Pascoal Meirelles completa 70 anos como um dos expoentes do jeito brasileiro de tocar bateria

Músico destaca, com João Barone e Robertinho Silva, quem são os craques do instrumento

por Eduardo Tristão Girão 05/10/2014 00:13

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Aloízio Jordão/Divulgação
O mineiro Pascoal Meirelles, que tocou com Tom Jobim e Elis Regina, está lançando o álbum instrumental 50 (foto: Aloízio Jordão/Divulgação)
Um dos grandes bateristas do país, o belo-horizontino Pascoal Meirelles chega aos 70 anos e 50 de carreira. Criou grupos importantes, como o Cama de Gato e o Tempo Trio, acompanhou artistas do quilate de Tom Jobim, Chico Buarque e Elis Regina, lançou livro didático sobre o instrumento e ajudou a desenvolver, ao lado de outros gigantes, aquilo que ainda hoje está em transformação: a bateria brasileira. Uma história que começa décadas atrás, com o samba, e segue escrita pelo talentos atuais.


“O Luciano Perrone, nos anos 1920, foi fundamental ao trazer a escola de samba para a bateria. Os que vieram a seguir pegaram essa contribuição e seguiram seus caminhos. Na época da bossa nova, os bateristas de sucesso começaram a ser muito influenciados pelo jazz e fizeram uma releitura do samba com essa influência. Nisso, Edison Machado, Dom Um Romão, Hélcio Milito e Rubens Barsotti fizeram leituras pessoais e diferentes muito importantes”, define Meirelles.

No caso dele, fica evidente o engajamento nessa causa em discos como o recém-lançado 50, no qual reúne 12 composições autorais pinçadas entre seus 17 trabalhos de carreira solo (e remasterizadas). Faixas como Considerações a respeito, Paula e Espero sambando, gravadas com diferentes formações, não deixam dúvida em relação a seu apreço pelos ritmos do país e ao esforço para fundi-los com a linguagem instrumental e em formações que vão de trios a orquestra.

“Existe um estilo brasileiro de tocar, claro. Depois que os bateristas dos anos 1950 e 1960 solidificaram a linguagem de jazz no samba, houve revival do samba nos tambores da bateria e equilibrou-se mais o jeito de tocar. Isso aconteceu com o tempo. Quando começou a bossa nova, era todo mundo no prato e no contratempo. Se não fizesse isso, nem era chamado para tocar. Isso mudou bastante e, hoje, as pessoas se interessam pela raiz dos ritmos. A bateria atual tem mais diversidade e referências das nossas raízes”, diz.

Vassourinha Outro veterano das baquetas, o carioca Robertinho Silva, 72 anos, aponta série de outros nomes que ajudaram a fundar a bateria brasileira, além do próprio Luciano Perrone, responsável pelo primeiro solo de bateria que ouviu no rádio. “Tinha também o Iodofredo, que tocava numa gafieira carioca no Bairro Bento Ribeiro. Ele é que foi o inventor do samba no prato, não o Edison Machado, que foi levado lá pelo trombonista Raul de Souza.”

E continua: “A bateria brasileira não tinha prato. O samba era tocado só nos couros. O Juquinha foi o primeiro a tocar samba de vassourinha, indicado pelo Tom Jobim para tocar com João Gilberto. Ele já tocava baixinho, porque os lugares eram pequenos. O Hélcio Milito pegou essa jogada dele e modernizou no Tamba Trio. Eu explorei bastante isso, copiei o estilo dele e depois criei o meu. Agora, o baterista que inventou o toque da bossa nova é o Guarany, lá do Paraná”.

Ele fala com especial atenção de Wilson das Neves, que ajudou a mudar sua maneira de tocar. “Ele tocava moderno. Eu o copiava quando ia tocar com as orquestras. Ele conduzia nos pratos e tocava muito forte os pratos nas viradas. Foi na onda dos norte-americanos, que tocam o que a música pede, não para o maestro.” A passagem pelos bailes, na opinião dele, fez, de bateristas como Dom Um Romão, Edison Machado e Milton Banana, instrumentistas versáteis, preparados para tocar de ouvido qualquer estilo.

Hoje Titular da bateria dos Paralamas do Sucesso, João Barone, 52 anos, é ícone de outra geração e enxerga continuidade nessa tradição. “Hoje temos exemplos muito bons, seja com o samba elegante do Wilson das Neves ou a explosão metaleira do Igor Cavalera, Aquiles Priester e Eloy Casagrande, reconhecidos internacionalmente. O Brasil é um manancial de excelentes bateristas. Sempre achei Robertinho Silva um mestre. Atualmente, acho o Pupillo, da Nação Zumbi, um dos caras mais originais”, elogia.

A maior referência de Barone é o rock de Rolling Stones, Led Zeppelin, Cream e The Who. Sua primeira influência foi a de Stewart Copeland, do The Police, e ele cresceu ouvindo Beatles. Mesmo assim, foi a partir desse caldo roqueiro que seus ouvidos se abriram para os ritmos brasileiros. O resultado dessa mistura é o toque preciso, forte e exuberante que se ouve nos discos do Paralamas.


“Aquelas músicas dos primeiros discos dos Beatles, com batidas de rumba e chá-chá-chá, me ajudaram a perder o preconceito com ritmos latinos. Ainda criança, adorava quando o Zimbo Trio aparecia na TV, com o grande Rubinho Barsotti nas baquetas. Depois, já nos Paralamas, veio a onda do reggae e afro, que têm uma encruzilhada nos toques das religiões africanas, que se cruzam no Caribe e na Bahia”, finaliza.

Luciano Perrone

Filho de pianista e chefe de banda militar, adaptou para a bateria a batida das escolas de samba, nos anos 1920, abrindo caminho para a evolução do ritmo no instrumento.


Wilson das Neves
Aos 78 anos, é dos mais experientes bateristas brasileiros. Fez carreira acompanhando nomes de peso, como Cartola, João Nogueira, Clara Nunes, Martinho da Vila e Chico Buarque. Também é compositor.


Dom Um Romão

Gravou em discos do início da bossa nova e fez fama no jazz, tendo integrado o lendário grupo de fusion Weather Report. Como percussionista, tornou-se célebre por reproduzir sons da natureza.


Edison Machado
É considerado por muitos o criador da condução do samba nos pratos, nos anos 1950. Tocou no lendário bar Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, e gravou com Chet Baker e Ron Carter nos EUA.


Milton Banana
Participou da gravação de Chega de saudade com João Gilberto, canção que marca o início da bossa nova. À frente do Milton Banana Trio (posto incomum na época), gravou cerca de 20 discos.


Pupillo

Rock e maracatu, com muito groove, caracterizam o seu toque, fundamental para o sucesso da Nação Zumbi. Nos últimos discos da banda, tem mostrado mais complexidade.

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