Edgar Scandurra experimenta parceria com o vocal delicado de Silvia Tape em 'Est'

Depois de tocar em várias bandas por 35 anos músico aposta, junto à cantora, em faixas que "adoraria ouvir no rádio"

06/01/2016 08:00
Juliana R/Divulgação
O guitarrista Edgard Scandurra e a cantora Silvia Tape: voz sussurrada e guitarra psicodélica no álbum 'Est' (foto: Juliana R/Divulgação)
Edgard Scandurra perde a conta ao enumerar as bandas de que já participou. Nos anos 1980, formou o grupo de punk-rock Subúrbio (que deu origem ao Ira!), tocou bateria nas Mercenárias, integrou o Cabine C, Smack e o Ultraje a Rigor. Deu início à carreira solo com o álbum Amigos invisíveis. Na década seguinte, entre um disco e outro do Ira!, o guitarrista criou o projeto Benzina, de música eletrônica.


Vieram os anos 2000 e, com eles, projetos diversos. Fez parte da banda de Arnaldo Antunes e gravou com ele o álbum em duo A curva da cintura. Foi um dos criadores da banda-projeto dedicada ao público infantil Pequeno Cidadão. Também tocou (e gravou) com Karina Buhr e Bárbara Eugênia.

Ao citar todos os projetos, o guitarrista acredita ter esquecido de algum. Compreensível, ainda mais porque está envolvido com nova formação. Leva o nome de Est o álbum que concluiu no final do ano passado com a cantora Silvia Tape. Os dois se encontraram em 2012. Na época, ele havia começado a reunir uma série de canções registradas de forma caseira, por meio do aplicativo Garage Band.

Scandurra mandou músicas, Silvia fez a voz, escreveu algumas letras. A dupla chegou a 10 canções, lançadas primeiramente em formato digital pelo 180 Selo Fonográfico. Este mês sai o álbum físico. E, para março, estão prometidas edições em vinil e até mesmo fita cassete.

FEMININO Scandurra chama dream pop a sonoridade das canções com Silvia. “Ao pé da letra, pop dos sonhos, algo que adoraria ouvir nas rádios”, comenta. São músicas etéreas, com um vocal delicado, por vezes sussurrado. A guitarra tem um pé na psicodelia. Ainda que a dupla assuma quase tudo, há aqui e ali uma participação, caso de Curumim (que gravou a bateria em duas canções) e do tecladista André Lima, coprodutor do álbum.

Depois de trabalhar com algumas cantoras, Scandurra queria registrar suas canções com uma voz feminina. “Nos últimos anos, as mulheres tomaram a frente na música pop. Tulipa, Céu, na verdade, desde a Marisa Monte há uma leva de meninas talentosas. Queria me encontrar neste caminho e a Silvia tem um pensamento ligado ao meu, do pós-punk, uma coisa mais underground”, acrescenta.

Ele acredita que o álbum Est pode levá-lo a outras praias. “Sinto um forte potencial para a gente tocar fora do país, um sonho que tenho desde criança.” Na opinião dele, no Brasil é difícil apresentar um trabalho que seja totalmente diferente daquele que o consagrou. “Por causa do sucesso do Ira!, com 30 anos de carreira, acabo ficando mais preso. Lá fora, o público vai me ver como um novo artista, não vai levar em conta que toco desde 1981, que tinha música em novela em 1986. É a novidade que me alimenta.”

PALCO A fala do guitarrista bate de frente com o que tem feito nos dois últimos anos. Depois de sete anos de litígio, Scandurra e Nasi fizeram as pazes e retornaram aos palcos com o Ira! em 2013, numa série de shows retrospectivos. “Hoje estamos com outra formação (o baterista André Jung e o baixista Ricardo Gaspa nunca foram cogitados para voltar a tocar na banda) e o momento do palco é muito bonito, prazeroso. Mas tenho que ter horizontes diferentes”, assume.

O reencontro com Nasi pode gerar um álbum de inéditas, mas tudo, por ora, está muito embrionário. Scandurra tem quatro músicas compostas, Nasi passou uma letra para ele, ainda não musicada. E só. “Podemos ter um novo registro desde que não seja revisitar as músicas antigas. Não há sentido em ter uma nova versão de Tolices ou de Mudança de comportamento. Se eu gravasse, isso viria na contramão dessa vontade de me reinventar, ficaria com um caráter muito estampado de que queríamos vender disco e fazer show. Só volto para o estúdio se as músicas novas forem tão boas quanto as que fizemos no passado.”

Tampouco há uma agenda para isso. “Nossa carreira é nosso maior rival. Não posso gravar um disco que seja só um apanhado de canções novas, tem que ter um conceito. O tempo traz mais autocrítica, você se torna muito exigente com você mesmo.”

Scandurra se autodenomina “operário do rock”. “Meu cansaço (de show) dura no máximo duas semanas. Logo vem uma coceira de ponte aérea, poltrona de ônibus, quarto de hotel e passagem de som. Nos anos 1990, me escondia na hora de passar o som. Agora faço questão de ir, tocar e improvisar com a banda.” Música, para ele, é de segunda a segunda.

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