'Souvenir', novo disco de Silvia Machete, explora o que a artista tem de melhor

Álbum traz músicas que foram selecionadas por ela a dedo. Todas as canções contam histórias

por Ailton Magioli 19/10/2014 07:00

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Arthur Nobre/Divulgação
(foto: Arthur Nobre/Divulgação)
Sete anos depois de voltar ao Brasil, a cantora, compositora, atriz e performer carioca Silvia Machete afivela as malas para voltar a Nova York (EUA), onde já havia morado por 12 anos, mesmo que os verões fossem dedicados por ela às temporadas teatrais na Europa. “A cidade tem espaço maior para novas ideias”, justifica a artista, que está lançando o CD 'Souvenir' (Coqueiro Records), no qual explora mais a veia de intérprete.

“Está difícil criar espontaneamente no Brasil, onde a arte é ligada a projetos de lei”, lamenta Silvia Machete, que, além de formar uma banda norte-americana, pretende verter algumas de suas canções para o inglês durante os shows. Os laços com o Brasil serão mantidos, conforme faz questão de ressaltar a multiartista, cujo trabalho está cada vez mais performático. “Tenho saudade de um processo criativo que não existe por aqui”, acrescenta Silvia, com conhecimento de causa.

Ao gravar a própria releitura para 'Tatuagem', de Rui Guerra e Chico Buarque, acompanhada do pianista Jason Lindner, ela teve de fazer o que chama de “dança interpretativa” da canção para que o amigo pudesse captar o que ela queria. A falta de conhecimento dele sobre a importância de Chico para o nosso cancioneiro e do peso da canção para a cultura brasileira fez com que a versão ficasse “careta”.

Resultado: ela criou uma coreografia para 'Tatuagem', que os interessados podem conferir na rede, onde um belo clipe dá a ideia da força da performance na formação de Silvia Machete. “As pessoas no Brasil são muito tradicionais. Mexer com a obra de Chico é o mesmo que mexer com fogo”, constata ela, que, para evitar mal-entendidos, contou ao amigo gringo a importância do mestre para a MPB.

De qualquer forma, em 'Souvenir', o que Silvia Machete quis foi cantar a obra de grandes contadores de história. Eduardo Dusek ('Totalmente tcha tcha tcha'), Angela Ro Ro ('Tango da bronquite') e Moraes Moreira ('Nada') são alguns dos profissionais que fizeram canções especialmente para o CD. Já Angela Ro Ro chegou, inclusive, a dividir a interpretação com Silvia no estúdio.

“Fui em busca de pessoas que contassem histórias melhor do que eu”, esclarece a cantora, lembrando que Dusek é supercarioca e irreverente, com quem sempre se identificou, e que Ro Ro “está sempre à frente de seu tempo”. A cantora é, para ela, exemplo de identidade feminista, enquanto Moraes Moreira é um contador de histórias à parte.

Não bastassem os três, encantada com a forma diferente dos portugueses escreverem, Silvia Machete ganhou de presente canções dos patrícios Sergio Godinho ('Espetáculo') e Jorge Palma ('Trapézio'), que, em sua opinião, sempre foram grandes contadores de história. Mais: Jorge Mautner e Rubinho Jacobina ('Ba be bi bo bu') e a própria Silvia ('Cachorros') também escreveram especialmente para o disco, que poderia ser muito bem puxado pela canção de Dusek, que pouco toca no rádio, mas, na opinião da cantora, é superpop e radiofônica.

Enquanto março não chega, quem sabe Silvia Machete não traz a Minas o seu 'Souvenir'. Afinal, por mais que a cena musical também esteja presa aos projetos de lei de incentivo, o público sempre quer o que há de novo. Em especial o trabalho de uma cantora que não se limita a cantar, mas a interpretar literalmente as canções, com direito a instigantes performances.


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