Abujamra exibe seu lado bruxo em novo disco

'O homem bruxa' é o quarto álbum solo de André Abujamra e celebra seus 50 anos de idade

por Kiko Ferreira 24/06/2015 11:00

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EDU BARCELLOS/DIVULGAÇÃO
O músico André Abujamra, que lança seu quarto álbum-solo (foto: EDU BARCELLOS/DIVULGAÇÃO)
Abujamra é um sobrenome que rima com provocação. O pai, Antonio, falecido no último mês de abril, provou que a reclamação de que a TV pública é rádio sem TV só vale quando o entrevistador é burocrático. Seu programa 'Provocações' era a melhor coisa da área desde o 'Recorte cultural', de Michel Melamed. O filho, André, era 50% d’Os Mulheres Negras, provou que era possível dar a volta ao mundo sem sair do lugar com Karnak (com direito a um cachorro no line up) e segue provocando na carreira solo.

'O homem bruxa' é o quarto álbum solo de André Abujamra e celebra seus 50 anos de idade com uma porção de sensações familiares. Literalmente, os sintomas são a participação do pai na emblemática 'Espelho do tempo' (dos versos “o presente é o reflexo do passado e o futuro é o reflexo do presente”), a parceria com a mulher (Andréa dos Santos) em 'Mãe Cazu', homenagem à própria mãe e a evocação dos avós em 'Ovô'. Além disso, a retomada da parceria com Maurício Pereira, revivendo Os Mulheres na interpretação da faixa-título, na autoria de umas das melhores faixas, '3 homens 3 celulares', e na redação de um dos textos do encarte soa mais do que familiar. E confortável.

Gravado entre fevereiro e março deste ano e produzido e arranjado pelo próprio André, 'O homem bruxa' exibe nosso herói tocando praticamente todos os instrumentos, com exceção de um quarteto de cordas, presente em três das 10 faixas, e do sax de Maurício Pereira na abertura. Isso deixa o campo livre para experiências e polifonias que não passam, necessariamente, por definições tradicionais de ritmos, gêneros e estilos. Uma visão de mundo ao mesmo tempo central e marginal, como ele afirma logo no começo, “transformo coisas feias em coisas lindas de valor”.

Isso inclui moradores de rua descobrindo alegrias em Mendigo, a habilidade de chegar aos 50 matando certezas e recriando belezas ('50'), e a elegia a um amor incondicional instalado em águas quentes de Goiás ('Rio quente', com toques de Frère Jacques). Nos 'Segredos de levitação' faz uma crítica/crônica aos tempos da falsa felicidade estampada nas redes sociais, ao excesso de informações superficiais e prega, apesar de tudo, o direito a “entender que tudo tem vários lados”.

Produtor habilidoso, Abujamra segue com coerência sua carreira. Desta vez, apesar das sensações de conforto e desconforto que, alternadas, fazem com que sua música nunca seja previsível, faltou uma característica de música popular que ele, como bom produtor, costuma achar quase sempre no trabalho alheio: canções que provoquem no ouvinte a vontade de sair cantando o refrão, contando a história, replicando as ideias. Ou talvez seja mais uma de suas provocações, a de mostrar que a música não é mais a que costumava ser. E que a pergunta-chave do segundo disco d’Os Mulheres Negras continua martelando a sua e as nossas cabeças: pra que serve a música?.

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