Antes de morrer, Garner repetiu 11 vezes “I can’t breathe” (Não consigo respirar).
À medida que elas vão sendo enterradas, a música, com batida industrial, vai se tornando mais opressiva. O clima chega ao ápice na parte final, quando as últimas palavras de Eric Garner são repetidas por Richard Hell, cantor, escritor e compositor norte-americano que teve uma passagem no baixo da banda pré-punk Television nos anos 1970.
'I can’t breathe' foi gravada em dezembro, num estúdio nova-iorquino. Nadya e Masha estavam na cidade participando dos protestos contra a decisão do júri que livrou Pantaleo do julgamento pela morte de Garner. “O ritmo e a batida da música são uma metáfora de um piscar de olhos, da batida de um coração que está prestes a parar. A ausência dos habituais vocais agressivos nesta canção é uma reação a esta tragédia”, disseram, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
Mas não é somente à tragédia norte-americana que 'I can’t breathe' faz referência. “Desde nosso vídeo anterior, 'Putin will teach you how to love' (Putin irá ensiná-lo a amar, lançado há um ano), gravado durante uma violenta batalha entre criminosos e militantes durante os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochia, a Rússia ficou seriamente alterada. A partir da última primavera, temos vivido em uma condição de guerra e ódio em relação ao resto do mundo que o Kremlin chamou de Primavera Russa, após a anexação da Crimeia. Percebemos que a Rússia está se enterrando viva em relação ao resto do mundo, cometendo suicídio diário”, acrescentaram.
Assista ao clipe de 'I can't breathe':
Grupo é alvo de mordaça russa
Opositoras veementes do governo Putin, a quem consideram um ditador, as Pussy Riot se reuniram em Moscou em agosto de 2011. Com número de integrantes variável – uma dezena de mulheres, entre 20 e 33 anos –, o grupo ficou conhecido por performances provocativas que ocorriam em lugares públicos. O coletivo punk, com músicas que versam sobre o feminismo, os direitos dos LGBT e de contestação ao governo Putin, geralmente gravava suas aparições. Os vídeos rapidamente viralizavam.
Em junho, foram apresentadas acusações formais contra o grupo, num processo de 2,8 mil páginas. As três foram notificadas de que teriam cinco dias para preparar sua defesa. Iniciaram nova greve de fome, dizendo que o prazo era insuficiente. Em agosto, as três foram condenadas a dois anos de prisão por vandalismo motivado por ódio religioso (a performance que originou a prisão foi realizada numa igreja). Pouco depois da sentença, outras integrantes abandonaram a Rússia.
Libertadas no final de 2013, Maria Alyokhina e Nadezhda Tolokonnikova participaram, em fevereiro do ano passado, de um show em benefício da Anistia Internacional no Barclays Center, em Nova York. A participação ocorreu após convite de Madonna. Integrantes anônimos do Pussy Riot fizeram um protesto dizendo que as duas não mais pertenciam ao grupo.