O encontro inédito terá lugar em apenas três capitais brasileiras, a começar por Belo Horizonte, hoje, seguindo para São Paulo e Rio de Janeiro. O show vai virar CD e DVD.
Por esse motivo, o show de hoje terá composições de Bebo, a exemplo de 'Con poco coco' e 'Pan con timba'. Donato mostrará algumas de suas mais conhecidas, como 'Bananeira', 'Nasci para bailar', 'Amazonas', 'A rã' e 'Emoriô', com espaço reservado para músicas de Chucho e releituras de clássicos dos dois países, como 'Aquarela do Brasil', 'Besame mucho' e 'Guantanamera'.
“Convivi com a música latina o tempo todo. Inclusive, nos Estados Unidos o que mais tem é isso, e o jazz chega a ser menos encontrado. Convivi com esse pessoal por uns 10 anos, o que influenciou muito meu estilo e se tornou parte do meu temperamento. O jeito que toco samba, na verdade, tem a ver com o jeito de tocar dos latinos que tocam nos EUA”, diz Donato.
FESTIVAL Ele e o cubano se conheceram em 2008, em Havana, durante um festival de música do qual Chucho era diretor. Donato foi visitá-lo em casa, mas acabaram não conseguindo tocar juntos. Na ocasião, o brasileiro gravou o DVD 'Nasci para bailar', resultado de shows feitos por lá e da convivência com músicos locais. Foi o produtor Pedro Paulo Machado (ex-Mistura Fina, RJ) quem promoveu esse encontro inédito nos palcos.
Os pianistas terão a companhia de quatro outros músicos, sendo que três deles há anos acompanham Donato: Robertinho Silva (bateria), Luiz Alves (baixo acústico) e Ricardo Pontes (saxofone e flauta). Completa o time o percussionista Frank Colón, norte-americano criado em Porto Rico, que já trabalhou com Chet Baker, Gato Barbieri, MPB4, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Chico Buarque e Ney Matogrosso.
Os ensaios começaram no domingo e serão apenas dois. O fato de serem dois pianistas de grande expressividade no palco não preocupa o brasileiro, que desde 2008 não viu mais Chucho. “Não embaralha. Enquanto um toca, o outro acompanha”, diz. E como os dois são bons improvisadores, não está descartada a hipótese de criar algo ao vivo.
Sobre o estilo do cubano, afirma: “É um pianista com influência cubana e de jazz, o que se assemelha ao meu estilo. Ele é mais prolixo, tem mais habilidade pianística. Toca com mais notas e eu, com menos. No fundo, são estilos mais ou menos semelhantes”.
Aliás, isso também o leva a outra comparação. “Eu e meu filho Donatinho tocamos piano, compomos e fazemos arranjo. Sou mais lacônico, e ele é mais prolixo. Bebo é mais melódico, e Chucho é mais rápido. Talvez sejam as mesmas diferenças entre pais e filhos.”
Conexão Brasil-Cuba
Show de João Donato e Chucho Valdés. Nesta quarta-feira, às 21h, no Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, s/nº, Centro). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada). Estacionamento: apresentando comprovante do evento, paga-se R$ 15 pelo período no estacionamento Estacione 1 (entradas pela Rua Espírito Santo, 625, e pela Rua da Bahia, 600). Informações para o público: (31) 3201-5211.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
CHUCHO VALDÉS,
pianista e compositor cubano
Você é um dos grandes nomes do jazz latino. Que contribuição acredita ter dado ao estilo?
Penso que o momento máximo foi com o grupo Irakere, que dizem ter revolucionado a música cubana em termos de timbre e ritmo. Foram muitas inovações, sobretudo por usarmos muito da linguagem africana, elementos das músicas afro-americana e tradicional cubana, como danzón, mambo, chá-chá-chá, guajira, bolero e funk. Chegamos a usar o batá, tambor africano que era restrito a cerimônias e está numa música nossa chamada Bacalao con pan. Inclusive, nasceu no grupo uma coisa chamada la timba, que foi uma nova forma de tocar a música dançante.
A música cubana é apreciada há décadas e ainda hoje inspira muitos músicos. Como explica isso?
A música cubana é muito rítmica, dançante. A que mais agradou foi a proposta pelo Buena Vista Social Club. A música tradicional cubana de estilos como chá-chá-chá, mambo, guaracha e bolero, tocada dessa forma, retomou elementos e foi muito bem-sucedida. A música contemporânea cubana é muito difícil de dançar, pois tem muita polirritmia e isso dá muito trabalho para quem vai dançar. É mais complicado. O chá-chá-chá e o mambo, por exemplo, são muito mais simples. O Buena Vista Social Club pôs a música cubana novamente no nível mais alto.
Como vê a cena musical cubana hoje?
Ela é incrível, com uma quantidade impressionante de jovens músicos em vários instrumentos. A identidade de Cuba realmente está na percussão. A música do país é muito conhecida pelo ritmo. Apesar de termos grandes pianistas e instrumentistas de sopro, a identidade cubana está, sobretudo, na percussão. A questão rítmica foi mudando através do tempo, é uma evolução. Mudou com o Irakere e continua mudando. Então, agora é um pouco diferente, mas mantendo a mesma onda afro-cubana. A lista de novos pianistas dos quais gosto seria enorme, mas posso citar Rolando Luna, Harold López Nussa, Aldo López Gavillán, David Virelles, Ivan Lewis e Fabian Almazan. O meu favorito é Gonzalo Rubalcaba. Ele é único.