O Baixo está longe de ser grande. Pois hoje, promete ferver. O combo paulistano Bixiga 70, de “apenas” 10 instrumentistas, aporta no espaço cultural do Centro para lançar seu terceiro álbum, homônimo, recém-saído do forno.
“Tocar, para a gente, é curtir. Gostamos de todos os tipos de palco”, diz o tecladista e guitarrista Maurício leury. Criada há cinco anos, a banda tirou seu nome do estúdio de onde surgiu, na Rua Treze de Maio, número 70, no coração do Bixiga, em São Paulo.
Hoje com o nome de Traquitana, o estúdio funcionou, nos anos 1970, como o Teleco Teco na Paróquia. “Era um bar de samba gerido por músicos. Reza a lenda que Stevie Wonder e Sarah Vaughan, depois de fazer show, teriam dado canja lá”, conta Fleury.
O estúdio, que foi o ponto de partida do encontro do grupo, também teve papel essencial para a gravação do novo disco. “O processo de composição foi bem inédito. Nós nos reunimos oito, dez horas por dia, para testar ideias. A gente gravava tudo e depois filtrava. Tanto que gravamos bem mais do que as nove músicas do disco”, diz ele, que calcula que, do encontro no estúdio, o Bixiga tenha chega a até 30 novas composições.
O registro foi todo gravado ao vivo, com os dez instrumentistas tocando juntos. “(Ao longo do tempo) A gente foi aprendendo a ouvir mais o outro. Tanto que este trabalho acabou abrindo caminho para novas influências.”
GÊNERO O Bixiga 70 não se prende a um gênero. Como uma big band dançante, o coletivo engloba música afrobrasileira, jazz, funk, dub, reggae, entre outros gêneros. Esse caldeirão tem forte recepção também no exterior, principalmente na Europa.
No ano passado, além do continente europeu, o Bixiga foi para o Marrocos, onde se apresentou num festival de rua na capital, Rabat. A experiência em território africano acabou sendo levada para o disco.
“Fizemos uma oficina com os músicos de lá. A ideia era mostrar um pouco do trabalho da música afrobrasileira, mas acabamos aprendendo mais do que ensinando”, diz Fleury. A tradicional música gnawa, da região do Magrebe, foi um dos maiores aprendizados dos paulistanos.
“Ali deu para entender como é a música oriental. Sua divisão notal é diferente, as notas são subdivididas em muito mais notas do que a gente conhece no Ocidente.” A experiência marroquinha chegou ao novo álbum com a música Lembe, em que um instrumento de percussão típico da região dialoga com a latina cumbia.