Dez mil pessoas são esperadas em concerto de Nelson Freire em Boa Esperança

Pianista comemora a oportunidade de tocar com a filarmônica

por Ana Clara Brant 01/08/2015 00:13

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Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
(foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )
Em 11 de setembro de 1949, com apenas 5 anos, Nelson José Pinto Freire subiu ao palco do hoje extinto Cine Teatro Brasil, em Boa Esperança, no Sul de Minas, para fazer o primeiro recital de sua vida. No programa, canções executadas no rádio – Quizás, quizás, quizás, La vie en rose, La paloma, Adios muchachos e Danúbio azul. Mesmo tão pequenino, ele encantou os espectadores de sua cidade natal. Considerado o mais aclamado e talentoso pianista brasileiro, Nelson se apresentou em outras ocasiões por lá – a última em 1994, para comemorar seus 50 anos.

Hoje, o pianista, de 70, volta a Boa Esperança para um concerto especial. A partir das 20h, na Praça do Fórum, Nelson terá a companhia da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Entre as 10 mil pessoas esperadas estará um amigo de longa data e “primo afetivo”, como se autodenomina o professor, jornalista e escritor Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza, de 78. “Nossa afinidade é nos dois sentidos. Primeiro, porque sou casado com uma prima dele, a Janice, e segundo porque sempre tivemos uma empatia muito grande”, destaca.

Esta semana, Malheiros Fiuza lançou o livro Nelson Freire, o homem e o artista, na capital mineira. Não se trata de biografia autorizada “e muito menos desautorizada”, como brinca o professor, mas de um álbum de recortes e retratos. As 11 crônicas foram publicadas no Estado de Minas de 1971 a 2004, revelando momentos importantes da trajetória do pianista mineiro. “Fiz uma homenagem ao Nelson, que, pra você ter ideia, conheci antes mesmo da minha esposa. Fui assistir a um concerto dele aos 9 anos, no Teatro Francisco Nunes. Três anos depois, quando já estava namorando a Janice, fui apresentado ao Nelson. Desde então, temos uma ligação muito forte, tanto é que ele vai ficar hospedado em nossa casa em Boa Esperança”, conta Ricardo.

O livro, que será lançado amanhã em Boa Esperança, traz imagens raras, como a do ingresso do primeiro concerto de Nelson Freire em sua terra, fotos de apresentações no exterior e a intimidade com os pais, irmãos, tios e primos. “Todas as vezes em que o Nelson vinha a BH se apresentar, aproveitava a oportunidade para falar do concerto no jornal e sempre contava alguma história e curiosidade sobre ele”, acrescenta.

FÃ Nº 1

Outra que estará em Boa Esperança é a pianista paulista Marta Ziller, de 70, considerada a fã mais dedicada de Nelson. Desde criança ela toca piano. De longe, sempre acompanhou a trajetória do mineiro, até assistir ao documentário de João Moreira Salles (lançado em 2003). “Ali deu pra conhecer a pessoa do Nelson. A maneira como João conduziu foi maravilhosa. Mandei uma carta parabenizando o diretor, que não só me respondeu como mandou uma cópia para o Nelson Freire”, conta. Desde então, Marta passou a colecionar reportagens e fotos do pianista e até decidiu visitar Boa Esperança, onde acabou se tornando próxima de parentes do pianista.

Certo dia, em concerto em Campos do Jordão (SP), uma amiga fez a intermediação. “Ela disse: ‘Nelson, tem uma pessoa ali que é muito tímida, mas é sua maior admiradora e está querendo te conhecer’. E ele não titubeou: ‘Ah, então ela é a Marta’. Ele já sabia a meu respeito através da família e amigos. Isso já tem uns 13 anos. Sempre que ele vem a São Paulo nós nos encontramos. Até recebi um prêmio no lugar dele porque o Nelson não podia estar presente. Foi uma honra, mas fiquei tão nervosa que tive que tomar até floral”, conta Marta.



FILARMÔNICA

É a quarta vez que Nelson Freire se apresenta com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. No último encontro, em março, surgiu a ideia do concerto em Boa Esperança. “Acredito que será a primeira vez que Boa Esperança vai receber um grupo artístico como a Filarmônica”, comenta o maestro Fabio Mechetti. Como o evento foi marcado meio em cima da hora, o regente explica que não daria muito tempo para ensaiar novas peças. Por isso, decidiu-se por uma peça que já está no repertório da orquestra: Concerto para piano nº 4 em sol maior, op. 58, de Beethoven. A Filarmônica interpretará também o Hino Nacional Brasileiro, de Francisco Manuel da Silva; a abertura de O navio fantasma, de Wagner; Valsa das flores, de Tchaikovsky; e a protofonia de O guarani, de Carlos Gomes. “A seleção foi bastante prática, pensando nessa questão de ser uma apresentação em praça pública”, conclui Mechetti.

EM BOA ESPERANÇA
. Hoje – Às 20h, concerto de Nelson Freire e Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, na Praça do Fórum. Entrada franca.

. Amanhã – Às 11h, na Casa de Cultura, lançamento do livro Nelson Freire, a pessoa e o artista, de Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza. Preço: R$ 20, com renda destinada à Santa Casa de Misericórdia e Vila Vicentina de Boa Esperança.

CONSERVATÓRIO
O Conservatório Nelson Freire será reaberto em Boa Esperança. Criado com recursos próprios pelo monsenhor Vitor Arantes, pároco da Matriz de Nossa Senhora das Dores, o espaço funcionou de 1978 a 1984. Depois, foi reaberto de 1997 a 2003. Instalado na Fundação São José, terá capacidade para 100 alunos – 40 são bolsistas: 20 de escolas municipais e 20 do coral da igreja. Eles vão aprender piano, violão, flauta e teclado.

três perguntas para...
Nelson Freire
pianista

O que tem de mais especial em tocar em sua terra, sobretudo 20 anos depois de seu último concerto lá?

O mais especial é fazer um concerto sinfônico, o que nunca houve em Boa Esperança. Sempre foi recital. É a primeira vez com orquestra. A ideia surgiu quando me apresentei em BH, na Sala Minas Gerais, há poucos meses. Já estava com vontade de voltar a tocar na minha terra. Na verdade, nunca perdi as raízes. De cinco em cinco anos costumo ir a Boa Esperança visitar a família e os amigos. É uma experiência única fazer um concerto sinfônico. Ainda mais porque vou apresentar uma obra de Beethoven de que gosto muito. Sem contar que será em praça pública.

Você sente falta de Minas?

É sempre uma emoção rever essas nuvens, esse céu, essa terra vermelha. E a família e os amigos, claro. Mas, graças a Deus, toco bastante em Minas. Vira e mexe estou aqui.

Quais são os planos para este ano?

Estou viajando agora, no princípio do mês, para uma turnê pela Europa e China. Tenho projetos de discos também. Tem muita coisa. E, claro, Minas Gerais, sempre na agenda.

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