A ideia, contemplada com o Prêmio Funarte de Música Brasileira, começou quando Hamilton começou a solfejar livremente, num exercício sem maiores pretensões. Gostou do resultado, ligou o celular e gravou a primeira das “historinhas de melodias”. E assim foi por alguns dias, até que viu que elas começaram a formar um conjunto. Como mestre Paganini, autor dos famosos caprichos para violino que são paradigma e desafio para instrumentistas do mundo todo, o brasiliense nascido no Rio de Janeiro chegou a seus 24 caprichos.
Eles estão gravados com som de alta definição e se encontram divididos igualmente nos dois CDs do álbum e disponíveis no site hamiltondeholanda.com/ caprichos, com direito a comentários e textos esclarecedores sobre cada tema e partituras, que podem ser baixadas nos formatos .pdf ou XML, que permitem ao estudioso criar seu próprio arranjo ou adaptar a composição para outro instrumento. O músico convoca ainda o internauta a comentar, modificar ou simplesmente criar novas melodias e enviar de volta pelo próprio site.
Com oito caprichos para bandolim solo e 16 compostos para dividir com outros instrumentos, o projeto sintetiza os 15 anos dedicados à composição e a técnica desenvolvida para o instrumento. Antes de comentar alguns dos caprichos, vale ressaltar que os músicos que acompanham Hamilton são de primeiríssima linha: André Mehmari (piano), André Vasconcellos (baixo), Bebê Kramer (acordeom), Gabriel Grossi (harmônica), Guto Wirtti (baixo), Rafael dos Anjos (violão), Rogério Caetano (7 cordas) e Thiago da Serrinha (percussão). Os temas, tão claramente didáticos, e demonstram a habilidade do executante em traduzir lembranças, ambientes, paisagens, influências, gêneros e até traduções livres dos estilos de outros mestres e gurus.
Se alguns caprichosos soam mais próximos do que ele chama de “poesia de notas musicais”, como os caprichos Da Lua, Do Sol e Do retirante, outros sugerem geografias sonoras (De Espanha, Do Oriente, Venezuelano), loas a grandes autores (Do Luperce, De Pixinguinha, Bachiano, De Donga, De Raphael e Do Carmo) e outros apenas saborosos exercícios de livre composição (Da hora, De chocolate) ou reverência a ritmos e estilos musicais (De choro, De valsa). Um trabalho que sobrevive bem como um conjunto de boas composições ou como peças didáticas instigantes e inspiradoras para estudiosos do bandolim e da música brasileira.