Um baita privilégio. É possível resumir assim o show que o pianista Chick Corea fará amanhã à noite, em plena Praça Tiradentes, em Ouro Preto. E ainda será de graça, ao contrário de algumas das apresentações agendadas para o lendário jazzista norte-americano no Rio de Janeiro e em São Paulo, com o ingresso mais barato custando R$ 140. No repertório, composições que ele escreveu para seu penúltimo álbum, The vigil, gravado com sua nova banda. O concerto integra a programação do festival itinerante Mimo, que passará também por Olinda (PE), Paraty (RJ) e Tiradentes (MG) até 19 de outubro.
Lançado em 2013, o disco de Corea foi recebido com entusiasmo pela crítica internacional, que o considerou um dos seus melhores trabalhos. De fato, o artista exibe criatividade e vigor em sete exuberantes músicas inéditas, quatro delas com mais de 10 minutos. Além disso, o pianista contou com músicos talentosos e bem mais novos do que ele. Isso ajuda a reforçar a imagem de frescor, que, sem dúvida, é real.
“Tenho músicos jovens e ótimos nessa banda. Quero aprender com eles. Estão fazendo o disco acontecer, ele mantém viva a cultura da música. O baterista Marcus Gilmore tem o seu próprio jeito de tocar, gosto de tudo o que ele faz. Então, não dou instruções, apenas deixo que o Marcus toque como quiser. Conheci Charles Altura, meu guitarrista, por recomendação do baixista Stanley Clarke. Os dois tocaram juntos por um tempo, Clarke percebeu que ele seria perfeito para a minha música”, elogia o pianista. Detalhe: Gilmore é neto do lendário baterista Roy Haynes, que trabalhou com gigantes do jazz, inclusive Corea.
De Cuba
A banda que o pianista traz ao Brasil é quase a mesma das gravações, com apenas uma substituição: o cubano Carlitos del Puerto, de grande fluência nos baixos acústico e elétrico, veio no lugar do francês Hadrien Feraud, outro jovem que toca com espantosa agilidade. “Há também o percussionista venezuelano Luisito Quintero, que, com Carlito e Marcus, faz uma seção rítmica bem quente. Estou muito feliz por tê-los comigo”, afirma Corea. Completa o time o inglês Tim Garland (saxofone, clarinete e flauta).
Belo álbum, The vigil desperta no ouvinte uma série de sensações. É aberto com Galaxy 32 Star 4, tema de inspiração claramente setentista que remete ao papel de Corea como nome forte do supergrupo Return to forever, um dos pilares do jazz fusion. Estão lá o sintetizador, os riffs com guitarra cheia de efeitos e, ao fundo, o sabor latino da percussão, além de bons improvisos. A faixa seguinte, Planet Chia, tem o espírito flamenco como base, costurado às soluções harmônicas que o pianista encaixa aqui e ali.
Em Portals to forever, o som sintetizado volta às mãos de Corea, que inicia com improviso inicialmente econômico a segunda peça mais longa do álbum, com nada menos de 16 minutos. Segue-se uma jam inspirada, com mudanças de ritmo e harmonia um tanto surpreendentes. Aliás, a habilidade de Chick em emendar harmonias ainda impressiona pela naturalidade: do meio para o fim de Royalty, ele parece citar os compassos iniciais de My favorite things, clássico de John Coltrane. Também merece destaque a participação da mulher do pianista, a cantora Gayle Moran, em Outside of space.
Ao vivo
“Atualmente, todos os tipos de mudança estão ocorrendo: na tecnologia usada na música, na forma como se dá o marketing musical, no ouvinte e na política. A ideia deste álbum é de que enquanto tudo isso se transforma, uma coisa continua constante: a valiosa comunicação entre o artista e o público, ao vivo. Para mim, isso é o mais importante a ser preservado para manter a verdade do trabalho. Faço um projeto de cada vez. Dar prazer às pessoas e fazer músicas novas é um bom emprego. Sou feliz por tê-lo enquanto meu corpo aguentar”, declara o artista.
