Baixista Marcus Miller se apresenta em BH nesta terça-feira

Um dos grandes nomes do jazz contemporâneo, que acumula trabalhos com divas como Whitney Houston e Mariah Carey, novaiorquino faz show no Sesc Palladium

por Mariana Peixoto 05/08/2014 08:40

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Árvore de Comunicação/Divulgação
Músico de jazz conhecido pela improvisação, Marcus Miller também tocou com Whitney Houston e Mariah Carrey (foto: Árvore de Comunicação/Divulgação)
Na Nova York de meados dos anos 1980 até os 1990, um dia típico na vida do multi-instrumentista norte-americano Marcus Miller começava cedo, por volta das 9h. O primeiro compromisso de trabalho poderia ser a gravação de uma trilha para o comercial de carro. Mal terminado o registro, seguia para outro estúdio, onde durante uma hora poderia gravar tema para marca de hambúrgueres. No início da tarde, ainda se encontrava com a banda de Whitney Houston, com quem ensaiava durante três horas pelo menos. De uma diva ia direto para outra, Mariah Carrey, onde faria mais um punhado de horas de ensaio. Noite adentro, encaminhava-se para um clube de jazz onde se apresentava até o início da madrugada. No dia seguinte, fazia exatamente o mesmo, só que com artistas diferentes, gente como Frank Sinatra e David Sanborn. “Para um músico jovem, era uma vida incrível”, afirma Miller.


Miller, que se apresenta nesta terça-feira no Sesc Palladium, Circuito ViJazz & Blues Festival – é a primeira data de nova turnê brasileira, que passa até domingo por São Paulo, Rio das Ostras e Rio de Janeiro –, tem hoje 55 anos. O contrabaixo, seu principal instrumento, é a maior referência, mas ele empunha com a mesma familiaridade metais (saxofone e clarinete) e teclados. Nos shows desta semana, o músico nova-iorquino radicado em Los Angeles é um dos principais nomes do jazz fusion, toca ao lado de Alex Han (saxofone), Adam Agati (guitarra), Brett Williams (teclados), Lee Hogans (trompete) e Louis Cato (bateria). São músicos jovens, assim como o próprio Miller  quando descoberto. Ainda que seu currículo traga credenciais indiscutíveis – registros em mais de 500 álbuns, dois Grammys próprios, além de outros como produtor de nomes como Wayne Shorter, Chaka Khan, Luther Vandross e David Sanborn –, é sua trajetória ao lado de Miles Davis o grande divisor de águas da carreira.

Ele havia acabado entrar na casa dos 20 anos quando se reuniu à trupe de Miles, na última década de carreira do genial trompetista. Mas, ao contrário de outros músicos, Miller não somente o acompanhou em shows e discos (foram sete álbuns juntos). Foi também seu produtor, assinando o controvertido Tutu (1986), primeiro trabalho de Miles a utilizar sintetizadores e samples. O contrabaixista voltaria, 25 anos mais tarde, a esse material com o projeto Tutu revisited, em que registrou suas próprias composições (incluindo a faixa Tutu, definidora da sonoridade de Miles no fim da vida) a sua própria maneira. Paralelamente ao trabalho com inúmeros artistas, Miller sempre encontrou uma brecha para sua própria discografia, que soma uma dúzia de álbuns. O mais recente é Renaissance (2012), gravado com alguns dos músicos que estarão com ele no palco nesta terça-feira. “Com eles, entendi por que Miles gostou tanto de trabalhar com jovens. A energia é outra. Eles aprendem com a minha experiência e eu com eles, a partir da maneira como veem o mundo de hoje.”

Para além da música norte-americana – jazz, soul, R&B e até hip hop, colaborando com Jay Z e Snoop Dogg –, Miller se envolveu bastante com a música brasileira. Já tocou com Djavan,Ivan Lins, Dori Caymmi, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Dom Salvador, Milton Nascimento e Naná Vasconcelos. Com Djavan, especialmente, a colaboração foi bastante intensa. Gravou o álbum Milagreiro (2002), entre outros registros. “Amo tocar com Djavan, um nome que descobri ainda no final dos anos 1970”, comenta Miller. Nessa altura da vida e com uma diversidade tão grande no trabalho, ele ainda tem uma agenda apertada, dividindo-se entre os estúdios e os palcos. “O estúdio me mantém afiado sobre os detalhes da música, mas tocar ao vivo estimula minha forma criativa.” Seja onde for, Miller só não abre mão de um chapéu porkpie (tem sempre três por perto), que fez com que criasse a M2, sua própria marca do acessório.

 

Três perguntas para Marcus Miller - Músico

 

Você já tem o repertório definido ou costuma decidir o que vai tocar pouco antes de subir ao palco? Aliás, quão importante é a improvisação para você?
Costumamos ensaiar bastante, mas nossa principal característica é o improviso. Costumamos responder ao calor do momento, à recepção do público. Dessa maneira, poderemos começar uma música tal qual ela foi ensaiada e mudá-la completamente ao longo da execução. Essa é, na verdade, uma das coisas mais legais do jazz. Sobre o repertório, vou tocar algumas músicas de Renaissance como também material mais antigo. Mas costumo decidir isso só mesmo no palco.

Quais foram as lições – e também as lembranças – mais relevantes do período em que tocou com Miles Davis?
Aprendi que você tem que descobrir quem você realmente é – então você tem que se certificar de que as pessoas podem ouvir quem você realmente é na sua música. E isto não é fácil, descobrir a si mesmo é pesado, como também criar uma música que reflita justamente isto. Miles fez isso tudo de maneira muito bonita. Lembro-me de ouvir Tutu um dia depois da gravação. Aquilo soou maravilhoso, exatamente da forma como eu me recordava que tinha sido no dia anterior. Fiquei muito feliz ao constatar que não era um sonho.

Qual foi para você a importância do projeto Tutu revisited?
O projeto me deu a chance de apresentar minhas composições do Tutu original de uma forma que permitiu às pessoas uma apreciação diferente. O álbum original tinha um som cool, meio techno-jaz,z e Tutu revisited é mais natural. Você pode realmente ouvir cada faixa. E também foi nesse projeto que eu comecei a trabalhar com os músicos jovens que estão me acompanhando desde então. 

 

I love jazz

BH vai respirar jazz de sexta a domingo, com a realização de mais uma edição do festival I love jazz, na Praça do Papa. A abertura será na sexta-feira, às 19h, com a cantora uruguaia Maria Noel Taranto. Outras atrações são o grupo argentino Creole Jazz Band, os mineiros do BeHoppers, David Kerr e Canastra Trio, Swiss Dixie Band, The Scott Hamilton Quartet with Harry Allen, Magnólia Brass Band e a cantora Taryn. O encerramento será como o cantor e guitarrista americano Mark Lambert, com a Orquestra Radio Swing. Entrada franca para todas as apresentações.
 
MARCUS MILLER
Concerto nesta terça, às 20h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3214-5350. Ingressos: Setor 1 –R$ 80 e R$ 40 (meia); Setor 2 – R$ 70 e R$ 35 (meia); Setor 3 –R$ 50 e R$ 25 (meia).

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