Kiko Loureiro, do Angra, lança DVD gravado ao vivo em São Paulo

Show 'The white balance' mostra que, além do rock, guitarrista tem interesse pelo jazz e MPB

por Daniel Seabra 17/06/2014 08:16

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Alex Solca/Divulgação
Mesmo conhecido como virtuose da guitarra, Kiko Loureiro não deixa de estudar violão acústico e elogia as harmonias da música brasileira (foto: Alex Solca/Divulgação)
Ele é guitarrista do Angra, portanto sempre associado ao heavy metal. Mas essa não é bem a realidade de Kiko Loureiro, um virtuose, considerado um dos grandes nomes no instrumento no mundo. Ele, claro, tem uma veia – muito forte, diga-se de passagem – bastante rockeira. Mas não deixa de ouvir e gostar de outros estilos, principalmente do jazz. Sem falar no instrumental próximo à MPB.

E isso fica bem claro em seu primeiro DVD, 'The white balance', gravado ano passado no auditório do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e recém-lançado no Brasil. Com o Angra são mais de 20 anos de parceria, além de uma já consolidada carreira solo, com quatro discos gravados. “Se você pensar muito, não faz. Já tinha uma enorme vontade de fazer um registro ao vivo, que casou com o convite que recebi do auditório, que é legal, de prestígio. Fiquei muito contente. E tinha que rolar um show especial, o local merece. Então era a hora”, avalia.

O DVD é apresentado em três momentos, bastante distintos, mostrando as diferentes vertentes do músico. No primeiro, um set mais puxado para os fãs do Angra, com muito rock. No segundo começa sozinho, ao violão, e finaliza ao lado de seu companheiro de banda Rafael Bittencourt no momento acústico. E para fechar, com outros músicos, mostra seu Brazilian Jazz, principalmente com canções do disco 'Universo inverso' (2006).

“Descobri, no show, que o estado de espírito de cada um dos momentos é bem diferente. O som, o equipamento, a postura com os outros músicos, é tudo muito distinto. É cada um na sua. Cada músico tocava com uma banda diferente, de outras escolas. Do lado samba, do lado do rock”, frisa, deixando claras as diferenças de clima entre as partes do programa. “O Brazillian Jazz é uma conversa de botequim, é no olho de cada músico. É livre. Já o rock é um discurso pronto. Você tem o texto, arruma, lê, pratica e toca. Está ensaiado.”

Já o momento com Rafael é um caso à parte. Os dois tocam 'Late redemption', do Angra. “Tocamos juntos desde 17 anos. Ele é muito representativo na minha carreira. Tenho ótimas lembranças da gente moleque, de discussões que sempre terminam em abraço. Na alegria e na tristeza. Fizemos muita coisa juntos. E, nessa canção, fiz a música e ele a letra”, conta.

Para produzir os três sets, seria necessário reunir vários músicos para ensaios e horas de trabalho. “Fiz dois shows antes, com a parte rock. Mas os caras do Brasillian Jazz não querem ensaiar muito. Tem que ter o ensaio para todo mundo entender a música e, pronto, vai para o palco. É meio um improviso. É stand up comedy”, compara com humor. E esta variação certamente proporciona um aumento no leque de fãs do artista.

Bem tocado “Tenho um público conhecido, que é o cara que gosta de guitarra, não necessariamente do rock. É uma pessoa que gosta do instrumento bem tocado. Do cara jazzista ao extremo consigo o respeito. Mas me agradecem porque, no meu show, o camisa preta, fã do Angra, vai para me ver tocar e vê outro tipo de música. Abre a cabeça do cara. Acima de tudo, sou um artista e o artista está aí para fazer o que dá na telha. Se quando decidi sair da faculdade de biologia para fazer música já tomei uma decisão dessas, imagina agora. Vou tocar o que gosto. Como não abandono o rock pesado, não virei a casaca. Falo com respeito que ouço, por exemplo, Metallica e Cartola.”

Mas a principal influência de Kiko Loureiro, aliás, como a maioria dos guitarristas, não poderia ser diferente: heavy metal. “Era o Led Zeppelin. Pirei no (Jimmy) Page e na banda. Nos anos 80, fui descobrindo Van Halen, depois Mike Stern, George Benson, além dos brasileiros no violão, que são mais sofisticados. Ouvir Scorpions, Iron Maiden era nota para todo lado, ou muito agudo ou muito grave, e é legal. Mas a sensibilidade do brasileiro na música é outra. É mais complicado, mais elaborado. Tem mais harmonia. Tem que fazer aula. Pirava nessa coisa de fazer aula, estudar. A música brasileira é a música que mais une a sofisticação com o popular”, elogia.


Três perguntas para...
Kiko Loureiro
Guitarrista

Por que o nome The white balance?
Queria um nome com branco, porque estava encanado com o (Oscar) Niemeyer (projetista do auditório). Tinha essa coisa dos três atos e white balance é bater o branco, corrigir as três cores (verde, azul e vermelho). E o branco são todas as cores. São todos os estilos que eu gosto. Além disso, tem muita sinestesia de cor com a nota musical. Por isso escolhi esse nome.

Por que você decidiu pela música instrumental?
Sempre ouvi música instrumental. Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Egberto Gismonti, além de bandas, como a do Jeff Beck. Quando pintava alguma música com letra, era para o Angra. A energia para isso já estava no Angra. Achava que fazer alguma coisa instrumental era para outro nicho, outro negócio, outros parceiros, outros locais de shows. Era um jeito de fazer outras coisas sem dar um tiro no pé na outra. Quando faço meus shows não toco nada de Angra e vice-versa.

Fale sobre seu prazer em tocar violão.
Tem o lance da cobrança. Se for tocar piano, posso tocar errado, porque não estou na minha. Dá uma leveza a mais. A guitarra também me dá muito prazer. Mas essa cobrança própria quando toco violão me deixa mais à vontade. Sinto mais a existência da música, já que o violão está grudado no meu corpo. Além disso, não preciso amplificar nada. É só pegar e tocar.

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