Caetano Veloso e Gilberto Gil mostraram intimidade e entrosamento no show de BH

Plateia foi ao Chevrolet Hall para vê-los e ouvi-los, mas que terminou cantando e dançando com os ídolos

por Shirley Pacelli 28/09/2015 08:30

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Leandro Couri/EM/D.A Press
Os clássicos tropicalistas entraram no roteiro, que incluiu composições mais recentes da dupla (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
O frio na espinha e a tremedeira se anunciaram pouco antes da realização de que em breve as cortinas se abririam e se faria história em Belo Horizonte. Como os ânimos e gritinhos já previam, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram ovacionados assim que surgiram no palco. Direto à música, com 'Back in Bahia', a dupla abriu a primeira apresentação em BH da turnê Dois amigos, um século de música.


O show de sábado no Chevrolet Hall começou com 20 minutos de atraso. Tempo de ansiedade, mas considerado tolerável pela plateia de 3.440 fãs que compareceram ao local. Depois de tocarem 'Coração vagabundo', o público explodiu ao som de 'Tropicália', música-símbolo que deu nome ao movimento cultural de 1968.

 

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'Marginália II' e 'É luxo só' ainda vieram antes do “boa-noite” de Caetano e Gil. A cumplicidade entre os fãs e os ídolos dispensou múltiplas interações: a sintonia se dava pelo som, com letras cantadas em uníssono.

Depois de 'É de manhã', Caetano anunciou a novidade: “Nós tocamos uma das músicas mais velhas que compus, entre 1963 e 1964, e agora vamos cantar a mais nova canção desse show. Fizemos quando voltamos para o Brasil”. Começa então o sambinha de 'As camélias do Quilombo do Leblon', que faz um paralelo entre o movimento abolicionista no Brasil e a vida nas colinas de Hebron, na Cisjordânia.

Sob protesto de artistas pró-Palestina, como o ex-Pink Floyd Roger Waters, os compositores se apresentaram em Tel Aviv (Israel) na primeira fase da turnê internacional. A capela, convidando as pessoas às palmas, Caetano chega a erguer o punho durante a execução da música.

Em meio a gritos de “lindo” e “eu te amo”, que foram respondidos com “shiiii” por fãs exaltados, o repertório seguiu ainda com 'Sampa', 'Terra', 'Nine out of ten' e 'Odeio você'. Neste momento, Caetano brilha e assume o protagonismo da cena, enquanto Gil se concentra em dedilhar com maestria o violão.

Composições em espanhol também fizeram parte do repertório: 'Tonada de Luna' e 'Ilena', gravada para o filme 'A flor do meu segredo' (1995), de Pedro Almodóvar, além de 'Come prima' e 'Três palavras', do cubano Osvaldo Farrés.

As atenções se voltam para Gil quando ele canta 'Eu vim da Bahia', 'Drão' e 'Não tenho medo da morte'. Esta última é responsável pelo momento mais intimista da noite. Fez-se silêncio para admirar a tocante performance apenas de voz e batuque no violão. Um sem-noção acha boa ideia bater palmas desritmadas para acompanhá-lo e logo é rechaçado por outros fãs. A luz se apaga, o compositor encerra a canção e um grito de “gênio” ecoa pelo Chevrolet. Impossível não concordar. O povo aplaude “sem dó”.

Aliás, a cada vez que Gil assume os vocais, as palmas do público se tornam mais intensas – como se ainda fosse possível. Em 'Expresso 2222' e 'Toda menina baiana', ele brinca com a plateia, que completa trechos das músicas ou responde aos seus característicos gritinhos.

“Ê Minas Gerais”, disparou Gil antes de 'Andar com fé eu vou', como se agradecesse tamanha intensidade durante a apresentação. Caetano se solta, sai do banco e faz dancinhas e gracejos para o delírio dos presentes. Impossível se conter: as pessoas levantam das arquibancadas e se entregam às batidas, dançando e cantando juntas.

 

O show ensaia seu encerramento com o afoxé 'Filhos de Gandhi', homenagem de Gil a um dos maiores e mais tradicionais blocos de carnaval da Bahia. O bis fica por conta de 'Desde que o samba é samba'.

Aí já não há segurança ou regras de direitos autorais que detenham a euforia coletiva. O público da área VIP, que passou todo o tempo sentado nas estranhas mesas posicionadas na arena, se levanta, empunha o celular e tenta registrar os últimos minutos perto dos seus ídolos. O “plus” ainda conta com 'Domingo no Parque' e 'Luz de tieta'. A histeria faz as arquibancadas tremerem. A dupla sai do palco na sincronia de um compasso de dança.

Mas quem disse que acabou? Caetano e Gil surgem outra vez em cena e cantam 'Leãozinho' diante de uma plateia encantada. Há tempo ainda para o reggae de 'Three little birds'. Aí sim, a dupla se despede, ignorando os pedidos pela execução de 'Odara'. 0h15: duas horas de show que marcaram a vida de quem teve o privilégio (inclusive financeiro) de conferir esse encontro de almas.

EM SINTONIA
A turnê Dois amigos, um século de música encerra o hiato de 21 anos desde a última série de apresentações de Gil e Caetano juntos com o show Tropicália duo. A novidade celebra os 50 anos de carreira de cada um. Os compositores fizeram a primeira etapa no exterior, com 19 datas, passando por Amsterdã, Bruxelas, Londres, Paris, Milão, Barcelona, Madri, Buenos Aires, Montevidéu e Tel Aviv. A apresentação em Israel, desde que foi anunciada, acabou sendo alvo de represálias pelo movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel (BDS), que luta pelo fim da ocupação dos territórios palestinos. Não adiantou. A dupla fez o show prometido em julho. No Brasil, os compositores estiveram em agosto nas cidades de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Em sua passagem por BH, Gil fez questão de agradecer ao público nas redes sociais: “que linda noite, Belô, muito obrigado pelo carinho!”. Da capital mineira, eles seguem para Brasília, Rio de Janeiro e de volta a São Paulo.

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