Novo de Jorge Drexler une o que há de melhor nos ritmos latinos

Do Uruguai ao Caribe, 'Bailar en la cuerva' aposta na mistura e no ritmo contagiante. Brasileiro Caetano Veloso faz parte da produção do disco

por Ângela Faria 23/05/2014 09:35

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Thomas Canet/divulgação
O cantor e compositor Jorge Drexler celebra a América Latina em seu novo CD, 'Bailar en la cuerva' (foto: Thomas Canet/divulgação)
Afaste os móveis, previna o síndico, convide o vizinho: Bailar en la cueva, o novo disco do cantautor uruguaio Jorge Drexler, vem para chacoalhar o esqueleto. Nesse baile panamericano cabe de tudo: cúmbia peruana, ranchera mexicana, candombe uruguaio, música de raiz colombiana e eletrônica contemporânea. Há sonoridades costa-riquenhas, forte tempero caribenho (que soa bem familiar graças aos nossos talentos do Pará) e uma tropa de ótimos convidados.

Jorge se junta à chilena Ana Tijoux, ao baiano Caetano Veloso, ao porto-riquenho Eduardo Cabra (Visitante Calle 13) e à colombiana Li Saumet (Bomba Stereo), entre outros. Haja congas, bongôs, guacharacas e moogs. Gravado em Madri e na Colômbia, Bailar en la cueva é ritmo puro. No polo oposto ao último disco de inéditas de Drexler (Amar la trama, de 2010, homogêneo e “amarradinho”), a fiesta celebra a mistureba. Theremin combina com timbales em El triangulo de las Bermudas; programações se encaixam com maracas na contagiante Universos paralelos; a faixa título tem guitarra espanhola e uma tal de “cocktail drum”.

Radicado na Espanha desde o início dos anos 1990, Jorge Drexler partiu do Uruguai para a Europa em plena crise econômica. O jovem médico buscava um lugar ao sol como artista, depois de trocar os consultórios pelo violão. Agora, ele inverte a ponte aérea: voltou para a “América mãe” e não se limita a milongas tristonhas, candombes e tangos de seu Cone Sul. A Colômbia, aliás, lhe é particularmente cara, pois um avô morou lá. Atualmente, dos estúdios de Bogotá sai um pop vigoroso – vide a contribuição de Mario Galeano (líder do grupo Frente Cumbiero) à sonoridade de Bailar en la cueva. A caliente faixa-título, por exemplo, já chega chegando: mistura rap, balanço latino e o suingue de Li Saumet e Julián Salazar, do aclamado Bomba Stereo.

Cúmbia tropicalista A Bolívia ganhou, merecidamente, uma canção emocionada. Foi o único país a abrir as portas à família judia Drexler durante o horror nazista. Filho de Gunther, o neto dos refugiados George e Ruth Drexler chamou Caetano Veloso para dividir com ele a cúmbia tropicalista batizada com o nome daquela nação solidária. Talvez seja a canção mais bonita do disco esse tributo agradecido aos hermanos bolivianos, tão injustamente esnobados por nosotros.

Bom de verso e melodia, Drexler escreve letras mordazes (ironiza a mídia em La plegaria del paparazzo), volta a temas inspirados na ciência (Esfera) e cultiva a delicadeza (Organdí, dedicada à caçula Leah). Com La luna de Rasquí, presta alegre tributo ao compositor venezuelano Simón Díaz, que morreu em fevereiro, aos 85 anos.

Como se não bastasse o alto astral desse disco panamericano, o uruguaio deixa o acanhamento de lado e manda ver ao lado de três bailarinos no videoclipe de Universos paralelos. Ele contou aos jornalistas que dançar o intimidava. Afinal, cresceu durante a ditadura militar uruguaia, garoto criado por família mais afeita à política de resistência do que à política do corpo. Mas agora, na era José Mujica, o ex-tímido se jogou. Ainda não chega a ser um Justin Timberlake, é certo, mas requebra direitinho. Jorge parece feliz em voltar para casa...

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