Saiba por onde anda Guilherme Isnard, vocalista da banda ZERØ

Grupo fez sucesso nos anos de 1980, com hits como 'Formosa' e 'Agora eu sei'

por Daniel Seabra 12/08/2015 14:59

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Rui Mendes / Divulgação
Guilherme Isnard, vocalista da banda ZERØ (foto: Rui Mendes / Divulgação)
Ele se chama Guillaume Achiles Clair Marie Isnard, mas ficou mais conhecido como Guilherme Isnard. Aliás, o filho de pai francês é bem mais lembrado como o vocalista do ZERØ, banda paulista fundada em 1983 e que emplacou quatro grandes hits nos anos 80. Tudo começou quando o músico, recém saído do Voluntários da Pátria, foi convidado a assistir ao ensaio de uma banda de punk jazz, chamada Ultimato.

“O ZERØ não foi uma ideia, foi um acaso. Nos anos 80 eu era um profissional do mundo da moda e, embora já tivesse formado uma banda com o Lobão nos tempos do ginásio, a participação mencionada acima (no Voluntários) foi minha primeira incursão ‘profissional’ na música. Quando percebi o amadorismo, a falta de visão e a infantilidade dominantes no universo do rock oitentista paulistano, perdi a vontade de trocar o certo pelo duvidoso”, diz.

Mas quando entrou em uma loja de discos, em 1982, no Bairro de Pinheiros, tudo mudou. “O dono, Luiz Antônio, insistiu para que eu voltasse a cantar. Argumentei que não vinha de uma boa experiência, mas ele me convenceu a conhecer uma banda de punk jazz chamada Ultimato. Fui ouvir os caras e o som era realmente diferente de qualquer coisa que tivesse escutado. Propus algumas letras e melodias que foram aceitas e assim começou minha jornada com o ZERØ.”

 

 

Segundo ele, na ocasião a cena rock no Brasil, era inexistente. “O que havia era bandas que eram a plateia umas das outras”, brinca. A cena era dominada pelo pop, “e não é a toa que das bandas com conteúdo, o Ultraje a Rigor tenha sido uma das primeiras a gravar. Os executivos não entenderam que a gaiatice deles era de superfície. As coisas continuaram mais ou menos assim até o lançamento do ‘Legião Urbana’, em 1985, e aí tudo mudou.” A Legião, aliás, era das bandas mais próximas do ZERØ, naquele período. “Capital Inicial, Plebe Rude, Legião Urbana, quase todos (de Brasília) se hospedavam em minha casa quando vinham tocar em São Paulo nos primeiros shows que agendei.”

Mas o mundo de Isnard virou ao contrário mesmo quando eles lançaram a segunda canção que tomou o Brasil. “Foi a segunda formação do ZERØ clássico, quando 'Formosa' estourou.” O som do grupo, na ocasião, foi rotulado como pós-punk ou art-rock. “Mas era muito mais complexo que isso, como se pode constatar pelas bandas originadas posteriormente pelos ZERØs originais: o guitarrista Fábio Golfetti e o baterista Cláudio Souzza formaram o psicodélico Violeta de Outono; o guitarrista Nélson Coelho criou os progressivos Sotaque que virou Dialeto; o saxofonista Gilles Edouard integrou-se ao teatral Luni e o baixista Alberto Birger, ao visceral Nau.”

Mas para simplificar, o vocalista explica que “o que é reconhecido pelo grande público como o ‘som do ZERØ’ são as composições da formação clássica, com forte influência do rock progressivo dos anos 70, ornamentada por filigranas neorromânticos. Paradoxalmente, angariamos fãs nessas vertentes e também entre os darks ou góticos, que se identificaram com o niilismo de algumas composições. Resumidamente, diria que o ZERØ é uma banda de rock.”

