Marcelo D2 e Emicida dividem o palco em show na capital

Dois grandes nomes do hip-hop nacional, músicas misturam ritmos do Rio e São Paulo em Belo Horizonte

por Estado de Minas 17/04/2015 08:31

Washington Possato/Divulgação
Marcelo D2 é carioca e, ao longo da carreira, misturou rap ao samba e fez outros arranjos (foto: Washington Possato/Divulgação)
No ritmo do rap, Rio de Janeiro e São Paulo se encontram em Belo Horizonte, hoje à noite, no Espaço Even. Representando a Cidade Maravilhosa, Marcelo D2, levando seu rap misturado com samba. Da capital paulista, Leandro Roque de Oliveira, ou melhor, Emicida. O encontro dos dois MCs é o primeiro na capital mineira e promete não ficar em expectativas. “Já dividimos o palco outras vezes, não gosto de adiantar nada, mas é quase certo aprontarmos alguma por aí”, conta D2.


Celebrando 20 anos de carreira, Marcelo D2 tem no currículo três discos gravados e um ao vivo com o Planet Hemp, além de seis álbuns solo. Em 'Eu tiro é onda', de 1998, o rapper deu os primeiros passos na mistura do samba com rap, que ficou consagrada no álbum 'À procura da batida perfeita' (2003). O processo inspirou 'Meu samba é assim' (2006), que conta com parcerias com Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, e o disco 'A arte do barulho' (2008). Em 2010, D2 lançou um álbum regravando Bezerra da Silva, de quem não esconde uma grande admiração.

Já em 'Nada pode me parar', lançado em 2013, Marcelo Maldonado Peixoto inovou e, deixando o samba um pouco de lado, investiu novamente no rap, com faixas em tons jazzy, que lembra o rap dos anos 1990, do De La Soul, e de contemporâneos como Madlib, com a participação da voz suave do soul de Aloe Blacc, e batidas mais pesadas do trap, uma delas inclusive produzida pelo filho Stephan. “Esse meu disco é um agradecimento meu ao hip-hop, ritmo que me ajudou a me apaixonar por cinema, dança, arte em geral. 'Nada pode me parar' veio dos versos do Thaíde e DJ Hum que, em 1993, rabisquei na parede do meu quarto: Eu já cai no chão/ Só que me levantei/ Eu faço meu sistema/ Eu dito a minha lei/ Nada pode me parar”, pontua Marcelo.

 



Atualmente, o músico está trabalhando no projeto Matuto, onde – ao lado de Hélio Bentes, do Ponto de Equilíbrio –, pretende experimentar as interseções entre o mundo do hip-hop e o do reggae. “Gravando os 15 clipes do último disco eu tive muitas ideias, até chegar no projeto, que agora está se transformando em um coletivo que tem beatmaker, artista plástico, fotógrafo”, explica. De um EP, o projeto se transformou numa empreitada, que vai virar a criação de um curta-metragem e um livro em quadrinhos. “É a história de um rapaz que quer sair de um buraco negro que ele está vivendo e que gosta de arte”, completa.

A batida perfeita o carioca já achou, mas a procura não para. “Todo mundo me pergunta sempre: ‘E aí, D2, já achou a batida perfeita?’. Mas eu penso que a procura é muito mais importante do que o encontro. Eu continuo procurando coisas novas, coisas que me fazem amar o que eu faço. Essa ideia de procurar coisas novas é muito importante para mim, e é o que me mantém jovem”, ele diz. Quase cinquentão, D2 mostra que está mais do que pronto para mais 50 anos de carreira.

