Baixista Marcos Paiva se arrisca no choro em novo disco

Paulista é um dos raros baixistas que se aventuram no choro

por Estado de Minas 28/04/2015 12:02

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MARIA CLARA VILLAS/DIVULGAÇÃO
Baixista Marcos Paiva lança Choroso, seu terceiro álbum, que tem composições autorais e o baixo no primeiro plano da interpretação do gênero (foto: MARIA CLARA VILLAS/DIVULGAÇÃO)
O baixista paulista Marcos Paiva queria uma linguagem diferente para seu instrumento. Criado no jazz e com experiências ao lado de nomes como Teresa Salgueiro e Fabiana Cozza, enxergou no choro um caminho para isso. Não apenas estudou o gênero, como se infiltrou nas rodas de São Paulo para tocar, desenvolvendo o que considera um avanço e tanto para o baixo acústico no país (baixistas são raros entre os chorões). Essa experiência foi o ponto de partida para seu terceiro disco, o recém-lançado 'Choroso'.

O resultado que obteve com as oito composições autorais que fazem parte do trabalho é, de fato, diferente. A escuta remete ora ao jazz, ora ao choro, por vezes ficando difícil estabelecer fronteiras ou determinar um rótulo para o som. Isso não se deve exclusivamente ao trabalho de Paiva como compositor e arranjador, mas também à sua escolha da formação, pouco usual. Ele foi acompanhado por Cesar Roversi (saxofone) e Bruno Tessele (bateria).

“Quando comecei a estudar choro, em 2009, vi que ninguém havia estudado a linguagem do baixo para o gênero. Pensei numa formação em que o instrumento aparecesse mais, com discurso melódico, e que desse para misturar com o jazz”, conta Paiva. Ele escolheu Roversi pela intimidade prévia com o choro (tocava no Bar do Cidão, em São Paulo) e para evitar um instrumento de harmonia (como o piano), o que dificultaria um pouco mais a tarefa de posicionar o baixo em primeiro plano.

Tessele, que tem passagem pelo samba, foi iniciado no choro para esse projeto. Sua entrada no trio deve-se a seu estilo, justifica o baixista: “Quis um baterista que tocasse mais limpo, mas mantendo pegada forte e deixando o baixo aparecer. Não poderia ser uma bateria muito melódica, mas mais reta. E não queria um jazzista”. Foram cerca de sete meses de ensaio (inclusive tocando clássicos) até que fosse amadurecida a sonoridade alcançada no álbum.

ÁRIDO “É um som mais árido, mais difícil”, reconhece. “Na época que gravei, achei que tava meio a meio, mas, hoje, quatro anos depois, vejo que peguei o jazz para ler o choro. Saí do jazz e estou indo cada vez mais para a música brasileira, inclusive, há muito de música mineira em mim, já que fui criado em Viçosa. Mesmo assim, esse redirecionamento não me fez abandonar outras coisas de que gosto, como o jazz, que faz parte da minha história”, afirma.

Paiva tocou dois anos em rodas de choro antes de gravar o novo álbum. Além do trabalho de criar uma linguagem para o instrumento num “ambiente” em que não é comum, teve de aprender a se relacionar com os chorões. “Quando comecei, o pandeirista já foi perguntando cadê o violonista de sete cordas. Ficou em pânico, mal-humorado. As pessoas iam para lá achando que ficaria ruim e viam que funciona. Além do fator inusitado, o baixo dá sonoridade diferente, fazendo todo mundo tocar diferente”, relata.

O ponto mais delicado dessa aposta é o equilíbrio com o violão de sete cordas, tradicionalmente responsável pelas “baixarias” (sequências de notas graves). “O baixo preenche muito mais que o violão de sete cordas, pois tem som mais gordo. É preciso negociar, pois, se os dois fizerem a baixaria ao mesmo tempo, fica uma porcaria. Nem todo violonista aceita. Tem de dialogar, é preciso negociar as horas de cada um aparecer. É uma troca que enriquece muito”, avalia. O ideal, acrescenta, é tocar com violão de seis, não de sete cordas.

Animado com as experiências e com a sistematização de técnicas que tem feito, o baixista pretende lançar livro com 40 partituras de choros tradicionais para o instrumento. “A técnica do walking bass é ótima para desenvolver o baixo melodicamente no jazz. No Brasil, o choro é incrível para isso, mas ninguém havia tido paciência e dedicação para organizar isso. É uma maneira nova de tocar o instrumento”, resume ele, cotado como uma das atrações do Savassi Festival, em julho, em Belo Horizonte. (ETG)

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