Alice Caymmi lança disco com pegada eletrônica

Cantora faz releitura pop de canções da MPB, com estilo que tem elementos teatrais

por Ailton Magioli 03/10/2014 11:52
Daryan Dornelles/Divul
Com visual contemporâneo, Alyce Caymmi reconhece influências de Bethânia, Björk e Maysa em seu trabalho (foto: Daryan Dornelles/Divul)
Depois de carnavalizar a música do avô Dorival Caymmi (1914-2008) no show 'Dorivália', Alice Caymmi radicaliza ainda mais e lança o eletrônico 'Rainha dos raios', segundo disco solo de carreira, no qual faz uma releitura pop de canções de diferentes artistas e épocas.


Originalmente lançada por Maria Bethânia, em 1972, no disco 'Drama', e posteriormente gravada por Rita Benneditto (ex-Ribeiro), o clássico 'Iansã', de Caetano Veloso e Gilberto Gil, contribui com o título e ainda puxa o disco. Por enquanto, 'Rainha dos raios', do selo Joia Moderna, do DJ Zé Pedro, chega ao mercado apenas no formato digital, via Itunes Store. O disco físico fica para depois.

 Aos 24 anos, só mesmo a representante da terceira geração de um dos clãs musicais mais celebrados do país – os Caymmi – poderia se dar ao luxo de fazer um disco eletrônico sob a batuta do contemporâneo Diogo Strausz, que conhece desde a adolescência.

“Apesar de estar mais para a música eletrônica e de ser DJ, durante uma festa em que fazia o som percebi que o Diogo havia mudado. Que estava muito mais para produtor fonográfico mesmo”, diz a jovem cantora. De cara, os dois fizeram o single 'Iansã' que já contabiliza mais de 14 mil execuções no aplicativo Soundcloud. Puxado pelo clássico de Caetano e Gil, o novo disco de Alice, como gosta de dizer o pai-coruja Danilo Caymmi, de 66 anos, é produto da atuação de uma artista “em total liberdade de criação”.

“A liberdade não me foi dada. Eu é que a me dei”, posiciona-se de imediato a cantora, dona de personalidade e timbre vocal fortes. “Alice é tão ousada quanto o avô”, pondera Danilo, lembrando que antes de optar pela música a jovem cantora cursou artes cênicas, seguindo posteriormente para temporada no Odin Teatret, na Dinamarca.

Caetano Veloso é o autor com maior número de faixas em 'Rainha dos raios'. Além de 'Iansã', cujos versos geraram o título do disco, o compositor baiano comparece com 'Homem e Jasper'. “Caetano sempre foi uma pessoa importante na minha vida. Sempre usei as canções dele como referência para tudo”, reconhece Alice.

De assinatura assumidamente masculina, 'Homem', segundo ela, foi uma escolha importante para se colocar no novo disco. “Não sei se outras cantoras topariam”, diz Alice, que também faz questão de se posicionar em relação a Maria Bethânia. “Entre todas as cantoras, ela é fundamental, porque é uma das grandes. Além de cantar, tem consciência do espetáculo como um todo”, justifica.

Não por acaso, ela descoloriu os cabelos para a foto da capa de 'Rainha dos raios'. “A cada novo trabalho o meu corpo se transforma”, garante a cantora, que ainda é fã de Björk, que teria revolucionado sua maneira de ver a música, ainda na adolescência. A propósito da presença de Maysa Matarazzo no disco, ela também faz questão de dizer que gosta do jeito de a cantora abordar o amor em suas canções. “E 'Meu mundo' é a síntese disso”, garante.

 

Sempre em frente

 

Empolgado com a dedicação e o profissionalismo de Alice, Danilo Caymmi diz que tais características são produto da total liberdade dada à filha. “Não me meti no gosto pessoal dela”, recorda o músico, atribuindo a formação teatral à veia cênica que Alice incorpora ao canto. “Ela criou o próprio círculo de amizades. Exatamente como fiz na cena contemporânea carioca”, compara-se à filha, que, segundo Danilo, nas horas vagas é leitora de filosofia.

O avô Dorival Caymmi, de acordo com Danilo, reagiria muito bem diante da nova performance de Alice. “Meu pai detestava aquela história de que ‘naquele tempo é que era bom’. Para ele, o negócio era sempre ir em frente”, lembra Danilo, salientando o fato de o chefe do clã tê-lo apresentado lendas musicais como os Beatles, James Taylor e Little Richard, entre outros.

Além de Alice, filha do atual casamento com Simone Caymmi, Danilo é pai da advogada Juliana, de 39, que apesar de ter gravado disco acabou desistindo da carreira de cantora, e do designer Gabriel, de 36. Além da postura profissional e do trabalho vocal da filha, de timbre grave, o pai e também cantor diz que Alice Caymmi é dona de senso harmônico apurado. Como faz questão de lembrar, se em 'Alice Caymmi', disco de estreia, de 2012, havia ainda um pouco de adolescência no trabalho da filha, em 'Rainha dos raios' ela fez um disco conceitual, maduro.

Com arranjos assinados pela cantora e pelo produtor Diogo Strausz, o álbum traz canções envoltas no universo da cultura pop, seja música, imagem ou cinema. “Por trás de toda a massa padronizada da cultura popular existe uma crueldade”, explica Alice, que depois da estrear o show de lançamento do disco no recém-reaberto Bottle’s Bar, do Beco das Garrafas, de Copacabana, anuncia para novembro, no Tom Jazz, o show de São Paulo. Thiago Silva (bateria), Gabriel Mayall (guitarra) e o próprio produtor Diogo Strausz (baixo e sintetizador), que participaram da gravação, estão na turnê, que reserva novidades para o público.

 

Ouça 'Rainha dos raios', de Alice Caymmi, completo online:

 

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