 

Parceria luminosa

 

Rafael Kent/divulgação
Depois de lançar CD independente, Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, criou um selo com o irmão e já colocou mais três discos no mercado (foto: Rafael Kent/divulgação)
 “O Emicida trouxe coisas novas para o rap. É um cara que eu admiro muito.” É assim que o colega de palco na noite, Marcelo D2, descreve Leandro Roque de Oliveira, o Emicida. Há cinco anos, o paulistano lançava Para quem mordeu cachorro por comida... Até que eu cheguei longe, seu primeiro EP, lançado pelo selo Laboratório Fantasma, do próprio rapper. Em O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui, de 2013, Emicida retoma alguns pontos abordados nos dois últimos álbuns, relembrando suas origens. “Tem a ver com o fato de serem as minhas verdades. E as minhas verdades são as mesmas sempre. A minha preocupação é sempre a de não me tornar repetitivo, meu esforço é o de não ficar dizendo a mesma coisa de uma maneira desinteressante”, conta.

Prestes a embarcar mais uma vez para a Europa em turnê, Emicida lançou recentemente uma música em parceria com o rapper francês Féfé, que se apresentou no Brasil em 2014. “Ele me levou para um rolê pelas quebradas de Paris, lugares que não são pontos turísticos, e isso nos inspirou. A música é um salve a todas as quebradas do mundo, seja em Paris, seja na Zona Norte de SP, onde gravamos o clipe”, explica o rapper. Emicida, que já andou pelo mundo, chega à sua quinta turnê europeia, onde vai passar por Portugal, Inglaterra, França e Alemanha. “A cada ano que eu vou, sinto os shows melhores. Talvez seja também consequência de eu ficar cada vez mais habituado, à vontade mesmo. Isso de você conseguir se fazer entender com a barreira do idioma é desafiador, mas ao mesmo tempo especial, tudo ocorre pela troca de energia. A cada ano que passa vejo que o público é formado cada vez mais por europeus, não são só brasileiros. É uma experiência sempre interessante”, pontua.

 

 

 

 

Pequenos grandes nomes

 

É notório que São Paulo é a capital nacional do rap. E, aos poucos, cavando entre os batidões do funk miami bass, o Rio de Janeiro vem encontrando seu espaço, inspirado por batidas do rap de J-Dilla, Talib Kweli e Mos Def, representado por uma geração de revelações para suceder a grandes nomes como D2, Black Alien, Shawlin, Marechal e De Leve. Com um clipe com milhões de visualizações, elogios de Emicida e parceria com Projota, Filipe Ret, de 28 anos, é um dos representantes do rap carioca que tem chamado a atenção. Depois de fazer barulho com seu primeiro disco, 'Vivaz', de 2012, Ret está nos estúdios finalizando seu novo disco, que será lançado pelo selo do próprio rapper. Ele se apresenta hoje, a partir das 23h, na boate naSala.

 



Outro que luta por um espaço é Stephan. Marcelo D2 viu seu filho, como cantou em 'Loadeando', desenvolver e evoluir. “Eu vi um show da Start (banda do filho) e foi maravilhoso. Mesmo que não vá pra frente como banda, os três têm sucesso para o solo”, derrete-se o carioca. Aos 23 anos, o primogênito do rapper se mostra independente e com um disco que aponta que veio para ficar. Ao lado dos amigos Faruck e Shock, Sain, nome artístico de Stephan Peixoto, formam o Start Rap, que lançou disco no início deste mês e que vai ser apresentado pela primeira vez na capital amanhã, na Mansão Pampulha.

  

 

Marcelo D2 e Emicida
Espaço Even, Rua Vereador Antônio Zandona, 245, Jardinópolis, BH, (31) 3364-7575. Sexta, 22h. R$ 60 (vendas na Urby Store (Rua Fernandes Tourinho, 126, Savassi); Caráter (Rua Fernandes Tourinho, 363, Savassi). 18 anos.

Filipe Ret
Sexta, a partir das 23h, na Boate naSala (Ponteio Lar Shopping,120, Santa Lúcia). Informações pelo telefone (31) 3286-4705

Banda Start – Fiesta Loca
Mansão Pampulha. Sábado, a partir das 21h. Ingressos a partir de R$ 40.

 

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