Leva o belo nome de 'Inquilinos do mundo' o show que o grupo paulista Mawaca vai apresentar no Festival de Inverno de Itabira neste domingo, 20. De um lado estão cantoras e instrumentistas dedicados a pesquisar e interpretar a cultura tradicional de vários países. De outro, o mais recente trabalho dessa turma, voltado para a produção artística nômade.
Essa música vem de povos andarilhos como os ciganos; da tradição dos judeus; de comunidades como a curda, que perderam seu território devido à guerra; ou de migrantes, refugiados e exilados haitianos, latino-americanos e africanos espalhados pela Europa e Estados Unidos.
Criado em 1997, Mawaca foi batizado com um termo da língua dos hauçás, etnia do Norte da Nigéria, alusivo a músicos que recorrem ao poder mágico da palavra cantada para atrair a força dos espíritos. O termo africano ecoa em várias outras culturas: pode significar lugar sagrado, mensageiro e porta para a criação.
Algumas canções gravadas pelo Mawaca já são conhecidas e ganharam versões em distintos estilos; outras, de presença mais rarefeita, foram registradas por musicólogos. Todas têm história, garante Magda, embora não se saiba com certeza quando surgiram.
O repertório do grupo é formado por composições de tradições díspares, da japonesa à finlandesa, passando por criações vindas da África Central, Indonésia, Oriente Médio, Península Ibérica e de nações indígenas. Mawaca faz questão de cantá-las na língua original. No início eram cinco, hoje chegam a 20 – opção que exige a assessoria de especialistas. O grupo costuma também tocar com convidados de diversos países.
Permanência “Trabalhar com canções tradicionais nos fez perceber o quanto a música tem papel fundamental na existência das pessoas, a ponto de essa arte sobreviver a séculos, acompanhando a vida do ser humano”, explica a cantora. A permanência é uma característica da música tradicional, que Magda diferencia da folclórica. “Um refugiado perde tudo, mas não a memória musical da infância”, lembra.
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Consumo
Magda Pucci aponta um paradoxo do mundo contemporâneo: embora se tenha acesso a tudo, o que ela considera positivo, as pessoas viram as costas para a diversidade. “Ouve-se um só tipo de música, às vezes pela vida inteira”, critica.
“Trabalhar com música de diversas culturas me deu maior entendimento da diversidade do mundo. Todos cantam e tocam, mas cada um à sua maneira. Essa diferença é riqueza”, afirma Magda.
“Não abrir a porta para os diálogos é muito chato. A tecnologia trouxe timbres inusitados, legais, que instrumentos acústicos não são capazes de produzir. O acústico tem algo humano que não dá para substituir. Acho boas as duas coisas. Pobre é substituir o acústico pelo eletrônico sem necessidade”, conclui.
MAWACA
Show Inquilinos do mundo. Neste domingo, 20 de julho, às 19h. Concha Acústica de Itabira, Pico do Amor, Bairro Campestre. Entrada franca.
DISCOGRAFIA
'Inquilinos do mundo' (2013) é o sexto CD e o quarto DVD do Mawaca. Antes, o grupo lançou 'Rupestres sonoros –
O canto dos povos da floresta' (2009), 'Pra todo canto' (2004), 'Os lusíadas' (2002), 'Mawaca – Remix 2.0' (2001) e 'astrolabio.tucupira.com.brasil' (2000).
O grupo é formado por Magda Pucci (diretora musical); Angélica Leutwiller, Christina Guiça, Cris Miguel, Zuzu Abuh, Sandra Oak, Rita Braga e Ana Elisa Colomar (flauta); Armando Tibério (percussão); Gabriel Levy (acordeom); Ramiro Marques (saxofone); e Valerie Zeidam (percussão).