Wanderléa lança DVD gravado ao vivo em São Paulo

Ternurinha, considerada um furacão, retoma repertório de show dos anos 1970. Cantora nascida em Minas defende a importância histórica da Jovem Guarda

por Ailton Magioli 22/06/2014 06:00

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Paulo Watanabe/Divulgação
Gravado durante a Virada Cultural de 2012, só agora o registro do show Wanderléa maravilhosa chega ao público (foto: Paulo Watanabe/Divulgação)


Da Ternurinha, que conquistou o Brasil na década de 1960, à Locomotiva que, uma década depois, romperia com a Jovem Guarda, Wanderléa é dona de uma trajetória no mínimo curiosa na vasta cena musical brasileira, que vive mais uma temporada de renovação.

Que o diga o lançamento de Wanderléa Maravilhosa, com o emblemático show, de 1972, com o qual a cantora, mineira de Governador Valadares, buscaria novos rumos na carreira. Gravado no Teatro Municipal, durante a Virada Cultural de São Paulo de 2012, o show ganha lançamento nos formatos CD e DVD, com direito à inclusão de canções do show Feito gente, de 1975, que também marcaria a vida da cantora. O lançamento é do selo Coleção Canal Brasil

 “Acrescentei Que besteira, de João Donato e Gilberto Gil, e Chica, Chica-Boom, Chic, de Harry Warren e Mack Gordon, com a qual resolvi fazer uma homenagem à dupla Les Étoiles , formada pelos brasileiros Rolando Faria e Luiz Antônio, que tem tudo a ver com a brasilidade do trabalho”, diz Wanderléa.

Na trilha dos Diz Croquettes, a dupla Les Étoiles, à qual ela se refere, foi formada em Barcelona, no início dos anos 1970, transferindo-se posteriormente para Paris, para divulgar compositores brasileiros. Musa de variadas tribos, ainda que muitos insistam em associá-la apenas à Jovem Guarda, de Roberto e Erasmo Carlos, a cantora vai além.

Não por acaso, a Bahia ganha variadas citações em Wanderléa Maravilhosa. “Fiz o show no momento pós-tropicália”, justifica a cantora, a primeira a gravar o frevo Chuva, suor e cerveja, de Caetano Veloso, quando o baiano ainda vivia no exílio londrino. “Foi um sucesso e marcou a minha ruptura com a CBS, que, na época, não aceitou a gravação”, acrescenta Wanderléa. “Caetano chegou ao Brasil com a música estourada na minha voz”, comemora, ainda hoje, salientando que Chuva, suor e cerveja abriu o mercado para a música do Nordeste.

Além de Caetano, no show de então, Wanderléa cantava Back in Bahia, de Gilberto Gil, com citação do sucesso de Banho de lua, em versão de Fred Jorge, e Uva de caminhão, de Assis Valente. A propósito, a autorização da citação, de acordo com a cantora, teria sido responsável pelo atraso do lançamento do CD/DVD, que, gravados há quase dois anos, chegam ao mercado somente agora. O show Maravilhosa, afirma Wanderléa, foi produto da necessidade de inovação, ainda que ela admita que naquela época já cantasse variadas vertentes da MPB.

Autor de Quero ser locomotiva e Guinga da mandinga, esta da parceria com Rodolpho Grani Júnior, Jorge Mautner foi o destaque de então. “Foi a primeira gravação oficial de uma música dele”, lembra a cantora, que deu ao carioca estreante a oportunidade de abrir o show durante a temporada do Teatro Carlos Gomes.

Abertura para o novo


“A temporada do show foi um sucesso e, graças a ela, ganhei novos e exigentes fãs”, recorda a cantora. Ela, no entanto, não abandonou o estilo Jovem Guarda. A inclusão de Mate-me depressa, de Rossini Pinto, por exemplo, só reafirma o que diz a cantora. Ela salienta que a canção acabou, de certa forma, criando dificuldades na divulgação do disco, visto que a gravadora, em vez de explorar todo o repertório, resolveu privilegiar aquela faixa, que se tornou sucesso.

“Mas acabou funcionando como uma passada de bastão, já que Mate-me depressa foi a última canção de Rossini que gravei”, relata. Em início de carreira, Wanderléa teria contestado o compositor, torcendo o nariz para Meu anjo da guarda, de sua autoria, que acabaria gravando. “Depois é que veio a série de sucessos com versões e canções autorais dele”, pondera a intérprete de Sem amor ninguém vive, entre outras de autoria do compositor.

Saudades da época? “Não, porque faço muitos shows com o repertório da Jovem Guarda e o público lembra de tudo na hora.” A propósito da alienação política atribuída ao movimento musical liderado por Roberto Carlos, Wanderléa diz que a JG acabou responsável por uma verdadeira transformação no comportamento. “Foi uma revolução, a verdadeira expressão da cultura jovem do país.”

O movimento, em sua opinião, não tinha discurso, mas trazia em seu bojo a abertura para o novo. "Inclusive para a guitarra elétrica, que chegou na música brasileira via Jorge Benjor, sendo rejeitada pela bossa nova e pela MPB”. Nós não tínhamos um discurso político, mas fizemos uma grande transformação”, conclui Wanderléa, lembrando que a Jovem Guarda foi referência para o Tropicalismo, Clube da Esquina e outros movimentos que viriam depois.

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