Márcio Faraco toca viola caipira e cavaquinho em seu novo disco

Cantor e compositor gravou novo álbum na França

por Eduardo Tristão Girão 05/10/2014 00:13

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Sarah Blum/Divulgação
(foto: Sarah Blum/Divulgação)
Gaúcho radicado na Europa desde 1992, o cantor e compositor Márcio Faraco sempre gravou seus discos no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, onde também tem casa. Desta vez, para registrar Cajueiro, seu novo trabalho, optou por continuar na França. Cercou-se de músicos brasileiros e franceses para cantar 11 temas próprios, passando pelo samba, xote e milonga e reservando espaço para flertes com a música francesa.

“Componho sempre, acordo e vou compondo. Não escrevo nada em estúdio. Não tenho ideia do que vai acontecer, nem tenho projetos preconcebidos. À medida que vou gravando é que o disco vai tomando uma cara. Para essa primeira vez que gravei na França, pensei no acordeom, que é o mais internacional dos instrumentos, além de ser linguagem comum à França e ao Brasil”, conta Faraco. As gravações foram feitas num casarão no interior e no estúdio Ferber, em Paris.

Entre os brasileiros, compareceram Gerson Saeki (baixo), Zé Luís Nascimento e Julio Gonçalves (ambos percussionistas). Do lado francês, vieram Lionel Suarez (acordeom e bandoneom), Laurent Vernerey (baixo) e Nicolas Montazaud (percussão e vibrafone). No meio disso, está Philippe Baden Powell (piano), que nasceu em Paris e é filho do violonista fluminense Baden Powell – ele e Faraco tocam juntos há vários anos.

Além de violão e cavaquinho, Márcio tocou viola caipira. “Desde meu segundo disco tenho usado o instrumento. Na música caipira, a viola é muito bem usada, mas merece circular mais e combina muito bem com o violão. Ela é uma cor dentro do disco.” As inconfundíveis 10 cordas marcam presença em faixas como Mundo lelê e São Sebastião, ambas com sotaque bem brasileiro.

A faixa-título, que abre o disco e também tem tempero tupiniquim, conta com letra sobre paisagem da infância do artista – povoada por pitombeira, siriguela, guaiamum, caramujo, cajá, sapoti e cajueiro – e que foi destruída pela construção de shopping center e condomínio no local. É um dos pontos altos do trabalho, remetendo ao que fez com suas lembranças na ótima canção Na casa do Seu Humberto, de seu disco de estreia, Ciranda (2000).

“A música brasileira tira muito dos músicos. Você mostra uma composição e eles têm a impressão de estarem trabalhando com o que querem. Então, é fácil conseguir os músicos para trabalhar com isso. Mesmo assim, não quis que os estrangeiros que chamei soassem como músicos brasileiros, quis a visão deles sobre nossa música. No Brasil, tudo o que depende da inventividade é sensacional, e no exterior, tudo o que depende do rigor é sensacional”, observa.

Cabaré

A primeira parada de Faraco quando partiu para a Europa foi a Inglaterra. Não viu futuro para sua música lá e rumou para Saint-Tropez, na França, onde começou a “tocar para milionários”, como ele mesmo diz. “Toquei em tudo que é evento, todos os dias, e isso abriu meu horizonte. Dá para ficar a vida toda na Europa fazendo isso”, conta. Entretanto, não deixou seu lado compositor de lado e teve até ajuda de Chico Buarque para apostar no lado autoral.

De quatro anos para cá, ele tem se dividido entre Paris e Rio de Janeiro. Apesar da saudade, ele não vê muita chance de voltar a morar aqui. “O Brasil tem muito cabaré e toco em teatro. Não vejo muito futuro para mim no país. Nunca tive muito retorno. Preciso ser responsável”, afirma o artista, que também morou em Belo Horizonte.

Atualmente, ele toca em países tão diversos como Estados Unidos, Polônia, Tailândia e Azerbaijão. “Imagino que as pessoas, quando ouvem a nossa música, sentem como se ela fosse um pouco delas também. Todo mundo foi para o Brasil. Fora a língua em si, que passa muita intenção já na entonação”, conta.

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