Victor Biglione dedica seu novo disco ao violão que fez a fama de Garoto, Dilermando Reis e Duofel

Violonista argentino faz elogio às cordas de aço em repertório que reúne composições de Tom Jobim, João Donato e Milton Nascimento

por Eduardo Tristão Girão 27/12/2014 07:00

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André Santos/divulgação
(foto: André Santos/divulgação )

Pense nos grandes violonistas brasileiros da atualidade. Quantos usam violão com cordas de aço em vez de náilon? Não são muitos. Um deles é Victor Biglione, argentino radicado desde criança no Rio de Janeiro e dedicado há 40 anos ao instrumento. Ele emplacou essa sonoridade nos trabalhos de João Bosco, Wagner Tiso e do ex-Police Andy Summers, além de defendê-la em trabalhos solo, aos quais se soma o recém-lançado Violão de aço Brasil.


A ideia, como o título sugere, é fazer o elogio às cordas de aço por meio do repertório brasileiro, evidenciando a afinidade que, na visão de Biglione, existe há tempos na música do país. “Garoto só usava aço, o Dilermando Reis e os sambistas de antigamente também. O próprio João Gilberto chegou a usar. O instrumento ficou em segundo plano, primeiro por causa da bossa nova, quando todo mundo usava náilon, e isso se transformou em marca muito brasileira”, analisa.

Talentos que vieram depois, como Baden Powell, Raphael Rabello e Yamandu Costa, também deram preferência ao violão de náilon. “O pessoal tem usado o violão de aço só para fazer o ‘chacundum’. Aqui no Brasil, poucas pessoas usam, como os meus amigos do Duofel. Quero incentivar isso. O pessoal está com medo de solar – não falo só da nova geração, pois os ‘cascudos’ também estão. É preciso muita dedicação técnica”, defende.


Em ótima forma, Biglione passeia por 13 faixas, que vão de Senô ('Duda no frevo') a Tom Jobim ('Wave'), passando por Baden Powell ('Cai dentro', parceria com Paulo César Pinheiro), João Donato ('Amazonas', com Lysias Ênio) e Hermeto Pascoal ('São Jorge'). De Milton Nascimento ele pinçou 'Tostão' e 'Fé cega faca amolada' (com Ronaldo Bastos). Para representar sua terra natal, incluiu 'Por una cabeza', clássico de Carlos Gardel (com Alfredo Le Pera). Há só uma autoral: 'Lusco-fusco de Buenos Aires'.


No estúdio, Biglione se cercou de alguns dos melhores instrumentistas do país: os baterisas André Tandeta e Jurim Moreira, os baixistas Jorge Helder e Arthur Maia, o percussionista Marcos Suzano (que contribuiu com a faixa 'Flash', de sua autoria), o violoncelista Lui Coimbra e o flautista e saxofonista Carlos Malta. A produção é do próprio argentino, que assina quase todos os arranjos sozinho, compartilhando a tarefa com alguns dos convidados em duas faixas.

VERSATILIDADE

A ligação de Biglione com o violão de aço começou cedo, em discos de rock. “As bandas brasileiras usavam o instrumento para acompanhamento, mas logo depois descobri Garoto, Dilermando Reis, Quinteto Violado, Django Reinhardt, Al di Meola e John McLaughlin. Fui fazendo o caldeirão de influências que me fascinam”, conta. Convicto, surpreendeu outros artistas, que o convidaram para gravar com as cordas de aço. João Bosco, que Biglione acompanhou por três anos, foi um deles.


“A guitarra tem os pedais de efeito, que o ajudam a se safar em qualquer situção. O violão de aço pede muita dedicação e empenho técnico violento. A sonoridade é mais agressiva que a do náilon e me possibilita ampliar a participação em diversos trabalhos, como jazz, bossa nova, música latina e folclórica. A versatilidade é um pouco maior que a das cordas de náilon”, conclui. O instrumento principal usado por Biglione é um violão Taylor 414ce Cutaway, fabricado em 1997.


Dos Stones a Gonzaguinha

Um dos novos projetos de Victor Biglione será um disco com regravações de clássicos do rock, mas usando guitarra. “Gosto muito de funk rock, como o de Jimi Hendrix em uma de suas fases, do Deep Purple, com Tommy Bolin, e do Rolling Stones. Algumas coisas ficam bem originais”, adianta. Outra ideia: um álbum com o violonista Marcel Powell, cujo repertório trará exclusivamente canções de Gonzaguinha, com quem Biglione trabalhou.

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