É bom lembrar: Chick Corea tem 73 anos e está há décadas no panteão do jazz. É um dos grandes pianistas vivos do gênero, ao lado de Keith Jarret e Herbie Hancock. Ao longo de pouco mais de meio século de carreira ele acumulou os mais variados prêmios e distinções (revistas Grammy, NEA Jazz Masters, Downbeat etc).
Só no Grammy foram cerca de 60 indicações e 20 troféus, lista iniciada pelo prêmio de melhor performance de jazz instrumental que ele quase levou, em 1973, com Spain, faixa do clássico álbum Light as feather, que gravou com o Return to Forever.
Apesar de o trabalho com esse grupo, do qual fizeram parte os brasileiros Airto Moreira e Flora Purim, ser uma das facetas mais conhecidas de sua trajetória, a biografia do pianista revela o quão diversificada é sua atuação. Vai de duetos com músicos como Bela Fleck (banjo) e Gary Burton (vibrafone) ao relativamente recente interesse pela música erudita. Em 1999, Corea gravou seu primeiro concerto autoral com a Filarmônica de Londres. Outro ponto alto na carreira do pianista foi a participação em álbuns do trompetista Miles Davis. O mítico Bitches brew é um deles.
ISTO É CHICK:
» Seus pais fazem parte da primeira geração de norte-americanos filhos de imigrantes italianos.
» O pianista sempre viaja com um pequeno teclado, que lhe permite estudar e compor.
» Gayle Moran, mulher do pianista, fez parte de outra banda importante do jazz fusion, a Mahavishnu Orchestra.
» Corea começou a estudar piano aos 4 anos, mas aos 8 decidiu tocar bateria.
» O pianista é adepto da cientologia, religião controversa criada pelo autor de ficção científica L. Ron Hubbard.
MIMO/OURO PRETO
AMANHÃ
Lançado em 2013, o disco de Corea foi recebido com entusiasmo pela crítica internacional, que o considerou um dos seus melhores trabalhos. De fato, o artista exibe criatividade e vigor em sete exuberantes músicas inéditas, quatro delas com mais de 10 minutos. Além disso, o pianista contou com músicos talentosos e bem mais novos do que ele. Isso ajuda a reforçar a imagem de frescor, que, sem dúvida, é real.
“Tenho músicos jovens e ótimos nessa banda. Quero aprender com eles. Estão fazendo o disco acontecer, ele mantém viva a cultura da música. O baterista Marcus Gilmore tem o seu próprio jeito de tocar, gosto de tudo o que ele faz. Então, não dou instruções, apenas deixo que o Marcus toque como quiser. Conheci Charles Altura, meu guitarrista, por recomendação do baixista Stanley Clarke. Os dois tocaram juntos por um tempo, Clarke percebeu que ele seria perfeito para a minha música”, elogia o pianista. Detalhe: Gilmore é neto do lendário baterista Roy Haynes, que trabalhou com gigantes do jazz, inclusive Corea.
De Cuba
A banda que o pianista traz ao Brasil é quase a mesma das gravações, com apenas uma substituição: o cubano Carlitos del Puerto, de grande fluência nos baixos acústico e elétrico, veio no lugar do francês Hadrien Feraud, outro jovem que toca com espantosa agilidade. “Há também o percussionista venezuelano Luisito Quintero, que, com Carlito e Marcus, faz uma seção rítmica bem quente. Estou muito feliz por tê-los comigo”, afirma Corea. Completa o time o inglês Tim Garland (saxofone, clarinete e flauta).
Belo álbum, The vigil desperta no ouvinte uma série de sensações. É aberto com Galaxy 32 Star 4, tema de inspiração claramente setentista que remete ao papel de Corea como nome forte do supergrupo Return to forever, um dos pilares do jazz fusion. Estão lá o sintetizador, os riffs com guitarra cheia de efeitos e, ao fundo, o sabor latino da percussão, além de bons improvisos. A faixa seguinte, Planet Chia, tem o espírito flamenco como base, costurado às soluções harmônicas que o pianista encaixa aqui e ali.
