Música gospel continua a crescer no mercado fonográfico brasileiro

O sucesso abençoou religiosos das mais variadas crenças, seja na forma de grupos ou para quem tem trabalho solo

por Ana Clara Brant 06/07/2014 00:13

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Universal Music/Divulgação
Um dos pioneiros do gênero, Padre Zezinho conquistou um público fiel que o acompanha há 45 anos (foto: Universal Music/Divulgação)
Na lista dos 20 discos mais vendidos do ano passado, três são de padres, sendo que o primeiro lugar foi Já deu tudo certo, do Padre Marcelo Rossi, que empatou com o álbum Remixed, do rei Roberto Carlos, superando fenômenos pop como Anitta, Paula Fernandes, Luan Santana e duplas sertanejas de sucesso como Zezé di Camargo & Luciano e Victor & Léo. Os dados são da Associação Brasileira de Produtores de Disco  (ABPD), que não divulga números, apenas a lista completa. Não é de hoje que se percebe a força da música religiosa no país, sobretudo a católica, que elevou não só Marcelo Rossi, mas nomes como Fábio de Melo e Reginaldo Manzotti a verdadeiros ídolos de massa.

Um dos precursores desse movimento é o mineiro de Machado, Padre Zezinho, que está completando 45 anos de carreira artística e 50 anos de ordenação sacerdotal. Ele acaba de ganhar uma homenagem em CD com grandes representantes do gênero, como os Anjos de Resgate e Danilo Dyba, e também cantores e bandas da MPB como Michel Teló, Fagner e Elba Ramalho. O religioso, que ainda se recupera de um acidente vascular cerebral (AVC), sofrido no fim de 2012, tem dificuldades para conversar por conta das sequelas, mas seu estado no geral é bom. “Ele tem utilizado mais os e-mails e a escrita para se comunicar e por enquanto não consegue falar muito, mas está bem”, avisa um amigo de muitos anos, o músico Eraldo Mattos, presidente da Codimuc, gravadora especializada em música católica.

Eraldo não tem dúvidas da força e do pioneirismo do padre. Para o empresário, Zezinho nunca precisou da ajuda da mídia para se tornar o que é e sempre foi uma figura extremamente carismática e à frente do seu tempo. “Ele tem algo diferente; sempre foi senhor de sua palavra e é uma pessoa que pensa lá na frente. Tanto que participa de redes sociais, criou grupos de WhatsApp. Tudo que ele pensou anos atrás culminou nesse movimento da música cristã contemporânea”, acredita.

 

 

 

Ampliação

As principais gravadoras também perceberam como o filão é interessante. A Universal Music, por exemplo, não só possui um selo católico, mas gospel, e não só por aqui, como no exterior. Em alguns casos, tem contratado artistas e bandas, como o do cantor e compositor mineiro Thalles Roberto, e investido em sua carreira não só no Brasil, como em países da América Latina e nos Estados Unidos. “Já que queremos passar a palavra de Deus, nada melhor do que uma gravadora que não é do segmento para que a gente consiga alcançar o nosso objetivo de uma maneira mais inteligente. Sempre vou ser um defensor de que a palavra de Deus não é propriedade exclusiva de nenhuma religião. Querendo ou não, estou dentro da estrutura e, agora, tenho acesso a pessoas a que eu não tinha antes”, comenta Thalles.

O músico Marcelo Duarte, da banda católica Anjos de Resgate, também vê como positivo o ingresso das principais gravadoras nesse universo e pensa que para esses artistas, que se veem como evangelizadores, o importante é saber utilizar isso da melhor maneira possível. “As grandes gravadoras perceberam o quanto o povo tem sede. O quanto precisamos nos abastecer de algo verdadeiro, com conteúdo e puro. Isso para nós é muito bom, pois apesar do interesse dessas gravadoras, na maioria das vezes ser apenas financeiro, podemos usar essa estrutura para levar a palavra de Deus através das canções onde ela não havia chegado antes. É um mundo novo e ainda muito promissor”, frisa.

Apesar dos estúdios e da Associação Brasileira de Produtores de Disco não dados desse crescimento, o presidente da Codimuc, Eraldo Mattos, não tem dúvidas de que hoje, o mercado da música secular está empatado com a música cristã em termos de mídia física. A vendagem estrondosa de discos dos padres Marcelo Rossi, Fábio de Melo e Reginaldo Manzotti seria apenas a ponta do iceberg, segundo ele. “Para você ter ideia, as festas de interior, por exemplo, e vários eventos de entretenimento estão abrindo pelo menos um dia de sua programação dedicado à música religiosa. Isso já é fato”, assegura.

Juventude


Eraldo Mattos acredita que o que pode explicar esse fenômeno religioso é a juventude, que, de uma maneira geral, sempre se interessou por música. “E o jovem anda meio sem objetivos, sem foco, e acaba encontrando isso em Deus e na Igreja. O movimento da juventude cristã é muito forte e atuante e é por isso que a música tem repercutido tanto”, opina.

Já Marcelo Duarte, do Anjos de Resgate, acredita que o acesso a esse tipo de gênero ficou mais fácil e que o mundo exigiu que o povo buscasse sustento numa base mais sólida, verdadeira, e como a música é uma peça importante nessa base de vida, o povo acabou se entregando. “O profissionalismo, a qualidade musical e técnica da música católica também fizeram muita diferença nessa difusão. A imagem de violão e atabaque nas missas acabou. Hoje, a Igreja apoia ainda mais a música. Sabe o quanto o louvor e os ministérios que os executam são importantes para o contexto da evangelização”, comenta.

Para Thalles Roberto, o interesse, no caso do segmento evangélico, não seria necessariamente pela música, mas na mensagem que está por trás de suas letras. O artista acredita que, principalmente na época em que estamos vivendo, de tanta violência e desrespeito ao próximo, é natural que as pessoas busquem isso na religião. “Estamos vivendo num país onde as pessoas se matam por briga de trânsito, muitos têm uma vida depravada, ninguém respeita ninguém, só tem notícias ruins. Por isso, acredito que as pessoas estão, sim, interessadas na nossa música, porém, mais ainda nas mensagens que a gente passa. É uma maneira do indivíduo se sentir seguro, ter fé e sentir Deus por perto.”

Os 20 discos mais vendidos no Brasil em 2013

1) Já deu tudo certo (EP) – Padre Marcelo Rossi
2) Remixed (EP) – Roberto Carlos
3) Um ser amor (EP) – Paula Fernandes
4) Edição especial – Paula Fernandes
5) Anitta – Anitta
6) Multishow ao vivo – Paula Fernandes
7) O nosso tempo é hoje – Luan Santana
8) O maior troféu – Damares
9) Faça-me crer – Padre Reginaldo Manzotti
10) Midnight memories – One Direction
11) Canções mágicas Disney – Vários
12) Te esperando (EP) – Luan Santana
13) No coração da jornada – Vários
14) Sambas de enredo 2014 – Vários
15) Viva por mim – Victor & Léo
16) Artpop – Lady Gaga
17) Queremos Deus – Padre Fábio de Melo
18) Live in London – At Royal Albert Hall – Jorge & Mateus
19) Teorias – Zezé Di Camargo & Luciano
20) Demi – Demi Lovato
Fonte: ABPD

MAIS SOBRE MÚSICA