Centenário de Sinatra impulsiona CDs e livros sobre sua trajetória

Cantor completaria, neste sábado, 100 anos de vida

por Eduardo Tristão Girão 12/12/2015 08:00
ARQUIVO O CRUZEIRO
(foto: ARQUIVO O CRUZEIRO)
“Ele é o campeão que fez a volta triunfal, o homem que tinha tudo, perdeu tudo e recuperou tudo, fazendo o que poucos homens são capazes de fazer: destruiu sua vida, deixou sua família, rompeu com tudo que lhe era familiar, aprendendo nesse processo que a única maneira de conservar uma mulher é não tentar segurá-la.”

Assim o jornalista norte-americano Gay Talese resume o cantor Frank Sinatra, cujo centenário de nascimento é comemorado hoje, no antológico perfil que escreveu sobre ele, sem que tivesse conseguido entrevistá-lo, em 1966.

Naquela época, o artista já era um cinquentão e gozava de grande popularidade. Era o ano de Strangers in the night, um dos seus grandes sucessos. Havia lançado muitos discos, atuado em muitos filmes, ganhou muitos prêmios e fundou sua própria gravadora, a Reprise. Paralelamente, o filho de italianos que nunca aprendeu a ler partitura havia experimentado momentos de baixa em sua carreira e entrava no segundo casamento, com a atriz Mia Farrow. Aliás, os relacionamentos com suas esposas sempre ajudaram a trazer instabilidade para sua vida.

Divórcios o colocaram em dificuldade financeira e, mesmo somados às plateias quase vazias que encarou sobretudo nos anos 1950, não o fizeram desistir da carreira como cantor. Foi para Las Vegas em 1951, onde passou a se apresentar regularmente em hotéis, e, no ano seguinte, foi rejeitado por duas grandes gravadoras. Insistiu: encheu sua agenda de compromissos, entre shows, gravações e papéis em filmes, até assinar novo contrato com a Capitol.

Foi por essa gravadora que lançou, em 1959, seu disco de maior sucesso, Come dance with me!, que passou mais de dois anos em rankings da revista Billboard e rendeu três Grammy. Assim, Sinatra encerrou a década que marcou seu renascimento artístico e em 1960 fundou a Reprise, hoje controlada pela gigante Warner. Não apenas seus discos nasceram lá, mas também dos artistas Jimi Hendrix, Neil Young e Frank Zappa.

Sinatra trabalhou até poucos anos antes de sua morte, em 1998. Anunciou a aposentadoria em 1970, mas continuou cantando, convicto de que suas opções ao longo da vida o levaram pelo caminho certo. Não por acaso, registrou em 1969 antológica interpretação de My way, talvez sua canção mais conhecida pelo fãs no mundo inteiro, cujos versos finais cravam: “E agora que as lágrimas cessaram / Acho tão divertido pensar em tudo que fiz / E, se posso dizer, sem timidez / Oh, não, não eu / Fiz do meu jeito”.

SOBREVIVENTE O fazendeiro mineiro Leandro Araújo, que mora em Belo Horizonte, gosta tanto de Frank Sinatra que fará hoje, em sua casa, festa para celebrar o centenário dele. Terá shows, distribuição de livros do ídolo e doses do uísque de que o cantor gostava. E não é só isso: ele tem nada menos que 140 discos de vinil do artista, que gosta de ouvir num cômodo que foi planejado especialmente para isso, com pôsteres, fotos, livros, mais discos e outros materiais sobre Sinatra.

As melhores aquisições da coleção, conta ele, foram feitas este ano, mas nenhum bolachão parece encantá-lo tanto quanto a compilação Ultimate Sinatra, com cerca de 100 músicas. “Não precisa ir atrás de discos antigos, essa coleção é um apanhado completo e está à venda para download. Maravilhosa”, resume. São gravações de 1939 a 1979, todas remasterizadas. “O bom gosto não foi pelo ralo, ainda há esperança. A moçada dos 20 aos 40 está baixando as músicas dele. É um cara que veio e ficou, um sobrevivente”, analisa.

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