Conheça músicos brasileiros que fazem sucesso ao lado de estrangeiros

Kiko Loureiro é um deles. O guitarrista faz parte da banda Megadeth

por Samir Mendes 27/04/2015 09:26

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Alex Solca/Divulgação
Kiko Loureiro se divide entre as bandas Angra e Megadeth (foto: Alex Solca/Divulgação)
A notícia de que o brasileiro Kiko Loureiro havia sido confirmado guitarrista de uma das maiores bandas de metal do mundo — o Megadeth — foi compartilhada à exaustão nas redes sociais, nas últimas semanas. “Uau, um brasileiro na gringa!”, disseram alguns. Até os que não aprovaram muito a nomeação ficaram surpresos com o fato de nosso país ter sido contemplado com tanta visibilidade no universo musical. Apesar da conquista, Kiko (leia a entrevista abaixo) não foi o primeiro (nem será o último) brasileiro a fazer bonito lá fora.


A história da música brasileira mostra que, há décadas, artistas tupiniquins são sempre requisitados no exterior — principalmente para as funções de percussionista e baterista (cá entre nós, brasileiro sabe de batuque como ninguém). Rock, jazz, metal, hip hop, eletrônico... Vários gêneros foram agraciados com o toque verde e amarelo. Com todo o respeito, a terra não é só do samba. O Brasil é viveiro de bons músicos, independentemente do estilo.


Entrevista / Kiko Loureiro

Sua entrada no Megadeth teve muita repercussão nas redes sociais e em sites que geralmente não dão destaque para o metal. Como foi estar no meio dessa atenção da grande mídia?

Tudo aconteceu muito rápido, o Megadeth entrou em contato comigo e já me convidaram para vir a Nashville e começar a trabalhar no disco, então não tive a chance de acompanhar muito. Mas amigos me ligaram, tenho recebido muito apoio e fico feliz com isso. Acredito que a melhor parte é que isso possa servir de incentivo para jovens músicos continuarem estudando, acreditando em si.

Isso não é uma coisa temporária, certo? Você agora é um membro efetivo do Megadeth?
Essa é a ideia. Embora o foco total agora seja a gravação do disco, pois não tenho shows marcados para este ano com o Megadeth. Mas, sim, devido à receptividade de todos e ao ambiente de trabalho, sinto que será uma situação duradoura.

Você já conversou com os membros do Angra?Como vai ficar a hierarquia entre as bandas em termos de agenda, shows, etc?
Na verdade, eles foram as primeiras pessoas a ficar sabendo e todos me deram bastante apoio. Todos são músicos experientes e entendem que, no futuro, pode haver algumas complicações de agenda, mas , por enquanto, está tudo certo. Nos próximos meses estarei em turnê com o Angra, vamos passar pelo Japão, Europa, Brasil e aqui, nos Estados Unidos. A agenda está bem cheia, então, depois, vamos ver o que acontece.

Você é um dos líderes do Angra e agora vai entrar em uma banda que tem claramente um chefe, o Dave Mustaine. Você acha que vai ter alguma dificuldade em se adaptar a essa nova dinâmica de trabalho?
Eu sou um cara que está acostumado a tomar decisões em conjunto e ouvir opiniões contrárias. Aqui, todos fazem eu me sentir à vontade e, pela experiência, sinto-me ainda mais confortável para opinar sobre a música. Claro, estamos falando de uma banda que é uma das principais da história no seu estilo. Então, minhas opiniões tem de ser dadas dentro de um contexto, de um conceito e com inteligência.

Você já era um profissional realizado antes de entrar no Megadeth. Quais aspectos dessa nova experiência você mais acha que vão acrescentar na sua vida como músico?
Músico está sempre aprendendo com as experiências e, estando em uma banda de primeira liga, as coisas são feitas em uma escala diferente. Estamos trabalhando em um estúdio excelente em Nashville, com caras que já produziram bandas gigantescas e ídolos meus na música. Eles têm também uma preocupação com o lado do gerenciamento, de business, que eu sempre tive curiosidade, essa parte do empreendedorismo. Então, tenho aprendido bastante.

Como tem sido a recepção dos fãs americanos do Megadeth à sua entrada na banda?
Sempre tem fãs que pedem a volta da formação original da banda. Isso é algo que eu passei com o Angra e entendo perfeitamente o lado deles, mas não me incomoda. No geral, as pessoas têm me recebido muito bem, tenho recebido mensagens de apoio do mundo inteiro.

Como tem sido a sua relação com o Dave Mustaine especificamente?
Ele virou meu “bróder” (risos). Um verdadeiro gentleman, fez eu me sentir em casa, conheci sua esposa, seus filhos. É um cara bastante profissional, tem uma visão clara do que quer e é extremamente receptivo.

