Antonio Adolfo comemora 50 anos de carreira com dois lançamentos

Discos 'O piano de Antonio Adolfo' e 'Rio, choro, jazz...' mostram o trabalho do compositor e pianista

por Kiko Ferreira 04/07/2014 06:00

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Paul Constantinides/Divulgação
(foto: Paul Constantinides/Divulgação)
O compositor, pianista, arranjador e professor Antonio Adolfo atinge a marca de 50 anos dedicados à música com dois lançamentos praticamente simultâneos. 'O piano de Antonio Adolfo', disco de piano solo, é o primeiro volume da série que a gravadora Deck Discos lança para comemorar a recente aquisição de um piano Yamaha para seus renovados estúdios. Já 'Rio, choro, jazz...' é um tributo a Ernesto Nazareth editado pelo selo do próprio Antonio Adolfo, com arranjos e interpretações jazzísticas para repertório do autor de 'Odeon', 'Brejeiro' e 'Apanhei-te cavaquinho'.

O músico, que já lançou em 1981 o ótimo 'Os pianeiros – Antonio Adolfo' abraça Ernesto Nazareth, com releituras em preto e branco de uma dúzia de clássicos do pioneiro do choro, amplia agora as cores e a ousadia ao transformar em jazz 10 temas (só dois repetidos, 'Feitiço' e 'Tenebroso'), duelando com uma banda formada por Claudio Spiewak (guitarra), Jorge Helder (baixo), Marcelo Martins (sopros), Rafael Barata (bateria) e Marcos Suzano (percussão).

A ideia de voltar ao universo de Nazareth veio de um convite para integrar o projeto 'Ernesto Nazareth 150 anos depois', que inaugurou a programação musical do CCBB em Belo Horizonte, no fim de 2013, numa série que apresentou releituras do mestre por intérpretes de diversas tendências, como os também pianistas Arthur Moreira Lima e Mú Carvalho, ex-A Cor do Som. Coube a Adolfo provar que sua ponte aérea Rio-Hollywood tem oxigenado sua visão musical, sem perder a brasilidade, mas agregando cada vez mais elementos do jazz.

Resultado de um processo de três meses, entre escolha de repertório, arranjos e ensaios, o CD traz mudanças em harmonias, melodias e ritmos e trata temas como 'Feitiço', 'Brejeiro', 'Fon-fon' e 'Odeon' como standards do jazz relidos com sotaque brasileiro. Não é nenhum disparate fazer paralelo com o trabalho do também pianista Keith Jarrett. Principalmente quando transforma 'Tenebroso' em sete minutos de eficaz exercício de conjunto. Ou quando traveste de ragtime e samba jazz o choro 'Não caio noutra', com um duelo de banjos com o americano Bob Whitlock e o lendário guitarrista brasileiro Rick Ferreira, dos discos de Raul Seixas e Erasmo Carlos.

Menos ousado e mais intimista, 'O piano de Antonio Adolfo' sugere um apanhado de temas caros ao intérprete Antonio Adolfo. Do choro de 'Sonoroso' (K-Ximbinho) e 'Doce de coco' (Jacob do Bandolim) ao jazz abrasileirado ('All the things you are'), ele passa pela bossa nova que tanto tocou no início de carreira ('Retrato em branco e preto', 'Insensatez', 'A felicidade', 'Copacabana', 'Canção que morre no ar'), lembra seu tempo de hitmaker ('Teletema') e faz uma interessante fusão do Chico Buarque pouco lembrado da triste 'Olha Maria' com o Jobim de 'Por toda minha vida'. Desacelera 'Catavento e girassol', de Guinga e Aldir Blanc, e recupera uma das pérolas pouco polidas do maestro soberano, Radamés y Pelé. Escolhas de especialista, em pleno domínio de sua técnica e sensibilidade.

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