantor?

“Comecei a viajar muito. Fui para vários lugares: Portugal, Japão e Estados Unidos. Fiquei incomodado com o efeito globalização – chegar num lugar completamente diferente e ver as pessoas padronizadas. Jeito parecido de se comportar, mesmas bandas”, conta. Assim, ao citar outro mundo, ele propõe uma saída ao tédio. “Júpiter pode ser começar de novo/ Se por lá não houver esse mesmo povo”. A faixa de abertura ainda faz um elogio ao que é básico, à canção. “A música tem apenas verso e refrão, introdução mais sucinta”, acrescenta Silva.

Além de Júpiter, outra música-aposta de Silva é Feliz e ponto, que traz uma pegada bossa nova e R&B, com melodia simples. “Sempre tive vontade de fazer algo assim, bem pop. Agradou às pessoas de outros segmentos”, conta. Já Notícias é descrita por ele como uma música forte. “É, talvez, a minha predileta. A letra me representa muito”, destaca o cantor. Lo é a única faixa instrumental do disco, que traz ainda uma versão de Marina, de Dorival Caymmi.

A canção de Caymmi, gravada em 1947, é uma das músicas brasileiras preferidas de Silva. “Tinha um medo de mexer em Marina, porque é um clássico importantíssimo. Mas, na minha cabeça, uma boa forma de prestar homenagem é fazer do seu jeito – não tentar imitar a obra original. Preocupei-me em fazer um arranjo mais contemporâneo, com o qual me identifiquei. Fiquei feliz”, ressalta o cantor.

Todas as letras e arranjos foram feitos por Silva em parceria com o irmão Lucas. “Ele sempre foi muito bom. Tem uma bagagem de literatura grande. Sempre leu mais que eu. Era o meu guru: ‘Lê isso, lê aquilo’. Chego com ideia de melodia e ele escreve a letra em meia hora. Tenho sorte de ter alguém tão próximo e que me entenda tanto”, diz.

Ano de parcerias


O ano que passou foi de encontros para Silva. Em junho de 2015, lançou o single Noite com Lulu Santos e o rapper Don L. O cantor capixaba viu uma declaração de Lulu elogiando o seu trabalho e “na cara de pau” entrou em contato e sugeriu a parceria. “Ele me respondeu 20 minutos depois, supercarinhoso. Fiquei honrado”, conta. Don L era um artista que Silva já admirava por ter uma maneira diferenciada de fazer rap. Turnê com Gal Costa, produção de música no último disco de Tom Zé, Vira lata na via láctea, e show em homenagem a Marisa Monte, que virou parceira de composições, completaram 2015. Silva já tem show previsto em BH em 18 de março, na Autêntica.

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