Serviços que garantem o direito autoral conquistam cada dia mais adeptos entre público e artistas

Spotify, Deezer e Rdio permitem baixar faixas com qualidade, de graça ou pagando pouco

por Carolina Braga 08/06/2014 07:00

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Rui Mendes/Divulgação
Sempre contestador, Lobão não sabia das novidades da tecnologia digital, mas é favorável desde que sejam pagos (foto: Rui Mendes/Divulgação)
Para quem costumava entrar em todas as polêmicas, Lobão está até muito calmo. “Não tenho a menor ideia do que é isso”, diz sobre a chegada do Spotify ao Brasil. Não que seja exatamente uma polêmica, mas o serviço de áudio em streaming mais popular do mundo é uma força importante para a mudança da forma como consumimos música na atualidade. “Não sabia dessa novidade, se for pago eu acho legal. Se for normatizada, que dê dinheiro para o compositor ou o músico, é bacana”, opina. Vai mais ou menos por aí, Lobão.

Falar em direito autoral nos meios digitais ainda é transitar por terreno de indefinições. As transformações tecnológicas são rápidas demais para que as leis acompanhem. O fato é que, pouco a pouco, a transição do modelo de propriedade, quando você compra um CD, por exemplo, para a do acesso aparece como a luz no fim do túnel para a remuneração de quem é atacado diretamente pela pirataria. Com a indústria fonográfica interessada em fatias desse bolo, a roda tem girado mais rápido.

“O Spotify nasceu para ser melhor alternativa. Em termos de produto, a pirataria é grátis e todo mundo adora. O problema é que o modelo de negócio não fecha. Não adianta combatê-la somente do ponto de vista jurídico. É preciso criar um produto melhor”, explica Gustavo Diament, diretor-geral do Spotify para a América Latina. Surfam nessa onda não apenas o Spotify mas também o YouTube e serviços como Deezer ou Rdio, também especializados em música em streaming.

Liderança

Consumir áudios desse jeito significa que você não precisa baixar para o seu computador, seja de forma legal ou não. Por meio de uma rede de internet você consegue ouvir de onde estiver, apenas contando com uma conexão em banda larga satisfatória. Os serviços têm em comum o fato de poderem ser acessados via computador ou dispositivos móveis como telefones celulares e tablets. As variações estão na interface dos aplicativos e preços de assinatura, já que o acervo é crescente em todos os casos.

O Deezer e o Spotify surgiram em 2006. O primeiro na França, criado por Daniel Marhely, então com 20 anos. O segundo foi lançado em Estocolmo, na Suécia, implementado por Daniel Ek. A expansão do sueco pela Europa foi rápida, mas gradual. De acordo com dados apresentados pela empresa, atualmente detém a liderança entre os concorrentes com 40 milhões de usuários cadastrados.

O francês chegou primeiro em terras brasucas, em meados de 2013. Este é o primeiro mês de operação do Spotify por aqui. De acordo com Gustavo Diamet, a demora do lançamento foi porque faz parte da filosofia da empresa se preparar para encarar mercados diferentes. “Existe uma preparação para que ele seja relevante no país de lançamento. Há todo um catálogo licenciado e um trabalho editorial de curadoria”, diz. Na estreia brasileira são 30 milhões de músicas no acervo. O diretor não consegue precisar o quanto disso é dedicado à produção nacional.

Liberdade

É possível ouvir música de graça pelo Spotify ou pagar pelo serviço. Aqueles que optam pela assinatura de US$ 5,99 (a previsão é que logo a cobrança se converterá para reais no valor fixado em R$ 14,90) tem direito de baixar as faixas para o dispositivo e ouvir sem conexão à internet, melhor qualidade do áudio e também ausência de publicidade. O acesso ao banco de dados é exatamente o mesmo para quem paga ou não. A diferença é que vez ou outra aparecem as propagandas. É por isso que o diretor insiste em dizer que o Spotify enfrentou a pirataria de igual para igual.

A legalidade é o pulo do gato. Não são os usuários que alimentam o banco de dados. São os chamados agregadores, que podem ser as gravadoras ou editoras. Cada vez que uma música é executada em mais de 30 segundos os autores recebem um percentual. “Tudo o que o Spotify gera de receita, 70% é pago em direito autoral. Em menos de seis anos já pagamos US$ 1 bilhão sendo metade disso somente no ano passado”, informa Gustavo.

Na prática, para cada artista, o valor ainda é pouco, mas representa alguma coisa diante da pirataria. A banda mineira Constantina, por exemplo, foi recentemente surpreendida com o depósito dos royalties das execuções dos fonogramas na Europa. Como tem parceria com o selo inglês Dry Cry Records, as canções foram cadastradas no aplicativo europeu. No início deste ano, o Constantina fez uma turnê de cerca de um mês pelo velho continente e, agora, o rastro do Spotify pingou na conta: 80 libras, o que equivale a cerca de R$ 200 pelas execuções no serviço de streaming. “Acho que lá fora já existe um pensamento de consumo de música. Aqui ainda não tem essa cultura”, observa Daniel Nunes, um dos integrantes do Constantina.

