Relembre trajetória de Billie Holiday, estrela do jazz, que completaria 100 anos nesta terça

Cantora ficou marcada por lutas sociais e sucessos eternizados nas memórias dos fãs

por Diário de Pernambuco Correio Braziliense 07/04/2015 15:40

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Reprodução da internet
(foto: Reprodução da internet)
 Em meio à depressão econômica que devastou os Estados Unidos em 1929, eram muitos os empresários falidos que afogavam as mágoas em bares de Nova York. No Pod’s and Jerry’s, uma aspirante a cantora recusava as gorjetas minguadas que os boêmios lhe deixavam sobre as mesas. Billie Holiday fazia questão de recebê-las em mãos, para agradecer pessoalmente a oferta. Não demorou para que o hábito rendesse o apelido de Lady, atribuído por outras cantoras à artista cujo centenário de nascimento é celebrado hoje. Lester Young, amigo e parceiro musical de Billie, começou então a chamá-la de Lady Day (aglutinando o sobrenome), como ficaria conhecida ao longo da carreira.

As homenagens ao centenário da diva de timbre inconfundível serão prestadas nos palcos de vários países. No Recife, o tributo será no dia 26 de abril, com a cantora Taryn Szpilman e a banda Uptown Band, durante o RioMar Jazz Festival. Uma forma de venerar a cantora marcada pela dor e pelo sofrimento enfrentados nos 44 anos de vida. 

Antes de se dedicar à música, a cantora nascida na Filadélfia enfrentou pobreza, abuso sexual, depressão, prostituição, dependência química e profundas desilusões amorosas. Sem acesso a instrução musical, desbravou o próprio caminho a partir do ouvido apurado (era fã de Bessie Smith e Louis Armstrong) e da intuição. Entrou para a história como um dos maiores nomes do jazz, graças à voz comovente e poderosa e à sensualidade nos palcos. Tornou-se símbolo da luta negra pela superação de preconceitos - há relatos de que, em hotéis de luxo, Billie foi muitas vezes convidada a usar o elevador de serviço. 
 
 

Logo nas primeiras linhas da autobiografia Lady sing the blues (1956), Eleanora Fagan Gough menciona o casamento dos pais, na época dois adolescentes de 18 e 16 anos. Ela teria por volta de três anos. Negra e pobre, frequentemente abandonada pela família, sofreu abuso sexual aos 10 anos. Aos 12, viajou com a mãe para Nova York e passou a trabalhar em prostíbulos lavando o chão. Eventualmente cantava e também se prostituía. Pouco depois, seria presa, segundo ela por se negar a “satisfazer um chefe da máfia negra”.

Os primeiros álbuns, lançados entre 1933 e 1942, foram gravados após anos de cantoria em bares de Nova York. É a fase preferida dos fãs da cantora. No fim dos anos 1930, depois que o produtor John Hammond considerou a música Strange fruit uma composição “de mau gosto”, migrou para o Commodore e levantou bandeiras antirracismo. A voz de Billie era comparada ao som de um trompete, além de ser carregada de sentimento. Certa vez, ela reconheceu: “Sinto que estou tocando sax ou coisa assim. O que sai de mim é o que sinto”. Entre as parcerias musicais firmadas pela diva do jazz (Count Basie, Duke Ellington, Artie Shaw, Louis Armstrong), talvez a mais frutífera tenha sido com o saxofonista Lester Young, com quem gravou mais de 50 músicas. 

A decadência começou nos anos 1940. Acometida de cirrose hepática, Billie foi proibida pelos médicos de voltar a consumir bebidas alcóolicas. Não obedeceu. Em estado depressivo, voraz usuária de drogas, morreu aos 44 anos, vítima de edema pulmonar e insuficiência cardíaca.


Se Billie Holiday não tivesse tido o sofrimento e vida difícil que teve, não teria conseguido expressar o que sentia.  Ela vivia, cantava com a alma. Talvez tenha sido a cantora que mais tenha tido feeling. Cantava como se fosse morrer ali, como se aquele fosse o último momento. Ela tirou um pouco a loucura do jazz daquela época, de virtuosismo, de escalas doídas”.
Giovanni Papaleo, produtor do Garanhuns Jazz Festival e fundador da Uptown Band

Billie possuía um timbre de voz completamente único. Eu a ouvi pela primeira vez aos 15 anos, graças à minha mãe. Hoje tenho 46 e me inspiro na impostação de voz dela. Ouço as intepretações, coletâneas, bagagem importante a todo cantor. O que mais aproveito de Billie é jamais deixar minha tristeza transparecer na minha voz, mas transformá-la em emoção e ternura para quem me ouve.”
Cláudia Beija, cantora

Eu comecei a carreira cantando gospel aos 15 anos. Quando decidi me lançar em shows na noite pernambucana, fui orientada a ouvir vários artistas que me serviriam como referência. Billie estava entre os principais. Até hoje a escuto para apurar meus ouvidos e aprender um pouco mais com as técnicas que ela usava. É impossível copiá-la, mas tento reproduzir timbre, impostação, emoção nas interpretações, postura em cena.”
Adriana Nascimento, cantora 


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