Mário Caldato Jr./Divulgação
Produtor paulista Mário Caldato Jr. (foto: Mário Caldato Jr./Divulgação)
Por trás dos bastidores


Nem só nos palcos os brasileiros mostram a que vieram. Alguns tiveram participações importantes nos bastidores de gravações, nas mesas de mixagem e na produção. É o caso de Mário Caldato Jr., produtor paulista considerado “o quarto Beastie Boy”, que trabalhou em diversos discos do famoso trio novaiorquino e ficou eternizado em algumas de suas músicas. “Mario C. likes to keep it clean”, diz a faixa 'Intergalatic', de 1998. Além do grupo de hip-hop, Caldato também produziu a musa alternativa Björk, e os artistas Beck e Moby.


O dia 4 de fevereiro de 1968 é importante para a carioca Lizzie Bravo. Na data, a beatlemaníaca, então adolescente, fazia plantão na porta do estúdio Abbey Road, em Londres, esperando um momento em que conseguiria ver algum dos quatro integrantes britânicos. A surpresa veio para melhor. Ela relata em seu livro Do Rio a Abbey Road que Paul McCartney saiu à porta e perguntou quem conseguia segurar uma nota alta. A moça, que havia sido soprano no coral do colégio, logo ergueu a mão e, de repente, se viu dentro do estúdio, fazendo back vocals da faixa 'Across the universe'. “Nothing is gonna change my world”, repetiu à exaustão. Mas valeu a pena o esforço.


Além de Lizzie, outro nome que teve uma participação pontual, porém importante, em grande banda inglesa foi o mineiro Markus Ribas. Em 1985, o multi-instrumentista participou da gravação de 'Back to zero', do álbum 'Dirty work', dos Rolling Stones. Markus morreu há exatamente um ano, vítima de câncer no pulmão.

 

 
OUTROS BRASILEIROS NA GRINGA

Fabrizio Moretti, baterista
Nascido no Rio de Janeiro, Moretti se mudou para Nova York quando tinha três anos e cresceu na cidade americana. Foi lá, durante o ensino médio, que conheceu os amigos que, mais tarde, se tornariam o The Strokes.

Romero Lubambo, violonista
Diana Krall, Wynton Marsalin e Dianne Reeves são alguns nomes com quem Lubambo já se apresentou. O violonista passou por Brasília na semana passada, onde apresentou composições próprias e homenageou Dominguinhos.

Rogério Jardim, percussionista
Desde 2006 o músico faz parte do duo israelense Infected Mushroom, um dos mais importantes da música eletrônica do mundo. A dupla tem uma impressionante média de 120 shows por ano.

Heitor Pereira, guitarrista
Foram quase 10 anos como guitarrista do Simply Red e diversas turnês ao lado de outros artistas estrangeiros, como Alejandro Sanz, Jack Johnson, Bryan Adams, Seal, Shania Twain e Elton John. Atualmente o músico se dedica a compor trilhas sonoras para cinema.

Airto Moreira, percussionista
Quando o catarinense se mudou para Nova York, em 1967, começou a tocar com grandes nomes do jazz, Logo, foi convidado a se juntar à banda de Miles Davis, com quem trabalhou por dois anos. Contribuiu com a trilha sonora de Apocalipse now.

Paulinho da Costa, multi-instrumentista
Entre o jazz, o rock e o pop, o carioca já fez inúmeros trabalhos. Tocou ao lado de Diana Krall, Herbie Hancock, Eric Clapton, Rod Stewart, Mary J. Blige e outros. Também participou de gravações históricas, como a do hit Thriller, do rei Michael Jackson. Madonna também está no seu currículo.

Mauro Refosco, percussionista
No mesmo ano em que terminou o mestrado em Nova York, em 1994, Refosco passou a fazer turnê com David Byrne. Em 2009, juntou-se ao grupo Atoms for Peace, liderado pelo vocalista do Radiohead, Thom Yorke, e pelo baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers — banda em que atua na percussão.

 

 

Três perguntas /Airto Moreira

Brasileiros, há décadas, fazem parte de grandes bandas internacionais. Pela sua experiência, como o perfil do músico brasileiro é visto e recebido no exterior?
Os músicos brasileiros são muito bem aceitos em outras partes do mundo. Em primeiro lugar, porque são brasileiros, e o Brasil é muito conhecido e querido no exterior, e tambem pela música brasileira, que é muito rica em ritmo e harmonia.

A maioria desses músicos são percussionistas — como é o o caso do senhor. É coincidência ou os brasileiros têm um talentonatural para o batuque?
Eu não acho que todo mundo tem talento para o “batuque”. Muitos brasileiros quando chegam ao exterior se tornam percussionistas. Isso é uma coisa natural do nosso Brasil.

O mercado no exterior é realmente melhor do que o nacional? Por quê?
Eu acho que as pessoas fora do Brasil trabalham muito mais e tem responsabilidade pelo que fazem, mas há alguns anos atrás existia mais lugares para tocar, e os países do mundo estavam com as portas mais abertas para nos receber.

O que o atraiu e motivou a ir para fora do país?
Em 1967 eu fui atrás da Flora (atual esposa), que queria ser cantora de jazz em New York. Planejei em ficar só três semanas visitando e acabei ficando até hoje. Eu e Flora temos duas filhas e três netos, e estamos juntos há 54 anos.

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