Otto apresenta show dedicado a Martinho da Vila no Vivo Open Air

Fã do sambista desde os 6 anos, o cantor e compositor pernambucano reverencia os mestres da cultura popular

por Walter Sebastião 21/11/2014 07:00
Caroline Bittencourt/divulgação
O cantor e compositor Otto afirma que as canções de Martinho da Vila dizem o que o povo precisa saber (foto: Caroline Bittencourt/divulgação)
“'Canta canta minha gente' é o disco da minha vida”, afirma Otto, referindo-se ao álbum de Martinho da Vila, lançado em 1974, que ele ganhou aos 6 anos. “Tenho todas as melodias na memória. Não guardei as letras porque era muita poesia para a cabeça de um menino”, revela. Nesta sexta-feira, o cantor e compositor chega a BH para apresentar show em homenagem ao sambista, no Mirante Olhos D’Água.


Otto adora cantar 'Tribo dos carajás', 'Disritmia', 'Viajando' e 'Visgo de jaca', entre outras canções do repertório de Martinho da Vila. “Elas dizem tudo que o povo precisa saber. Tenho descoberto o quanto Martinho é contemporâneo, moderno. Ele trouxe para o Brasil-cidade a música da senzala, da fazenda”, argumenta. Para Otto, seu show é porta de entrada para o universo de um artista especial, que em suas gravações cuida com carinho da parte instrumental. Esse apuro exige capricho da banda que tem acompanhado o pernambucano em seu novo projeto.

“Estou cantando igual ao Martinho para não desperdiçar um momento de prazer”, brinca Otto, referindo-se às interpretações especiais do sambista. Ele ouviu o disco 'Canta canta minha gente' quando ainda morava em Flores, no sertão de Pernambuco. Diz que era um momento feliz de sua vida com a família, interrompido repentinamente pela decisão do pai de se mudar para o Recife em busca de vacina para os filhos, devido a um surto de meningite.

Martinho da Vila ainda não viu o show de Otto. De acordo com a assessoria do sambista, ele adorou o projeto e se encantou com as releituras do pernambucano. Agora, os dois amigos tentam conciliar agendas para dividir o palco.

A presença da cultura popular na música de Otto não é episódica. Desde seu primeiro disco solo, 'Samba pra burro' (1998), ele desenvolve uma estética em que a cultura de raiz (não só a pernambucana) dialoga com experimentações eletrônicas. Otto participou do movimento manguebeat, surgido no início da década de 1990, que trabalhou essa proposta de forma particularmente arrojada, mesclando maracatu, hip-hop e rock.

Percussionista, Otto integrou as bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, linha de frente do manguebeat. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, chegou a tocar em gafieiras ao lado de Jovelina Pérola Negra. O compositor chama a atenção para a riqueza da cultura popular brasileira. “Para mim, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Guimarães Rosa, Martinho da Vila, Cartola e Pixinguinha são grandes mestres. Como todos o mestres, eles sempre nos dizem o que podemos fazer de melhor. Mostram caminhos para as pessoas se entenderem, nos ensinam como cravar o pé na terra”, diz. “Aprendi com meu pai: o mestre tem o verbo, nos dá uma língua para que ninguém nunca mais nos desrespeite como seres humanos, povo ou nação”, destaca.

O compositor, de 46 anos, tem quase duas décadas de carreira. Para ele, “humildade e reconhecer as próprias limitações” são resquisitos essenciais para quem pretende se dedicar à música. Também é necessário grandeza “para enfrentar o ofício com seriedade, sem ser empregado e sem ser centurião”, conclui, referindo-se ao comandante das antigas legiões romanas.

OTTO POR OTTO

Autorretrato
“Vim do agreste, me formei na vida e virei um cantor. Sou o cara mais indie do mundo. Não fui feito, não sou teórico, só sei me expressar e amo não depender de ninguém. Para aumentar a independência, nasci em 28 de junho, como Raul Seixas. A música cobrou tudo de mim: mentiras, verdades, atitudes, ser pai de família, saúde, estresses e desgastes. Devo tudo à força que trago em mim. Quem nos ajuda é a gente mesmo. Tenho 46 anos, já não sou menino, então tomo cuidado para não fazer mer...”.

Música
“O que faço é apresentar a cultura popular de forma contemporânea. Ela está em mim, foi a minha formação artística e é a riqueza do Brasil. Nosso único problema é econômico, o resto temos tudo. A importância da cultura de raiz é dar identidade ao Brasil. Isso é importante, pois tem muita gente que se perde devido a esse mercado louco. A eletrônica, na minha opinião, é como cueca: quem gosta usa, quem não gosta não usa. Ela remete ao caos urbano, pôs as pessoas para dançar e trouxe qualidade sonora. Você pode ouvir ouvir mil DJs, mil clássicos – e ela está lá. Hoje, tudo passa pela eletrônica.”

Brasil
“Em termos sociais, nunca estivemos melhor. Estamos no momento certo de validar o combate à corrupção e não tem mão melhor para isso do que a dessa mulher que é a nossa presidente. Talvez este seja o destino dela: fazer com que esse pessoal nunca mais nos sabote. Se não fosse músico, gostaria de ser presidente da República. É tão fácil fazer coisa melhor do que está aí... Dá até vontade de tentar.”

PROGRAMAÇÃO VIVO OPEN AIR


SEXTA
19h – Banda Take Five
20h45 – Curta: Ed
21h – Filme: Os guardiões da galáxia
23h30 – Show: Otto canta Martinho da Vila

SÁBADO
21h – Filme: Vizinhos
23h – Festa Push

DOMINGO
20h – Filme: As férias do pequeno Nicolau

DIA 26
19h – Carlim Oliveira Trio
21h – Filme: O poderoso chefão

DIA 27
19h – Carlim Oliveira Trio
20h – Filme: ET-ilico
21h – Filme: 007 – Operação Skyfall
23h30 – Show: Banda Vulgo

DIA 28
20h50 – Curta: Malária
21h – Filme: Pulp fiction
23h – Festa Alta Fidelidade

DIA 29
21h – Filme: Laranja mecânica
23h – Festa Camarim

DIA 30
20h – Filme: ET


VIVO OPEN AIR
Mirante Olhos D’Água. Rua Gabriel de Melo, s/nº, Bairro Olhos D’Água. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada), para shows, festas e cinema. Ingressos – R$ 60 e R$ 30, só para shows e cinema. Informações: www.ingressorapido.com.br.
À venda na Leitura Megastore (BH Shopping), Fnac (BH Shopping) e Ingresso Rápido (Shopping 5ª Avenida).

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