“É um disco de grupo, um trabalho coletivo, com todo mundo representado. Tem música autoral, outras que vínhamos tocando e não eram nossas, coisas mais antigas e mais novas. Todo mundo falou e deu opinião, a escolha foi bem democrática. Cada um tem uma cara, um jeito, e isso está bem representado. 'Semente' traz samba antigo, moderno e até baião. Não ficou uma colcha de retalhos. É o retrato do grupo”, define o cavaquinista João Callado.
As participações especiais ficaram por conta dos cantores Diogo Nogueira, Pedrinho Miranda (ex-Semente) e a própria Teresa Cristina. “O grupo foi criado em torno da Teresa, estávamos todos começando. Nossas trajetórias estão misturadas, ela está sempre por perto. É uma referência para todos nós, seja pelo repertório, pelos arranjos ou as escolhas que faz”, explica Callado.
GERAÇÕES Uma das peculiaridades do grupo é a diferença de idade. Mestre Trambique é o mais velho, com 69 anos, e Bruno o mais novo, com 31. Na avaliação de Callado, esse fato, bem como os perfis distintos de cada um, enriquece bastante a sonoridade do Semente. “Trambique e Esguleba vêm de escola de samba. Eu e Bernardo somos mais Zona Sul, estudamos música na escola e somos mais músicos do que sambistas. Já o Bruno transita bem entre todos esses mundos”, diz o cavaquinista.
Callado acredita que, em termos de sonoridade, o quinteto aperfeiçoou a busca pela simplicidade com o passar do tempo. “É preciso servir ao propósito da música. Ou seja, tentar não ficar fazendo mil solos, mil viradas. E procurar a medida entre o samba moderno e tradicional. Particularmente, tenho buscado linguagem mais moderna na harmonia e na melodia. Às vezes, até com um pé no internacional. Estava ouvindo Paul McCartney na época da gravação”, revela.
Tem uai no samba
Entre cariocas e niteroienses, há um mineiro no Semente: Mestre Trambique. Ainda criança, ele se mudou para o Rio de Janeiro. Começou a carreira como ritmista nos anos 1960, foi mestre da escola mirim da Vila Isabel e, em 1980, ganhou o Prêmio Estandarte de Ouro de personalidade masculina. Com parceiros, compôs canções lançadas por Bezerra da Silva (Garoa). Trambique gravou com Chico Buarque, Maria Bethânia, Raphael Rabello, Beth Carvalho e Moraes Moreira.