De olho no futuro


Para o responsável pela área digital da gravadora Biscoito Fino, Miguel Gonzalez, a adaptação será uma questão de tempo. “O CD matou o vinil? O digital matou o vinil? Os serviços de streaming matariam o CD? Difícil responder essas questões. É certo que os serviços de streaming vão crescer muito, e a venda de CDs deve continuar na tendência de queda que vem sendo registrada nos últimos anos”, afirma. Segundo ele, o momento é mesmo de recuperação para a indústria. “Não só para a Biscoito Fino, mas para todas as gravadoras. O consumidor não vai se incomodar de pagar um valor justo para consumir música de forma legal.”

“A venda do CD ocorre apenas uma vez, no ato da compra e os royalties são passados. A pessoa ouvirá o álbum centenas de vezes e não será pagará por essas novas execuções. Já no streaming o consumidor paga mensalmente, então os pagamentos se perpetuam ao longo dos meses, de acordo com o consumo das músicas. É como se comparássemos o modelo de venda com o de aluguel. Na venda, você ganha apenas uma vez e, no aluguel, você ganha menos, porém de maneira frequente. Além dessa mudança de modelo de geração de receitas, é importante participar desses serviços pelo ganho promocional de engajamento e proximidade que trazem com os fãs do artista”, explica Cláudio Vargas, vice-presidente de marketing, digital, vendas e novos negócios da Sony Music.

Tendências


Marcio Rodrigues/Divulgação
A Music Post disponibiliza o trabalho da banda Manitu em todas as plataformas (foto: Marcio Rodrigues/Divulgação)
Como Miguel Gonzalez ressalta, não estar em serviços de streaming significa que o artista está ausente das novas tendências de consumo. “O futuro da música é o consumo por meio de plataformas digitais”, garante. Apesar dessa segurança, a transição entre os modelos de capitalização não é simples. “Para os provedores de conteúdo, as gravadoras que estavam acostumadas a vender CD, é uma transformação abrupta e adaptação intranquila”, aponta o consultor Felippe LLerena, diretor da Music Post. Especializado no mercado digital, ele atua como agregador, cadastra acervos musicais. É ele, por exemplo, quem disponibiliza o trabalho dos mineiros da banda Manitu em todas as plataformas.

Segundo Felippe a intranquilidade está principalmente no fato de artistas e gravadoras perderem o controle do quanto receberão no fim do mês. Se nos tempos de venda de CDs era possível acompanhar como andavam as vendas, pela lógica do acesso somente terminado o período de 30 dias é que saberão a possível receita.

Gustavo Diament, do Spotify, lembra que a lógica agora é a do acesso e não da propriedade. “Do ponto de vista do usuário não precisa ser dono de nada. Do ponto de vista do artista existe a meritocracia: se o escutarem muito, você vai ganhar”, sintetiza. A avaliação de Felippe é de que os serviços de streaming oferecem mais oportunidades para os músicos independentes. “A diferença é que no inconsciente coletivo das pessoas são menos conhecidos, mas o espaço que ocupam dentro da nuvem é igual ao do Coldplay”, diferencia.

Saiba mais

NO YOUTUBE


Primeira plataforma de vídeos a alcançar a popularidade, o YouTube é hoje um importante player de música. Segundo Felippe Llerena, o site tem sido um dos grandes monetizadores dos artistas. Funciona mais ou menos assim: o dinheiro da publicidade é distribuído para os autores das músicas executadas ali. O portal tem um sistema capaz de identificar o fonograma utilizado em qualquer tipo de vídeo. Seja um registro caseiro de aniversário, casamento ou qualquer outra cena. Feito isso, o dinheiro da publicidade é usado para o pagamento dos direitos autorais.

Os serviços

» Spotify
Mais famoso serviço de streaming, o Spotify tem origens suecas. Os usuários podem procurar por canção, artista ou acessar playlists previamente elaboradas pelo aplicativo. A versão gratuita tem audição ilimitada, mas vez ou outra aparecem anúncios que não podem ser excluídos. Os assinantes premium ficam livres das propagandas, podem ouvir off-line e com uma qualidade superior. O aplicativo está disponível para as plataformas Windows, Mac, web, iOS, Android, Windows Phone e BlackBerry. Preço da assinatura: US$ 5,99 por mês.

» Deezer
Atualmente, tem mais de 12 milhões de usuários cadastrados. Tem acordos com gravadoras e sociedades de gestão de direitos autorais e hoje conta com mais de 2 mil selos independentes. Existem três planos em operação no Brasil. O Discovery garante acesso gratuito ao banco de dados; o Premium dá acesso via computador; e o Premium +, acesso ilimitado a partir de diversos suportes (computador, celular, tablet, etc.), mesmo sem conexão à internet. O valor dessa assinatura está em promoção por tempo limitado por R$ 7,49.

» Rdio
O diferencial desse aplicativo é que ele conta com rebuscado sistema para procurar conteúdo novo. Assim como os outros, conta com playlists e rádios pré-definidas. São 25 milhões de músicas. Para escutar músicas sem limite em qualquer lugar, faça a assinatura por R$14,90 por mês. Na opção de assinatura familiar, o preço cai pela metade para quem entrar no pacote.

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