Compositor Rodrigo Maranhão lança 'Itinerário', seu terceiro disco

Com 11 faixas de sonoridade acústica, álbum conta com participação especial do cantor português Antônio Zambujo

por Kiko Ferreira 20/08/2014 09:12

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Marcos Hermes/Divulgação
Rodrigo se divide entre o trabalho como compositor e o comando do bloco de carnaval Bangalafumenga (foto: Marcos Hermes/Divulgação )
Apesar do trabalho reconhecido pela pegada dançante, seja nos grupos Bangalafumenga e Monobloco, seja como parceiro de Pedro Luís no hoje clássico Rap do real, o carioca Rodrigo Maranhã, quando fica sozinho, é mais intimista e delicado. Já gravado por Maria Rita (Caminho das águas, que lhe deu um Grammy, e Fogo no paiol), Roberta Sá (Samba de um minuto e Olho de boi), Fernanda Abreu (Baile da pesada), Verônica Sabino (Rosa que me encanta), Zélia Duncan (Chicken de frango e Beleza fácil) e outras amigas e/ou parceiras, o compositor costuma se dar ao direito, de quando em quando, de produzir discos individuais em que dá a visão de autor de sua disputada obra.


O primeiro CD foi 'Bordado', de 2007, uma das melhores estreias de sua geração. Em 2010, veio 'Passagem', igualmente bem-sucedido. Quatro anos depois, ele gravou e acaba de lançar 'Itinerário', com 11 faixas embaladas por um instrumental econômico a cargo de seu dream team de músicos formado pelo pianista e acordeonista Marcelo Caldi, Nando Duarte (violão de sete cordas) e Pretinho da Serrinha (percussão).


No caso, a economia de instrumentos não significa contenção exagerada. Tanto que a faixa de abertura, Fuzuê, é um corta-jaca que dá vontade de sair dançando e inclui citação de Ernesto Nazareth. O samba Iara, pela pegada e até por uma sutil semelhança vocal, remete ao universo de Chico Buarque e Francis Hime. Sem mencionar internet e redes sociais, Eu não sei seu telefone soa nostálgica, romântica, tratando de uma “dona dos sentidos” de quem ele não tem o nome, o telefone nem o código postal, vejam só. Ela deságua numa canção noturna, que chega por um passarinho e se desfaz no ar em Maré.


Parceria com PC Castilho, que participa cantando, Rua da Preguiça é nostalgia de sotaque nordestino, enquanto Madrugada evoca as ruas de Lisboa ou outra cidade lusitana, com a voz do português Antônio Zambujo e a guitarra portuguesa de Bernardo Couto reforçando o clima. O encarte com as letras passa da metade com Chapeuzinho amarelo, que trata de medos, com uma pegada quase infantil. Feita para tirar o tapete da sala e arrastar sandália, Flor de cajueiro tem doses certas de brejeirice e convite à vadiagem e aos descaminhos do mar.


Maria da Graça é samba de louça branca e bibelô, de um trovador que se desfaz nas curvas da musa, que canta como se fosse “o acerto de contas de Deus com os simples mortais”, em imagem de anotar em caderno de moças. Quebrando o clima, a faixa-título é forte, de tons mais urbanos e políticos, que vai crescendo e dando cores variadas à viagem. Para fechar a rota vem Mantra, parceria com Pedro Luís que Maria Rita usou como faixa-extra no disco Segundo. “A paixão é como um Deus que quando quer me toma todo o pensamento” é mote que retoma o tom de intimidade e encerra um conjunto bem amarrado de faixas coerentes com a trajetória serena e consistente de Maranhão. Um carioca nascido no Rio, de pais potiguares.

 

 



MAIS SOBRE MÚSICA