“É um clima completamente diferente do bar tradicional. Não tem estresse, briga. Quando começa a cantoria, as pessoas aplaudem umas às outras, viram amigas de infância. Sem falar que não importa se fulano canta bem ou mal. O importante é se divertir”, destaca Cácia Rosemberg, proprietária do Bar da Cácia, na Rua Rio de Janeiro, no Centro da capital, que há três anos resolveu apostar no videoquê.
Vizinho dali e adepto da moda japonesa há mais tempo, o Casantiga foi um dos pioneiros da cidade nessa onda. O dono do estabelecimento, João Abib, lembra quando o espaço era apenas um restaurante e duas clientes de São Paulo comentaram sobre a ideia do caraoquê. “Isso era 1997. Muito antes de começar toda aquela onda em BH, quando apareceram vários bares. Nunca tinha ouvido falar naquilo e decidi implantar a novidade. Uma televisão, um microfone e uma memória de 300 músicas”, recorda-se. No primeiro dia, João diz que ninguém quis experimentar. Aliás, nos seis meses seguintes foi assim.
“Só eu cantava, para mostrar que era supertranquilo. As pessoas ficavam receosas. Mas depois que pegou, foi um sucesso e é assim até hoje. Tanto que estamos aqui 18 anos depois. Acho que o que atrai é que a pessoa que vem cantar se sente um artista. Hoje temos um cardápio de 7.400 canções de todo tipo. Nunca caiu o movimento. Nesses anos todos, sempre foi bom. Público pra videoquê BH sempre teve e terá”, frisa.
Há muitos frequentadores do Casantiga que costumam ir toda semana. É o caso do servidor público Jéfferson Romanelli, de 45 anos, que admite gastar por noite no estabelecimento mais com música do que com cerveja, já que lá se cobram para cantar R$ 3,20. Pelo menos uma vez por semana, de preferência às sextas-feiras, ele sai do trabalho e vai soltar a voz no videoquê. Jefférson, que canta e toca teclado, sempre sonhou em ter a própria banda, e como ainda não conseguiu realizar a façanha, por enquanto se contenta com o caraoquê. “O meu negócio nem é o videoquê. É cantar mesmo. Isso que é o bacana. Ainda quero muito me tornar cantor profissional”, avisa.
No lado oposto do bar, outro que bate ponto no local é o também funcionário público Lincoln Juarez, que preferiu não revelar a idade, e é irmão de Jéfferson. “Cada um prefere ficar na sua própria mesa para ter sua privacidade, manter seu espaço”, justifica. Enquanto Jéfferson é mais fã de música brasileira, o repertório de Lincoln privilegia canções internacionais. Não pode faltar 'It will rain', de Bruno Mars, por exemplo. “É uma composição que fala do relacionamento construtivo entre um homem e uma mulher. O que acho mais interessante são as mensagens que essas músicas passam. Por isso gosto de vir aqui cantar, seja em português, em inglês ou italiano”, diz.
Pagode, samba e sertanejo
Um caraoquê bem tradicional de Belo Horizonte é o do Restaurante O beco. A gerente Raíssa Batista Macedo conta que há 15 anos o lugar implantou a novidade e que durante um intervalo de três meses resolveu apostar na música ao vivo. “Acabou não dando certo. Os clientes reclamaram e a gente voltou com o caraoquê”, informa. Ela acrescenta que o que predomina no set list é o pagode, o samba e o sertanejo. Boa parte do seu público é formada por gente na faixa dos 25 aos 40 anos e que trabalha no Centro. “O pessoal sai do serviço aqui perto mesmo, vem tomar uma cervejinha e vem cantar. Afinal, é como diz o ditado: ‘Quem canta, seus males espanta’. A gente nem pensa em tirar o caraoquê porque é o que faz sucesso mesmo”, pontua.
A ex-BBB Analice Souza, de 29 anos, que é proprietária de um bar, assim que deixa o trabalho costuma dar uma passada no caraoquê da dDuck ou do Bar da Cácia, pelo menos uma vez por semana. Ela revela que se seu estabelecimento tivesse tratamento acústico, até instalaria um videoquê, de tanto que gosta da brincadeira. “Amo videoquê. É uma das melhores maneiras de se divertir. Até já tive o aparelho em casa. É um programa ótimo para reunir os amigos, porque ninguém leva a sério se você canta bem ou mal”, acredita.
O estudante de medicina Pedro Ino é outro que também frequenta a dDuck e o Bar da Cácia. Já ocorreu até de numa mesma semana, ele ir nos dois lugares, de tanto que gosta de cantar. “Na dDuck, o bacana é que você une balada com caraoquê, e na Cácia é um barzinho com o caraoquê, então tem pra todos os gostos. Como sempre tem um público fiel, acho que essa moda pode até diminuir, porém, nunca vai acabar”, opina.
Serviço
>> Casantiga (Rua Rio de Janeiro,1.425, Lourdes, (31) 3224-4485).
De terça a sábado, das 18h até o último cliente. R$ 3,20 (cada música).
>> Bar da Cácia (Rua Rio de Janeiro, 1.411, Lourdes, (31) 3222-3260).
De terça a domingo, das 20h até o último cliente. R$ 2,50 (cada música).
>> Dduck Club (Rua Pernambuco, 1.316, Savassi, (31) 3267-8472). Festa Karaoquente,
todas as quintas-feiras, a partir das 23h30. Mulher não paga. Homens: R$ 20, revertidos
em consumo até 0h30. Após essa hora, R$ 15 de entrada. Após 1h, sob consulta.
>> Restaurante O beco (Rua dos Tamóios, 232, Centro, 2º andar, (31) 3272-1489).
Caraoquê: de terça a sábado, a partir das 19h. R$ 2,50 (cada música).