Thiago Pethit lança terceiro álbum, com referências no rock melancólico e no blues

Participação de Joe Dallessandro dá tom sexy e underground ao trabalho do cantor

por Mariana Peixoto 23/11/2014 10:00

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Gianfranco Briceño/Divulgação
Thiago Pethit, mesmo identificado como a nova MPB, faz questão de manter a postura anarquista e provocadora do rock dos anos 60 (foto: Gianfranco Briceño/Divulgação)

“Hey, Pethit. Little Joe falando. Por que não nos mostra um rock’n’roll sugar?” É Joe Dallessandro, personagem que fez história no underground nova-iorquino dos anos 1960 e 1970 graças aos filmes de Andy Wahrol (é ele também o Little Joe personagem de Walk on the wild side, de Lou Reed), quem introduz Rock’n’roll sugar darling, terceiro álbum do cantor e compositor paulista Thiago Pethit. A partir da curta introdução, somos envolvidos num universo de roqueiro munido de muito sexo, guitarras sujas, amores bandidos e malícia, sempre regidos pela intensidade.

“Não consigo fazer um disco somente com músicas que reuni. Um álbum é um pacote completo, tem conceito, uma razão para existir. Meus três discos (os anteriores são Berlim, Texas, 2010, e Estrela decadente, 2012) surgiram do mesmo jeito. Fiz três músicas, entendi o que queriam dizer e daí pensei em um conceito para cada um dos discos. No caso deste, é o rock’n’roll, mas açucarado e afetado”, afirma Pethit.

Uma mudança e tanto para um nome que quatro anos atrás foi apresentado ao público junto aos de Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Karina Buhr, Cícero e Silva, na chamado neo-MPB. “O que fazia para eu estar ali é que tudo era muito plural, a grande semelhança entre nós eram as diferenças”, diz Pethit. Sob o guarda-chuva da neo-MPB, cabiam rock, samba, eletrônica e até mesmo sertanejo. “Passados quatro anos, me identifico cada vez menos com os sons, temáticas, visual e discurso. Sou um estranho no ninho”, brinca.

Fora do ninho, Pethit, que tem um início caracterizado pelo sotaque folk e uma certa melancolia que marcaram a carreira de cantores e compositores como Elliot Smith e Jeff Buckley, se encontra agora confortável no universo roqueiro. Rock’n’roll sugar darling vai para diferentes épocas e subgêneros. Iggy Pop com guitarra de blues em Quero ser seu cão (o título é a tradução literal de I wanna be your dog, dos Stooges); rock lisérgico embalado com um teclado à la Doors em 1992; blues rock em Voodoo; e uma balada com clima de road movie, Romeo.

Primeiro single do álbum, ganhou clipe gravado em Los Angeles. A bordo de um conversível, um casal numa versão bem mais suave de Bonnie & Clyde (ou da dupla de psicopatas Mickey e Mallory Knox, do filme Assassinos por natureza, de Oliver Stone) sai pelas ruas, faz amor, rouba uma loja e termina num desfiladeiro. O encarte, com 12 fotos de Pethit, também foi registrado naquela cidade, que inspirou o projeto gráfico do disco. “Ao me afundar no rock, passei a fazer um show mais pesado. O público ficou mais intenso também. Ao brincar com androginia, sexualidade, libido, levo a coisa para o lado pessoal, mas, ao mesmo tempo, reflito sobre o que está acontecendo no mundo.”

Pethit fala nisso para relembrar declarações passadas. “Em agosto de 2012, quando lancei meu segundo disco, disse que o mundo estava ficando carente e decadente, um mundo que tinha uma bancada evangélica chegando ao poder. Disseram-me que eu estava exagerando, mas em janeiro de 2013 Marco Feliciano virou o grande tema. Depois, vieram as manifestações de junho e agora, no momento em que lanço um novo disco, o Lobão, o maior roqueiro deste país, pede o impeachment da presidente.” E onde ele se encaixa nesse meio? “Decidi assumir o lado provocador e anárquico do rock. Minha música não é à direita nem à esquerda, é feita para a minoria, para a mulher, o negro. De repente, me sinto contundente, mas não mercadológico”, conclui.

Ícone de uma era

Foi por intermédio de um amigo em comum que Thiago Pethit chegou a Joe Dallessandro, aquele que já foi considerado um dos homens mais bonitos do mundo. Hoje, aos 65 anos e radicado na Califórnia, ele tem um passado de sex symbol da era do underground. Também foi um ícone da cultura gay. Quando adolescente, abandonado pelos pais, viveu num internato em Nova York. Virou ladrão de carros, depois garoto de programa e acabou como segurança da Factory, o lendário espaço dedicado às artes criado por Andy Wahrol nos anos 1960.

Descoberto pelo papa da pop art, participou de filmes dele. Dallessandro foi a inspiração de Pethit para o clipe de Moon, canção de Estrela decadente, seu disco anterior. Foi por causa do clipe que o paulista entrou em contato com ele, hoje casado com Kim, que também participa do disco por meio de um poema, citado na faixa Story in blue, que encerra o álbum.

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