No ano que vem, o compositor, cantor e instrumentista paulista Eduardo Gudin celebra cinco décadas de carreira. Para ir aquecendo os tamborins da festa, acaba de lançar seu 16º disco, 'Eduardo Gudin & Notícias do Brasil 4', o quarto de seu mutante grupo Notícias dum Brasil, atualmente formado pelos cantores Ilana Volcov, Maurício Sant’Anna, Karine Telles e Cezinha, mais os percussionistas Osvaldo Reis, Raphael Moreira, Ewerton de Almeida e Jorginho Cebion.
Com um projeto gráfico interessante, lembrando um jornal impresso, com encarte com letras e ilustração do grupo feito pelo cartunista Paulo Caruso, o CD apresenta 13 composições de diversas épocas, feitas e interpretadas com diversos parceiros, amigos novos e antigos.
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Mais raro ainda, o diálogo com Adoniram Barbosa em Armistício, que fez a letra para Gudin musicar, funciona e traz à memória a persona de Adoniran. A música já havia sido gravada pelo próprio Gudin na década de 1980, mas mantém o frescor.
PARCERIA Mais antiga, dos anos 1960, é No fim das contas, parceria com Paulo Frederico que tem uma abertura antológica: “Já dizia o poeta/ essa vida é uma atriz”. Toquinho canta a primeira parte e divide a autoria de Por que razão?, dramático samba de reencontro, já registrado num DVD do Notícias dum Brasil de 2012. É do mesmo ano a redescoberta de Tempo de espera, com letra de Paulo César Pinheiro, inédita desde os anos 80, com ares da obra-prima da dupla, o LP O importante é que a nossa emoção sobreviva.
Carlinhos Vergueiro é quem divide a autoria de 'Meu delírio', na primeira música feita pelos amigos de outras datas que traz embutida uma sentença que serviria ao próprio samba: “Sei que nasci para viver carnavais”. O arranjo lembra o MPB-4.
Depois da tocante homenagem a um dos ídolos de Gudin, Paulinho Nogueira, 'De todo meu violão' (Maurício Sant’Anna/Gudin), a surpresa da voz do octogenário Carlos Lyra, em forma no dueto do sambossa. O amor e a canção, com raciocínio poético interessante: “Quando o amor/ se transforma em recordação/ se desfaz numa só canção/ infeliz ou feliz demais/ pra canção tanto faz.”
Até aí, o disco já teria justificado sua existência, mas a sequência final é tão inspirada quanto. A figura da moça enigmática que espera a volta de um amor que se foi é retratada em 'Não era assim', com belíssima melodia de Theo de Barros e letra de Gudin.
Com poema de Aldir Blanc na abertura, recitado pelo letrista da faixa, J. C. Costa Neto, 'Outro cais' é dramática, apaixonada e ganha de Aurélie Tyzsblat um solo vocal e uma versão em francês, com acompanhamento da parceira Verioca.
Para fechar bem, vem Ivan Lins com voz, piano, melodia e harmonia de 'Do jeito que você tem', lembrando seus melhores momentos de carreira. E o álbum termina com 'Eu te amo', parceria de Gudin com Fátima Guedes, feita nos anos 1990, que justifica a classificação que Fátima recebeu quando surgiu, de ser uma espécie de Chico Buarque de saias. Um belo e pungente fecho para um disco que merece atenção e a paciência das degustações.