Caixa reúne 20 CDs dos Paralamas do Sucesso, que comemora 32 anos de carreira

Projeto traz discografia completa e extra com gravações em espanhol

por Mariana Peixoto 29/03/2015 10:45

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Maurício Valladares/Divulgação
oão Barone, Herbert Vianna e Bi Ribeiro: parceria estável desde a década de 1970 (foto: Maurício Valladares/Divulgação )
Em 1983, ao estrear em disco com Cinema mudo, a banda Os Paralamas do Sucesso – Herbert Vianna, João Barone e Bi Ribeiro – não sabia o que a esperava. Até então, o grupo que havia se desenhado no fim dos anos 1970 – sem Barone, que só se tornou baterista do grupo em 1982 – tinha consciência de que a época era propícia para o rock. Com a abertura pós-ditadura militar e a vontade de construir um novo Brasil, o Rio de Janeiro era o principal cenário do então nascente Brock. A partir da bem-humorada canção que versava sobre o primeiro baterista – Vital e sua motocicleta, comprada com a ajuda do pai –, o trio era apresentado como a novidade.

Contratado pela multinacional EMI, o Paralamas, a despeito da mediana repercussão do álbum de estreia, teve a segunda chance. Era tudo ou nada, e O passo do Lui (1984) iria determinar isso. “Nosso primeiro álbum era ingênuo, naive. Na época, dentro de uma estrutura de grande gravadora, a gente ainda tentava entender o que era. Se O passo do Lui não desse certo, voltaríamos para a universidade ou venderíamos galinhas”, afirma Barone.

Emplacando uma série de hits – Óculos, Meu erro, Fui eu, Romance ideal, Mensagem de amor e Assaltaram a gramática – de um único álbum, a banda entrou para o primeiro time do pop brasileiro. E firmou o pé, tanto que 30 anos mais tarde os três continuam juntos, a despeito das diversas intempéries que enfrentaram. O lançamento da caixa Os Paralamas do Sucesso – 1985-2015, que reúne toda sua discografia, é algo para se comemorar. Até então, os álbuns foram reunidos uma só vez. Em 1997, a caixa Pólvora trouxe os primeiros nove discos, remasterizados em Abbey Road.

PRESTÍGIO Nesta época de vacas magras na música, na sociedade, na política e no mundo, reunir três décadas num só produto mostra quanto prestígio o Paralamas ainda tem. O projeto, que começou a ser ensaiado quando a banda chegou aos 30 anos – agora já são 32 –, apresenta 18 álbuns mais dois extras.

O primeiro traz a compilação da trajetória latina do Paralamas. São 16 faixas cantadas em espanhol – duas gravadas para o projeto. Com produção de Liminha, foram registradas no estúdio Rockit, de Dado Villa-Lobos, Que me pisen, da extinta banda argentina Sumo, e Hablando a tu corazón, de Charly García. A verdade é que muitos tentaram, mas na seara do pop rock brasileiro nenhum grupo fez tanto sucesso com os hermanos quanto o Paralamas.

O início dessa trajetória se deu em 1986, quando a banda participou de um festival de rock em Córdoba. O trio acabou emendando a temporada em uma danceteria na periferia de Buenos Aires. A partir dali, Herbert se aproximou de dois ídolos do rock argentino, Charly García e Fito Paez, que o influenciaram definitivamente.

A partir dos anos 1990, com visitas quase anuais àquele país, a banda passou a se dedicar a projetos específicos. “Lançaram uma compilação em espanhol, mas o público não gostou do resultado, as versões não ficaram legais. A ponto de os fãs argentinos pedirem ao Herbert para cantar em português. Isso acabou servindo como impulso para ele se esmerar ao máximo no castelhano”, lembra Barone.

O segundo disco-bônus reúne raridades, algo que não foi fácil produzir. “A gente chega pra gravar com tudo muito definido, não costumamos ter muito material excedente (e inédito) de gravação”, comenta o baterista. Dessa maneira, a pesquisa se deu em registros que saíram em outros trabalhos. Há dobradinhas com Jorge Ben Jor (Que maravilha, tirada de álbum de Ben Jor de 1997), Gilberto Gil (Them belly full, de Kaya N’Gan Daya, 2002) e Legião Urbana (Ainda é cedo
com Jumpin’ Jack Flash, gravadas para um especial da Globo em 1998).

Mesmo depois do garimpo para reunir o material, faltaram algumas canções. “A gente está procurando a primeira versão de Vital e sua moto, lançada na Rádio Fluminense no fim de 1982. Tínhamos esse registro demo numa fita master, mas ela acabou sumindo”, revela Barone.


Vale a pena ouvir de novo


O Passo do Lui (1984)
Dez faixas e oito hits. O Paralamas virou gente grande com seu segundo álbum, que o consagrou ao vivo durante o primeiro Rock in Rio, em janeiro de 1985. Óculos, Meu erro e Assaltaram a gramática são a melhor tradução do descompromisso do rock 80.

Selvagem? (1986)
Se alguém quiser ter um só disco da banda, este é o álbum. O trabalho é divisor de águas não só do grupo, mas da música pop brasileira. A partir de canções como Alagados, A novidade e Melô do marinheiro, o Paralamas provou que era possível fazer rock com referências da nossa cultura. O disco abriu caminho para a geração 90, de Skank e Chico Science.

Severino (1994)
Com a carreira já estabelecida na Argentina, o Paralamas lança Severino. Com arranjos mais elaborados, é considerado o trabalho mais experimental do grupo. Na época, o disco produzido por Phil Manzanera e gravado na Inglaterra foi pouquíssimo ouvido. Atenção para El vampiro bajo el sol, gravada pelo guitarrista Brian May, do Queen.

Vamo batê lata (1995)
Série de shows resulta no álbum ao vivo, que traz CD extra com quatro inéditas. Entre elas, estão o sucesso Uma brasileira (parceria de Herbert com Carlinhos Brown e participação de Djavan) e a discutida Luís Inácio (300 picaretas), que se revela atual 20 anos mais tarde.

Longo caminho (2002)
Primeiro disco lançado depois do acidente de ultraleve que, em 2001, deixou Herbert paraplégico e matou sua mulher, Lucy. Compostas antes da tragédia, as faixas mostram um Paralamas em busca da simplicidade, com canções diretas e cruas.

MAIS SOBRE MÚSICA