Toque de Midas: como Mark Ronson se tornou o produtor-popstar do Reino Unido

Respeitado nos bastidores e celebrado entre estrelas da música, músico de 'Uptown funk' é pai dos sucessos de Amy Winehouse e Adele

por Fernanda Machado Agência Estado 06/04/2015 10:13

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Amante da música desde a juventude, Ronson diz que ''imaginava que gostaria de ser uma estrela'' (foto: Divulgação)
"Se eu sonhava em ser um popstar?" Mark Ronson repete a pergunta quase instintivamente, como se precisasse ganhar alguns preciosos segundos para elaborar a resposta. Músico e produtor, ele ganhou fama ao assinar a produção dos discos mais pop da última década, mas a entrevista era uma ocasião rara para falar de si. Ronson realizou uma série de entrevistas individuais por telefone com jornalistas do mundo todo para divulgar o novo disco solo dele, o quarto da carreira, 'Uptown special', lançado no Brasil pela gravadora Sony Music.

 

'Uptown funk', com Bruno Mars, é o novo hit de Mark Ronson:

 

 

Diferentemente dos colegas de profissão, produtores cuja figura é de alguém escondido nas sombras, resignado a viver entre as quatro paredes dos estúdios, Ronson não se esconde. Coloca seu rosto diante dos paparazzi vorazes. A fama massiva é assustadora - ele viu os efeitos dela na amiga Amy Winehouse -, mas o produtor e músico sabe como participar do jogo sem ser tragado por ele. E a publicidade, aliada ao talento, não lhe fez mal.

Do disco '19', estreia de Adele, a 'Back to black', obra-prima de Amy Winehouse, do novo e refrescante 'New', de sir Paul McCartney, a 'Unorthodox jukebox', mais um retumbante sucesso Bruno Mars, os principais lançamentos do pop que se enquadravam na categoria de boa pinta na sua maneira — e jovem (39 anos), mas com o devido respeito e conhecimento às tradições da black music clássica. Características reunidas, não é difícil entender como um britânico branquelo e franzino se tornou o rosto de uma geração que busca resgatar a música negra norte-americana.

O novo Midas do pop nasceu no noroeste de Londres, em um berço dourado, mas passou por um longo aprendizado para chegar onde está. Conviveu com o movimento hip hop no início dos anos 1990, tornou-se DJ e vibrava quando conseguia receber US$ 50 para tocar em algum clube noturno. Em dez anos, ele já havia conseguido assinar um contrato com a gravadora Elektra Records e lançado o primeiro disco, 'Here comes the fuzz', um álbum que reunia músicos distintos, como Jack White, Aya e Sean Paul.

A estrada de Ronson cruzou com Lily Allen. Ela, ainda uma estrela emergente que gravada o disco de estreia, 'Alright, still'. E, ele, um produtor que precisava de espaço. Ela, com o hit 'Smile', encontrou a fama. Ronson, naquele mesmo ano de 2006, dava o passo mais importante na carreira ao lado da sua cara-metade musical, Amy Winehouse, com quem gravou o sucesso 'Back to black'.

 

Lily Allen foi uma das primeiras parcerias de sucesso para Ronson:

 


Depois disso, os trabalhos surgiram aos montes para Ronson. "Escolho por instinto", explica o produtor sobre o processo de escolher qual será o próximo álbum a ser gravado. Foi por instinto que chegou a Adele, dois anos antes do estouro dela. Na época, ela estreava com '19', um disco não tão impressionante como o sucessor, mas a semente do R&B dolorido foi plantada ali. "Não é possível fazer milagre. Acho que meus melhores trabalhos foram feitos ao lado de pessoas realmente talentosas", explica. "Não dá para fazer um truque no estúdio e transformar artistas ruins em alguém bom." Para ele, "Amy (Winehouse) e Adele são donas de vozes que não precisam de nenhum truque".

O currículo recheado e uma noite como DJ foram o suficiente para que ninguém menos do que Paul McCartney escalasse Ronson para produzir o novo disco de inéditas. Depois de se aventurar por standards em 'Kisses on the bottom', o ex-Beatle gostaria de se conectar com a música de hoje e Ronson foi o escolhido para essa repaginada.

O produtor costuma ser bombardeado por questões sobre Paul e Amy, as duas mais importantes colaborações - o que é compreensível. Mas, ainda assim, não consegue enxergar uma ligação entre as duas forças motoras tão distintas como os dois. Amy, com sua fúria rebelde, e Paul, com o pop cristalino e puro. "São duas lendas", diz ele. "Não consigo, contudo, forçar uma ligação entre os dois", explica.

'Uptown special' coroa a boa fase de Ronson como produtor - e como estrela principal. O hit 'Uptown funk', lançada primeiramente no mais recente álbum de Bruno Mars, é a música mais tocada nas rádios do mundo todo, nesta última semana, de acordo com a Crowley, e é a segunda faixa mais executada no serviço de música por streaming Spotify desde o lançamento, em novembro do ano passado.

 

Ronson admite que enfrentou um bloqueio criativo durante a gravação de 'Uptown funk'. "Foi uma das primeiras que gravamos a base", lembra ele. "Depois, foi difícil conseguir repetir aquela energia. Chegamos a um ponto insano." O álbum começou a ser gerido ainda em 2012, mas a agenda afastou Ronson do disco solo, lançado agora.

 

Com Amy Winehouse, Mark transformou 'Valerie' em hit dos anos 2000:

 

 

Colocar o próprio nome na capa de um álbum não é um passo comum na carreira de um produtor, mas Ronson não é comum. "Acho que talvez quando eu tinha 12 ou 14 e comecei a tocar guitarra com uma banda, naquela época, eu imaginava que gostaria da ideia de ser uma estrela", admite, ao responder a primeira pergunta. "Depois, percebi que não tocava guitarra tão bem assim para isso", completa, rindo.

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