Coletivo Samba Noir traz a Belo Horizonte o show do seu álbum homônimo

Apresentação tem repertório impecável dedicado ao samba-canção e à música de fossa

por Kiko Ferreira 23/04/2015 08:20

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LUZ COMUNICAÇÃO/DIVULGAÇÃO
(foto: LUZ COMUNICAÇÃO/DIVULGAÇÃO)
Sambas e grooves. Canções tradicionais e levadas eletrônicas. Dor de cotovelo, clima noir, violão de sete cordas e baixo sintetizado. Voz doce e percussão, guitarra e sopros econômicos e ecumênicos. No meio do caminho, um piano ao mesmo tempo subversivo e contido. Esses são alguns elementos que saltam aos ouvidos já na primeira audição do disco de estreia do Coletivo Samba Noir, união da cantora Kátia B com o violonista e arranjador Luís Filipe de Lima, o percussionista Marcos Suzano e o arranjador, produtor e multi-instrumentista Guilherme Gê.


Grosso modo, soa como uma junção do 'Satolep Sambatown' (2007), que juntou a percussão de Suzano com a pós-milonga do gaúcho Vitor Ramil, com a 'Katia de Espacial' (2007) e 'Pra mim você é lindo' (2012).

O repertório, impecável, tem como base o samba-canção e a música de fossa (para os mais jovens: música de lamentar amor perdido) dos anos 1950, revisitados com instrumentação eletrônica e costurados pela percussão nunca óbvia, onde o pandeiro reina acima das nuvens, e um violão sete cordas voando por costuras e dribles.

Clima de cabaré chic, inferninho high tech, tão lounge de mim distante. Como navalhas de titânio ferindo sentimentos que escapam aos aplicativos e selfies, são atirados a ouvidos (des)preparados a saudade enjoada que não vai embora ('Chove lá fora', de Tito Madi), a imitação da vida ('Imitação', do baiano Batatinha), um mundo sem amanhã ('Meu mundo é hoje', de Wilson Batista e José Batista, com participação do americano Arto Lindsay), e o clássico das pétalas desfolhadas de margarida: 'Ninguém me ama(ninguém me quer)', de Fernando Lobo e Antonio Maria.

Parece pouco? Tem mais. A solidão sem dó de Caymmi ('Tão só', com Carlos Guinle), as 'Aves daninhas' de Lupicínio, o nome do amor riscado definitivamente do caderno ('Risque', Ary Barroso, vitaminado como piano de Egberto), o dom de iludir de toda mulher ('Pra que mentir', de Noel, com os sopros de Carlos Malta), o coração deixado na mão de quem pode fazer da alma um suporte para a vida ('Só deixo meu coração na mão de quem pode', de Katia B, Marcos Cunha, Plínio Gomes e Fausto Fawcett). E, por fim, a Volta de Lupicínio, com Jards Macalé exercendo seu histórico direito à morbidez romântica.

Se o caso for de chorar, que seja em lenços de linho. De tomar pílulas além da dose, que elas saiam de frascos vintage de cristal. Cicuta com champanhe: por favor, providencie garrafas da viúva mais famosa das bolhas, com taças apropriadas. Mas, se não for para tanto, fica no ar que, mesmo no sofrimento, é possível ser elegante e sofisticado sem perder a pose.



TRÊS PERGUNTAS PARA...
KÁTIA B,


A primeira vez que a vi no palco foi com o Fausto Fawcett, no teatro Marília, aqui em BH, no show Básico instinto, bem rock’n’roll, adrenalina, ousadias mil. A segunda vez, no Itaú Cultural, anos depois, contida, cool.... Como foi essa história? Fale sobre sua trajetória.
O 'Básico instinto' é fruto da reunião de vários artistas que tiveram seu nascimento artístico no Circo Voador do Arpoador, em 1982. O Fausto, com a sua poética, reuniu no palco músicos, dançarinas, coreógrafa (Deborah Colker), figurinista (Fernanda Abreu) para um encontro eletrizante. Ali eu era uma atriz, dançarina e cantora dialogando com várias linguagens. Depois dessa experiência transformadora, direcionei o foco para meu trabalho de cantora e compositora. Montei um estúdio em casa e mergulhei no trabalho autoral, que já rendeu quatro discos e um DVD.

O Samba Noir traz uma sonoridade atual para grandes clássicos, alguns deles praticamente só disponíveis em gravações muito antigas, inacessíveis ao público médio de hoje. Quem forma a plateia dos shows? Alguma música recebe reação diferenciada da plateia? O pessoal canta junto?
O show é um show à parte. As projeções do Batman Zavarese, com grafismos ou trazendo os convidados que gravaram o disco em sync com a gente, são arrebatadoras. Tivemos a parceria da Marcia Rubim na direção de movimento, do Renato Machado na iluminação e do Rogério S no figurino. Muitos saem do show cantarolando as melodias que permeiam nossa memória.

E como se deu a parceria com Fausto Fawcett?
Encomendei a ele uma música cujo tema era o ciúme. E ele fez! Essa música conquistou ouvintes mundo afora. É o meu clássico. Por isso e por trazer esse tema que conversa com o conceito do Samba Noir acabou entrando no disco.

SAMBA NOIR

Nesta quinta e sexta, às 21h, no Teatro Dom Silvério (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro. (31) 2125-0398). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)

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