Ugo Romitti / Divulgação
Banda ZERØ em 1983 (foto: Ugo Romitti / Divulgação)
O FIM Inexplicavelmente, quando estava no auge, o ZERØ decide encerrar as atividades, em 1989. “Foi para preservar a sanidade. Tive que me perguntar se precisava realmente daquilo para ser feliz. Um ‘não’ foi a conclusão da minha arrogância juvenil, aí paramos. Por outro lado, fazia quase dois anos que não compúnhamos nada de novo, isso reforçou a convicção de que nosso assunto terminara”, lembrou. “Não há treino ou preparação possível para enfrentar o sucesso. Numa banda de rock as coisas são ainda mais complicadas. Enquanto o sucesso não chega, todos cooperam para alcançá-lo e quando o objetivo é atingido é justo que cada um sinta-se responsável pelo êxito, mas isso cria uma situação em que uma única banda fica pequena demais para conciliar as expectativas artísticas/econômicas/profissionais de cada indivíduo. O conflito é inevitável.”

Em uma década recheada por boas bandas, com quase tudo sendo novidade no rock nacional, o ZERØ conseguiu emplacar quatro músicas que tocaram em todas as rádios brasileiras, com enorme sucesso: Agora eu Sei (com a participação de Paulo Ricardo, do RPM), Formosa, Quimeras e A Luta e o Prazer. “Hits são o que são: um fenômeno de comunicação de massa e as pessoas esquecem que o rock é contracultura. Nesse sentido, eu tendo a desconfiar do rock no mainstream cultural. Mas ser lembrado por quatro sucessos na década não está nada mal.”

E sobre a década de 80, que insiste em não acabar, Guilherme Isnard tem uma teoria bem interessante. “É preciso abstrair da visão dos 80 como uma década cronológica. O chamado ‘som oitentista’ é um novo sinônimo para música boa, o que extrapola a função do calendário”, diz, analisando o que é feito no Brasil musical atual: “Temos uma enorme quantidade de bandas e artistas compondo coisas muito incríveis e ninguém se dispõe a sair de trás do monitor para assisti-los. Vamos aguardar para ver se o bom desempenho das bandas de rock nos ‘concursos’ das TVs e o ainda tímido retorno do rock ao dial, vai se transformar em audiência. O artista tem que ir onde o povo está, mas nesse momento, o povo não está interessado em rock.”

 

A VOLTA No final dos anos 90, o ZERØ anuncia seu retorno, mas sem grandes perspectivas. “Nossos filhos não tinham como escutar nossas músicas, ninguém mais tinha toca-discos em casa e entendemos que precisávamos gravar um CD”, brinca. Sobre a formação, o vocalista não se arrisca a dizer que exista planos para uma volta oficial. “Parafraseando Luís XIV: O ZERØ sou eu. Mas depois de 30 anos capitaneando essa nave, me arrisco a dizer que não temos mais vigor para enfrentar a estrada de forma consistente. Tenho feito shows com outros músicos e é possível que ainda nos apresentemos em eventos e celebrações como ZERØ, mas nada como uma retomada da carreira da banda.”

Em 2007, Isnard lançou o disco Quinto Elemento (que pode ser conferido no https://myspace.com/bandazero). Seria um trabalho solo. Seria. “Embora não conste nenhuma canção composta com algum ex-membro da banda, por uma questão de ‘oportunidade’, fui aconselhado a assiná-lo como ZERØ. Isso determina que o meu segundo CD solo será o 1°. De qualquer forma, uma nova carreira, no sentido amplo da palavra, é um objetivo meio distante da realidade de um quase sexagenário, pai de duas crianças pequenas e padeiro confeiteiro na região serrana do Rio. Gostaria de apresentar minhas últimas composições aos novos e antigos fãs, mas também não vou morrer de desgosto se não puder fazê-lo.”

NAS GERAIS A ligação de Isnard com Minas vem de longa data, e ele revela uma paixão por um dos grandes trabalhos já produzidos no estado. “Não sei se meu amor pelo Clube da Esquina – que considero o maior disco da história do rock nacional – transparece em minhas composições, mas desde o tempo dos Festivais Rock Brasil, de 1986 e 88, no Mineirinho, que acho que a plateia mineira é a que melhor compreende e mais se identifica com o que tento expressar musicalmente. Compor A Luta e o Prazer, em parceria com o niteroiense Ronaldo Bastos, tão presente nas composições do Clube, foi uma grande honra.”

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