Em Portals to forever, o som sintetizado volta às mãos de Corea, que inicia com improviso inicialmente econômico a segunda peça mais longa do álbum, com nada menos de 16 minutos. Segue-se uma jam inspirada, com mudanças de ritmo e harmonia um tanto surpreendentes. Aliás, a habilidade de Chick em emendar harmonias ainda impressiona pela naturalidade: do meio para o fim de Royalty, ele parece citar os compassos iniciais de My favorite things, clássico de John Coltrane. Também merece destaque a participação da mulher do pianista, a cantora Gayle Moran, em Outside of space.
Ao vivo
“Atualmente, todos os tipos de mudança estão ocorrendo: na tecnologia usada na música, na forma como se dá o marketing musical, no ouvinte e na política. A ideia deste álbum é de que enquanto tudo isso se transforma, uma coisa continua constante: a valiosa comunicação entre o artista e o público, ao vivo. Para mim, isso é o mais importante a ser preservado para manter a verdade do trabalho. Faço um projeto de cada vez. Dar prazer às pessoas e fazer músicas novas é um bom emprego. Sou feliz por tê-lo enquanto meu corpo aguentar”, declara o artista.
É bom lembrar: Chick Corea tem 73 anos e está há décadas no panteão do jazz. É um dos grandes pianistas vivos do gênero, ao lado de Keith Jarret e Herbie Hancock. Ao longo de pouco mais de meio século de carreira ele acumulou os mais variados prêmios e distinções (revistas Grammy, NEA Jazz Masters, Downbeat etc).
Só no Grammy foram cerca de 60 indicações e 20 troféus, lista iniciada pelo prêmio de melhor performance de jazz instrumental que ele quase levou, em 1973, com Spain, faixa do clássico álbum Light as feather, que gravou com o Return to Forever.
Apesar de o trabalho com esse grupo, do qual fizeram parte os brasileiros Airto Moreira e Flora Purim, ser uma das facetas mais conhecidas de sua trajetória, a biografia do pianista revela o quão diversificada é sua atuação. Vai de duetos com músicos como Bela Fleck (banjo) e Gary Burton (vibrafone) ao relativamente recente interesse pela música erudita. Em 1999, Corea gravou seu primeiro concerto autoral com a Filarmônica de Londres. Outro ponto alto na carreira do pianista foi a participação em álbuns do trompetista Miles Davis. O mítico Bitches brew é um deles.
ISTO É CHICK:
» Seus pais fazem parte da primeira geração de norte-americanos filhos de imigrantes italianos.
» O pianista sempre viaja com um pequeno teclado, que lhe permite estudar e compor.
» Gayle Moran, mulher do pianista, fez parte de outra banda importante do jazz fusion, a Mahavishnu Orchestra.
» Corea começou a estudar piano aos 4 anos, mas aos 8 decidiu tocar bateria.
» O pianista é adepto da cientologia, religião controversa criada pelo autor de ficção científica L. Ron Hubbard.
MIMO/OURO PRETO
AMANHÃ
Toninho Horta e Orquestra Fantasma, 20h, na Igreja de Nossa Senhora do Pilar
Chick Corea e The Vigil, 22h30, na Praça Tiradentes
SÁBADO
Sonia Wieder-Atherton, 8h, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Chaarts, 20h, na Igreja de São Francisco de Assis
Winston McAnuff e Fixi, 22h, na Praça Tiradentes
Bassekou Kouyate e Ngoni Ba, Meia-noite, na Praça Tiradentes
DOMINGO
Hércules Gomes, 15h, na Praça Tiradentes
Trilok Gurtu, 16h30, na Praça Tiradentes
Marco Pereira e Toninho Ferragutti, 20h, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo