Enquanto prepara as comemorações dos 60 anos do Sambacana, responsável pelo lançamento da carreira artística de Milton Nascimento, Joyce, Toninho Horta, Eumir Deodato e Wagner Tiso, entre outros, Pacífico Mascarenhas, de 78 anos, contabiliza cinco novos discos com repertório de sua autoria. “Minha música é do tipo que nunca vai fazer sucesso, mas que não deixa de tocar, já que o público é pequeno mas fiel”, diz o artista, verdadeira lenda viva da música belo-horizontina, responsável pela introdução da bossa nova na cena musical mineira.
Só na internet
De 1958 a 2014, Pacífico Mascarenhas conta com o registro de sua música em 35 discos, entre LPs e CDs, enquanto prepara o sétimo lançamento em seis décadas de Sambacana. Responsável pelo primeiro disco independente do qual se tem notícia no Brasil – 'Um passeio musical', de 1958, que antecedeu o 'Feito em casa', de Antonio Adolfo, de 1977 –, Pacífico por pouco não teve uma de suas criações lançadas por João Gilberto. Gravada pelo papa da bossa, de forma artesanal, à base de voz e violão, Pouca duração, do compositor mineiro, acabou não entrando em disco nenhum de João, que chegou a disputar o lançamento da música com a então mulher, Astrud Gilberto.
Dos discos com sua música, que em Belo Horizonte podem ser encontrados em poucas lojas (Discoplay Discos Raros, Acústica Discos e Trem Azul), participam Os Cariocas, Renato Motta, Paula Santoro, Sérgio Santos, Gilberto Mascarenhas, Beto Lopes, Suzana e Bob Tostes, Marilton Borges, Alarme Falso, Affosinho, Cliff Korman Quartet, Luiz Eça Trio, Osmar Milito Trio e Alberto Chimelli Trio, entre outros, além do cantor Carlão, que ele diz ser “um novo” Emílio Santiago, e do showman Miéle.
Nomes falsos
Casado com Emília Margarida, pai de três filhos (Francisca Margarida, Carlos e Alexandre), Pacífico começa a vislumbrar o prosseguimento da música em família por meio de Ivon Francisco, um dos quatro netos, que toca piano. Autor de 175 canções, ele também vem fazendo versões de standards da música americana, aos quais já dedicou inclusive álbum duplo (Cante comigo), com direito a livreto com partituras e playbacks.
Testemunha da história da MPB, o compositor, que é diretor social do Minas Tênis Clube há 30 anos, lembra que, na época do primeiro disco gravado com a sua música, todos tiveram que adotar nomes fictícios. O cantor Gilberto Santana, por exemplo, virou Marcos Vinicius, enquanto o pianista Paulo Modesto transformou-se simplesmente em Paulinho – reflexo do preconceito de então com a carreira artística, como faz questão de lembrar Pacífico Mascarenhas.