Festival Eletronika traz a BH novidades da música e das artes visuais

Evento conta com atrações do Brasil, Alemanha e Itália, com nomes como Arto Lindsay e Maurício Takara

por Mariana Peixoto 10/09/2014 08:15

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Anitta Boa Vida/Divulgação
O cantor, compositor e produtor Arto Lindsay é um dos nomes de ponta da experimentação musical no país (foto: Anitta Boa Vida/Divulgação)
Ao longo de 16 anos, o Eletronika teve edições que traduziram, cada uma à sua maneira, seu próprio tempo. Começou em 1999 quase didático, apresentando o (então) novo para um público que estava sendo educado naquele universo. Na virada da década de 2000, com a explosão da cultura do DJ, teve versões festivas que levaram multidões a espaços públicos de Belo Horizonte, como a antiga Casa do Conde, atual Funarte, e o Parque Municipal. Mais recentemente, o festival ganhou edições menores, mas que continuam ditadas pelas novas tendências, não por acaso o “sobrenome” do evento. Esta semana, “brigando” com cachorros grandes (Cavalera Conspiracy no sábado e Natura Musical no domingo), o Eletronika – Festival de Novas Tendências terá como cenário o Oi Futuro.

De quinta a domingo, o espaço cultural da Avenida Afonso Pena vai receber atrações musicais e audiovisuais do Brasil, da Alemanha e da Itália. A ideia é apresentar a música de vanguarda, seja em que formato for. No teatro, os shows serão mais intimistas; já a galeria será transformada numa pista, com DJs. Há pelo menos um nome que dispensa apresentações: o cantor, compositor, guitarrista e produtor Arto Lindsay, que participa no domingo do show de encerramento do Eletronika como convidado do trio alemão To Rococo Rot.

Há quem o chame de o mais brasileiro dos músicos americanos. Filho de missionários, Lindsay nasceu nos EUA e passou parte da infância no Nordeste brasileiro. Em Nova York, onde viveu por 30 anos, foi nome de ponta do underground setentista e oitentista, além de referência do chamado “no wave”, uma resposta à new wave. Para os brasileiros, Lindsay é o cara envolvido na produção dos álbuns 'Estrangeiro' e 'Circuladô', de Caetano Veloso, 'Mais', 'Cor de rosa e carvão' e 'Memórias, crônicas e declarações de amor', de Marisa Monte, entre vários outros. Radicado no Rio de Janeiro, ele agora produz menos e toca mais. Com o trio alemão, Lindsay gravou três canções – as primeiras músicas com letras do To Rococo Rot, que está completando 20 anos.

JEAN ORLLERMANN/DIVULGAÇÃO
Domingo, o trio alemão To Rococo Rot vai fechar o Eletronika 2014 (foto: JEAN ORLLERMANN/DIVULGAÇÃO)
Outro nome que circula bastante por aqui é Maurício Takara, que já se apresentou em pelo menos três edições do Eletronika, seja com a banda experimental Hurtmold, seja com seus projetos solo. Desta vez, Takara traz a BH a peça 'Música resiliente' para piano e vibrafones, que vai executar ao lado de Guilherme Granado (vibrafonista do Hurtmold) e do pianista Bruno Fabrini – o show será no sábado. “Só apresentei este trabalho duas vezes em São Paulo. Ele tem como característica forte a percussão, mesmo o piano. A ideia foi criar uma história que se passa num mundo específico. Ela mantém a mesma sonoridade e é cheia de mantras”, conta Takara, acrescentando que o trabalho faz parte de uma série. A primeira peça foi Música resiliente em camadas lentas, dedicada a instrumentos eletrônicos e cordas. “Quero continuar fazendo as composições com o mesmo conceito, mas para formações diferentes.”

Para o público que frequenta a pista do Eletronika, de quinta a sábado, dois DJs por noite vão montar a programação. Sob a curadoria de Chico Dub, foram chamados nomes que integram as coletâneas virtuais HyBrazil. “Elas apresentam a nova produção da música eletrônica”, conta Dub. Cinco já foram lançadas; a sexta deve entrar no ar ainda este mês. Para a noite de amanhã foram convocados dois mineiros: Mujique, de Pouso Alegre, e Fudisterik, de Juiz de Fora. “Eles fazem música eletrônica rural, no sentido de misturar elementos das músicas clássica e folclórica.”

Na sexta-feira, o clima será carioca/baiano. “Omulu é um dos caras que está descobrindo novos artistas do funk. Nos dois últimos anos, o gênero sofreu mudanças bem radicais. Hoje se faz o chamado rasteirinha, mais lento que o funk original. Já o Mauro Telefunksoul apresenta o chamado bahia bass, que mistura funk, hip-hop e reggae com uma pegada baiana.”

Sábado será a vez de dois paulistas, Zopelar e Seixlack, que, nas palavras de Chico Dub, tocam eletrônica com equipamentos analógicos, muito usados nos anos 1980. “É música com cara de máquina mesmo”, conclui o curador.

Três perguntas para...
Arto Lindsay - Músico


Como se deu o encontro com o To Rococo Rot?

Assisti a uma apresentação deles em Nova York no início dos anos 1990. Não sabia o que era, fiquei encantado com o som. Era música eletrônica manual, cada um sozinho. Tinha algo de muito lúdico e pessoal. Depois conversamos algumas vezes, pois nos encontrávamos nos festivais e acabamos amigos. Até que me chamaram para gravar (o álbum Instrument, lançado em julho). Fui para o estúdio e gravei as vozes só para registrar. Eles adoraram as primeiras vozes, não me deixaram repeti-las. A ideia de esboço tem a ver com a maneira como tocam. Eles têm comprometimento com o efêmero.

Você está morando no Brasil há 10 anos. Não pensa em voltar para Nova York?

Não, vou ficar. O Brasil ainda está para acontecer, mas é bom. Morei 30 anos em Nova York, mais da metade da minha vida, mas amo o Brasil. Adoro a Bahia, estava fazendo projetos lá, mas tenho um filho. Sou músico e, como a indústria fonográfica morreu, não posso mais trabalhar em estúdio para pagar as contas. Com uma criança de 10 anos, tenho que viajar para fazer shows. Morando no Rio, as coisas ficam mais fáceis.

Seu disco mais recente é o duplo Encyclopedia of Arto, lançado nos EUA e na Europa, sem edição nacional, uma compilação. Não pensa em lançar álbum de inéditas?

Em 2015, vou fazer um disco novo para o Brasil e o mundo. Comecei a sentir a pressão para fazê-lo, devo me reunir com alguns amigos para compor. Sobre Encyclopedia..., só o primeiro disco é uma compilação. O outro é mais radical, com gravações ao vivo dos shows que faço sozinho. Sou só eu cantando, acompanhado com a guitarra. Mas não faço harmonia, é barulho mesmo. É possível que faça algo nesse estilo em BH.



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