Milhares de pessoas prestigiaram mostras de qualidade exibidas em Belo Horizonte em 2014

Projetos educativos e diversidade de opções têm formado público para exposições

por Walter Sebastião 22/12/2014 09:59

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Jair Amaral/EM/D.A Press
O público aprovou %u2013 e devorou %u2013 a instalação 'Comendo a cidade', do artista chinês Song Dong, exposta no Centro Cultural Banco do Brasil (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Um ano marcado por cardápio variado e iguarias finas para todos os gostos. Foi assim a agenda de 2014 das artes visuais em BH. Como o público está em lua de mel com as instituições, elas responderam com mostras de impacto – só cerejas em um banquete generoso. O público prestigiou mostras que evidenciaram a experimentação explícita e o uso renovado de práticas tradicionais. Viram-se grandes coletivas, que investigaram questões estéticas ou sociais, e individuais expressivas. O barroco mereceu atenção, assim como a revisão crítica do período da ditadura militar.

A diversidade de manifestações, apresentada de forma organizada, vai construindo em escala coletiva a sensibilidade ampliada, que pode ser fruída – sem preconceitos – em instalações e performances ou em pinturas e gravuras. Vale observar: esse trabalho é produto da longa dedicação das instituições (especialmente de serviços educativos mantidos por elas) e também do bom atendimento ao público, incentivando a discussão do que está exposto. Essa movimentação trouxe à capital peças primorosas de autores clássicos.

Quem teve um ano especial foi o Palácio das Artes. Praticamente toda a programação lá exibida demonstrou alta qualidade. Acrescente-se a extensão de interesses, conteúdos e práticas, cujo melhor exemplo é 'Arte à primeira vista: páginas de uma história', a deliciosa mostra dedicada às crianças, que fez sucesso e atraiu 18.438 visitantes.
 
 
GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
'Visões na Coleção Ludwig' trouxe obras de Picasso à capital mineira (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Recorde

Quem fez sensação foi o chinês Song Dong com a instalação 'Comendo a cidade', que ergueu uma Belo Horizonte com biscoitos e balas na mostra 'Ciclo', no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A obra foi devorada pelo público. 'Visões na Coleção Ludwig', também apresentada no espaço, foi a exposição que teve mais público em 2014: 119.810 visitantes – o maior desde a abertura do espaço. Agradou a mistura de tempos, estéticas, histórias, produção contemporânea e moderna com autores pouco conhecidos e ícones da história da arte. Em 2014, o CCBB atraiu 534.488 pessoas. Ofereceu oito mostras. Os jovens prestigiaram a politizada 'Resistir é preciso', sobre a imprensa durante a ditadura militar.


SEBASTIÃO SALGADO/DIVULGAÇÃO
A série 'Genesis, de Sebastião Salgado', atraiu 16,1 mil espectadores (foto: SEBASTIÃO SALGADO/DIVULGAÇÃO)
Carisma

Quem reafirmou seu carisma e prestígio foi o fotógrafo Sebastião Salgado. O mineiro foi campeão de público em duas instituições – Palácio das Artes, com a série 'Genesis', vista por 107.903 pessoas, e Museu Inimá de Paula, com a série 'Êxodos', que recebeu 16.117 visitantes. Pode-se até discutir a grandiosidade, eloquência mesmo, que o fotógrafo impõe a suas imagens. Mas essas questões são menores diante da beleza e da expressividade de suas fotos.


BETO NOVAES/EM/D.A PRESS
Wilma Martins, autora singular nas artes do país, ganhou retrospectiva no Minas Tênis (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Charme

Simples, direta, clara e divertida. Foi assim a mostra 'Retrospectiva – cotidiano e sonho', dedicada à obra de Wilma Martins, com curadoria de Frederico Morais, apresentada na Galeria de Arte do Minas Tênis Clube. A artista encantou com sua elaborada visão do ambiente doméstico, representado com poesia e ironia. Sinalizou, ainda, o quão contemporânea pode ser a criação de autores singulares “desligados” das estéticas dominantes. Outras exposições pontuaram esse aspecto: a de Leila Danziger, na Funarte MG, e as do escultor Angelo Venosa e do Grivo, no Palácio das Artes.


SESC/DIVULGAÇÃO
Bordados de Adelícia Amorim conquistaram seu espaço na galeria de arte do Sesc (foto: SESC/DIVULGAÇÃO)
De dalí ao bordado

'Dalí – A divina comédia' marcou a estreia da Academia Mineira de Letras como espaço de exposições, recebendo, segundo os organizadores, 20 mil pessoas. A mostra que teve maior público na galeria do Minas Tênis Clube foi 'Cor, luz e movimento', com curadoria de Marcus Lontra, que atraiu 12 mil visitantes. BH aprovou essa saborosa especulação sobre a arte cinética no contexto brasileiro. Na galeria de arte GTO do Sesc Palladium, a mostra mais visitada (2.476 pessoas) foi 'O jardim de Adelícia – Adelícia Amorim e outros contemporâneos', que entrelaçou bordados com arte popular e erudita.


STUDIO CERRI/DIVULGAÇÃO
Peças de prata italianas trouxeram a BH outra visão da arte barroca (foto: STUDIO CERRI/DIVULGAÇÃO)
Aleijadinho

Material raro pôde ser visto na exposição 'Barroco Itália Brasil prata e ouro', na Casa Fiat. De um lado, o conjunto admirável de esculturas italianas em prata do século 16, com curadoria de Giorgio Leone e Rossella Vodret. De outro, 20 peças de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ou atribuídas a ele, selecionadas por Ângelo Oswaldo de Araújo Santos. Criou-se um contexto singular, sugestivo e paradoxal para apreciação da produção naquele período. Chamou a atenção como a arte do mestre mineiro se afirmou com naturalidade, criativa e elegante, diante da beleza algo bizarra, técnica e ostentatória dos italianos.


RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS
Público recebeu lupas para conferir de perto as obras expostas em 'Mestres da gravura' (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Acervos

Coleções e colecionadores foram matrizes de exposições importantes em 2014. 'Portinari na Coleção Castro Maya', no Museu Inimá de Paula, tematizou a relação do artista com o mecenas carioca. O pequeno colecionador, amante das artes e admirador de artistas mineiros, foi lembrado em 'Afetividades eletivas', na Galeria de Arte do Minas Tênis Clube, que apresenta seleção de peças pertencentes a Luiz Sérgio Arantes. 'Mestres da gravura', no Palácio das Artes, exibiu o primoroso acervo da Biblioteca Nacional. 'Do objeto para o mundo', no Palácio das Artes e no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, exibiu pela primeira vez a coleção Inhotim fora da sede da instituição, em Brumadinho.

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