João Donato e Chucho Valdés dividem pela primeira vez o palco nesta quarta em BH

Músicos devem tocar seus sucessos, sem descartar a improvisação

por Eduardo Tristão Girão 25/03/2015 08:00

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Manoela Cardoso/Divulgação
O pianista João Donato, que é fã da música latina (foto: Manoela Cardoso/Divulgação)
Esta será uma das noites mais especiais na carreira do pianista João Donato. Ele dividirá o palco com Chucho Valdés, que além de ser outro gigante do instrumento, é cubano. O brasileiro é nome de peso na MPB, profundo amante do jazz e, como fica claro ao longo de sua discografia, um devoto ouvinte da música caribenha, que se tornou influência marcante em suas maneiras de tocar e compor.


O encontro inédito terá lugar em apenas três capitais brasileiras, a começar por Belo Horizonte, hoje, seguindo para São Paulo e Rio de Janeiro. O show vai virar CD e DVD.

Durante o período em que morou nos EUA, na década de 1960, Donato tocou com muitos músicos latinos (o percussionista cubano Mongo Santamaria entre eles), o que o ajudou a forjar seu estilo. “O Bebo Valdés, pianista e pai do Chucho, foi minha primeira influência latina. Quando ouvi um disco de jazz latino dele, de 1952, fiquei influenciado pelo seu estilo”, conta o brasileiro.

Por esse motivo, o show de hoje terá composições de Bebo, a exemplo de 'Con poco coco' e 'Pan con timba'. Donato mostrará algumas de suas mais conhecidas, como 'Bananeira', 'Nasci para bailar', 'Amazonas', 'A rã' e 'Emoriô', com espaço reservado para músicas de Chucho e releituras de clássicos dos dois países, como 'Aquarela do Brasil', 'Besame mucho' e 'Guantanamera'.

“Convivi com a música latina o tempo todo. Inclusive, nos Estados Unidos o que mais tem é isso, e o jazz chega a ser menos encontrado. Convivi com esse pessoal por uns 10 anos, o que influenciou muito meu estilo e se tornou parte do meu temperamento. O jeito que toco samba, na verdade, tem a ver com o jeito de tocar dos latinos que tocam nos EUA”, diz Donato.

FESTIVAL Ele e o cubano se conheceram em 2008, em Havana, durante um festival de música do qual Chucho era diretor. Donato foi visitá-lo em casa, mas acabaram não conseguindo tocar juntos. Na ocasião, o brasileiro gravou o DVD 'Nasci para bailar', resultado de shows feitos por lá e da convivência com músicos locais. Foi o produtor Pedro Paulo Machado (ex-Mistura Fina, RJ) quem promoveu esse encontro inédito nos palcos.

Os pianistas terão a companhia de quatro outros músicos, sendo que três deles há anos acompanham Donato: Robertinho Silva (bateria), Luiz Alves (baixo acústico) e Ricardo Pontes (saxofone e flauta). Completa o time o percussionista Frank Colón, norte-americano criado em Porto Rico, que já trabalhou com Chet Baker, Gato Barbieri, MPB4, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Chico Buarque e Ney Matogrosso.

Os ensaios começaram no domingo e serão apenas dois. O fato de serem dois pianistas de grande expressividade no palco não preocupa o brasileiro, que desde 2008 não viu mais Chucho. “Não embaralha. Enquanto um toca, o outro acompanha”, diz. E como os dois são bons improvisadores, não está descartada a hipótese de criar algo ao vivo.

Sobre o estilo do cubano, afirma: “É um pianista com influência cubana e de jazz, o que se assemelha ao meu estilo. Ele é mais prolixo, tem mais habilidade pianística. Toca com mais notas e eu, com menos. No fundo, são estilos mais ou menos semelhantes”.

Aliás, isso também o leva a outra comparação. “Eu e meu filho Donatinho tocamos piano, compomos e fazemos arranjo. Sou mais lacônico, e ele é mais prolixo. Bebo é mais melódico, e Chucho é mais rápido. Talvez sejam as mesmas diferenças entre pais e filhos.”


Conexão Brasil-Cuba
Show de João Donato e Chucho Valdés. Nesta quarta-feira, às 21h, no Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, s/nº, Centro). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada). Estacionamento: apresentando comprovante do evento, paga-se R$ 15 pelo período no estacionamento Estacione 1 (entradas pela Rua Espírito Santo, 625, e pela Rua da Bahia, 600). Informações para o público: (31) 3201-5211.



TRÊS PERGUNTAS PARA...
CHUCHO VALDÉS,

pianista e compositor cubano

Você é um dos grandes nomes do jazz latino. Que contribuição acredita ter dado ao estilo?
Penso que o momento máximo foi com o grupo Irakere, que dizem ter revolucionado a música cubana em termos de timbre e ritmo. Foram muitas inovações, sobretudo por usarmos muito da linguagem africana, elementos das músicas afro-americana e tradicional cubana, como danzón, mambo, chá-chá-chá, guajira, bolero e funk. Chegamos a usar o batá, tambor africano que era restrito a cerimônias e está numa música nossa chamada Bacalao con pan. Inclusive, nasceu no grupo uma coisa chamada la timba, que foi uma nova forma de tocar a música dançante.

A música cubana é apreciada há décadas e ainda hoje inspira muitos músicos. Como explica isso?
A música cubana é muito rítmica, dançante. A que mais agradou foi a proposta pelo Buena Vista Social Club. A música tradicional cubana de estilos como chá-chá-chá, mambo, guaracha e bolero, tocada dessa forma, retomou elementos e foi muito bem-sucedida. A música contemporânea cubana é muito difícil de dançar, pois tem muita polirritmia e isso dá muito trabalho para quem vai dançar. É mais complicado. O chá-chá-chá e o mambo, por exemplo, são muito mais simples. O Buena Vista Social Club pôs a música cubana novamente no nível mais alto.

Como vê a cena musical cubana hoje?
Ela é incrível, com uma quantidade impressionante de jovens músicos em vários instrumentos. A identidade de Cuba realmente está na percussão. A música do país é muito conhecida pelo ritmo. Apesar de termos grandes pianistas e instrumentistas de sopro, a identidade cubana está, sobretudo, na percussão. A questão rítmica foi mudando através do tempo, é uma evolução. Mudou com o Irakere e continua mudando. Então, agora é um pouco diferente, mas mantendo a mesma onda afro-cubana. A lista de novos pianistas dos quais gosto seria enorme, mas posso citar Rolando Luna, Harold López Nussa, Aldo López Gavillán, David Virelles, Ivan Lewis e Fabian Almazan. O meu favorito é Gonzalo Rubalcaba. Ele é único.

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