Festival Traço reúne música e artes visuais em Belo Horizonte

Evento nasceu durante apresentação no FIQ 2013. Primeira das quatro etapas do festival acontece em agosto

por Mariana Peixoto 09/07/2014 09:24

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Maíra Cabral/Divulgação
Artistas gráficos que participam da maratona: Ricardo Tokumoto, Luciano Irrthum, Cleuber Tosco, Bruno Pirata, Jao, Daniel de Carvalho, Bruno Rios, Hugo Rezende e Matheus Ferreira (foto: Maíra Cabral/Divulgação)
Rock e artes visuais andam de mãos dadas desde sempre. É só olhar para trás e ver a influência de Andy Warhol junto ao Velvet Underground, de Hélio Oiticica com os tropicalistas e até o casamento de Patti Smith e Robert Mapplethorpe. Isso sem falar da variedade de astros pop que foram parar nos quadrinhos – de Kurt Cobain a Raimundos, passando por Beatles e Johnny Cash. Apesar deste lastro, a iniciativa do festival Traço – Música e desenhos ao vivo traz uma boa dose de ineditismo. A partir de agosto, e em quatro edições anuais até junho de 2015, um grupo de músicos vai se reunir a artistas gráficos, todos da nova geração, para performances simultâneas. Enquanto um toca, o outro ilustra. As quatro noites, com três apresentações cada, serão no Stonehenge.


Foram escaladas 11 bandas e uma artista solo que vão fazer shows para serem ilustrados por 16 desenhistas. O embrião do festival nasceu em 2013, quando houve apresentação, na programação paralela do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que uniu a banda Tempo Plástico e Jão e Bruno Pirata. Os dois criaram uma HQ enquanto o grupo fazia um show no CCCP. “Essa proposta surgiu quando eu trabalhava no Queijo Elétrico (produtora audiovisual voltada para a música independente que realizou o show) e reparei que uma iniciativa como essa foi feita poucas vezes. Como festival então era inédito”, comenta Helen Murta, que produz o evento ao lado de Tetê Procópio.


A curadoria das bandas foi feita pelas duas produtoras. Já a dos artistas gráficos coube a Jão. “Priorizamos as autorais, tanto que só há uma cover, Os Marrones (de Ramones). A diversidade de estilos é grande e são todas novas. A mais antiga é a Tempo Plástico, criada em 2006”, diz Helen. Jão acrescenta: “Na hora de escolher, pensei em pessoas que teriam condições de fazer um trabalho ao vivo. E ainda tentamos ligar o som das bandas ao estilo de cada artista.” No entanto, a intenção é que a performance seja o mais livre possível. Em vez de ensaios, banda e artistas vão fazer reuniões para tentar definir sua apresentação.


Única artista solo no evento, a acordeonista Sarah Assis, participa da abertura do evento, em 8 de agosto. Para acompanhá-la foram convidados Eduardo Damasceno e Luiz Felipe Garrocho, que produzem a série Quadrinhos rasos. Como a HQ é produzida a partir de letras de música, o festival tira os quadrinistas de sua zona de conforto, já que vão ter que desenhar inspirados por uma música instrumental. Sarah, por seu lado, tem experiência com o rock – participou de discos das bandas Proa e Dead Lovers. “O caráter de experimentação é muito forte no meu trabalho, pois uso pedais (como se fossem os de guitarra) ligados ao acordeom. Isso gera muita distorção, que acho que vai dialogar com os desenhos”, comenta ela, que vai executar repertório de releitura de Astor Piazzolla e até uma mistura de Bach com Luiz Gonzaga.

Carimbos Boa parte dos desenhos será feita em papel com caneta e projetada em telão. Há ainda um grupo que vai usar computador e tablet, mas nenhum dos convocados vai usar material semelhante ao do artista gráfico Matheus Ferreira, que vai ilustrar show da banda Paquiderme Escarlate, que vai ocorrer na edição de março do festival. Suas ilustrações serão feitas com carimbos de borrachas escolares. “É o mesmo princípio da xilogravura. Crio as imagens nas borrachas e daí, conforme a quantidade de tinta, são formadas imagens diferentes. Tudo vai depender de cada carimbada”, diz ele, que vem trabalhando na pesquisa de gravura de maneira diferenciada.


Já Ricardo Tokumoto, paulista radicado em BH, trabalha desde o início da carreira com desenhos que tenham relação com a música. Ele vai se apresentar na edição de novembro do Traço, ilustrando o show da banda Desorquestra, que veio a conhecer por causa do evento. Desde 2007, ele publica suas tiras no site Ryotiras, que ganhou uma versão em papel no livro Ryotiras omnibus. “Minhas tirinhas misturam cultura pop com o cotidiano. Já tive banda, toco guitarra e violão, e, quando era mais novo, violoncelo. Então sempre existiu essa ligação com a música”, diz ele, que começou a carreira no interior de São Paulo fazendo tirinhas para fanzines ligados ao movimento punk.


O inverso também é verdadeiro. Uma das bandas convocadas para o Traço mais conhecidas do cenário underground da cidade, a Ram tem um clipe só com animações (Routine). “Nosso show é bem livre, focado no improviso. E o rock como é consumido hoje é muito voltado para a balada, para casa noturna. Nossa proposta é diferente, nosso rock não é muito de pista, então acho que a experiência visual vai enriquecer a musical”, afirma o vocalista Paim. O grupo toca na edição final do Traço, em junho de 2015, com ilustrações do projeto Luiz vs Zé, dos artistas gráficos Luiz Moreira e José Lara.

 

TRAÇO – MÚSICA E
DESENHOS AO VIVO
O evento terá quatro edições. A estreia será
em 8 de agosto, às 21h, no Stonehenge,
Rua Tupis, 1.448, Barro Preto.
Ingressos: R$ 20 (preço único). 

 

 

Quem toca e quem ilustra

 

» 8 de agosto
l Sarah Assis (acordeonista) e Quadrinhos rasos (projeto de Luís Felipe Garrocho e Eduardo Damasceno)
l Tempo Plástico (stoner rock e grunge) e Passaporte (projeto de Jão e Bruno Pirata)
l The Junkie Dogs (rock e trip-hop) e Cleuber

» 14 de novembro
l Desorquestra (ska, surf,
reggae e rock) e Ricardo Tokumoto
l Os Marrones (cover de Ramones) e Daniel de Carvalho
l Fodastic Brenfers (blues, punk, metal e psicodelia) e Luciano Irrthum

» Março de 2015
l Electrophone (experimental) e Bel Pozes
l Paquiderme Escarlate (rock autoral) e Matheus Ferreira
l Mentol (rock e blues) e Flávio Gatti e Hugo Rezende

» Junho de 2015
l Ram (blues-rock, folk,
soul, free-jazz) e Luiz vs Zé (projeto de Luiz Moreira
e José Lara)
l Madame Rrose Sélavy (punk e eletrônica) e Bi Anca
l Coletivo Dinamite (soul, reggae, rap, rock, dub e funk)
e Bruno Rios

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