Zizi Possi lança o álbum 'Tudo se transformou', em que regrava temas que integram seu repertório

Novo trabalho da cantora também traz canção inédita de Necka Ayala

por Ailton Magioli Kiko Ferreira 04/05/2014 07:00

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Rama de Oliveira/Divulgação
Eclética em sua carreira, Zizi Possi foi das canções italianas aos clássicos da MPB, sempre com sofisticação e bom gosto (foto: Rama de Oliveira/Divulgação)
Foi no fim da década de 1980 que Zizi Possi deu a guinada que a transformaria em uma das maiores intérpretes da MPB, alternando discos de repertório eclético ('Estrebucha baby', o insuperável 'Sobre todas as coisas', 'Valsa brasileira', 'Mais simples', 'Puro prazer') e temáticos (os italianos 'Per amore' e 'Passione', 'Bossa' e 'Para inglês ver e ouvir'). No primeiro estilo, ela acaba de lançar 'Tudo se transformou', resultado do show homônimo que Belo Horizonte já assistiu, em que ela reúne clássicos da MPB em releituras irrepreensíveis.

A começar da música-título, de Paulinho da Viola, que o Brasil provavelmente conhecia na versão de Caetano Veloso. Dona de timbre de voz agudo, límpido, e personalidade forte, Zizi imprime à canção o sabor da novidade, o que também faz, aliás, com a célebre 'Disparada', de Geraldo Vandré e Théo de Barros. O processo de trabalho, como esclarece, ocorre naturalmente. “Depende de como estou e do que tenho para dar ao público, além do próprio ambiente”, diz a cantora.

Assustada com o ritmo das mudanças nas últimas décadas, ela lembra que tudo se transformou, literalmente, levando-a, inclusive, a sentir uma inadequação ao novo. “Assusta-me, às vezes”, confessa, lembrando de valores como não roubar, não enganar ninguém e coisas parecidas, que o pai lhe ensinou, hoje são atitudes, digamos, normais. “Hoje, com 58 anos, não tenho nada contra o mundo, mas também nada a favor”, desabafa Zizi Possi, preocupada com a impunidade “avassaladora”.

Daí o fato de estar se sentindo deslocada. “Aí é que a música bate”, deduz, consciente de que a escolha de repertório passa por tudo isto. Em turnê de lançamento do novo CD, ela garante que tem procurado ouvir novidades para, quem sabe, fazer um novo 'Estrebucha baby', de 1989. “Mas está difícil”, admite, salientando a importância da presença do violonista mineiro Rogerio Delayon em sua atual banda.

“Ele é bastante antenado e tem me trazido o trabalho de muitos jovens compositores de Minas Gerais. Ouvi o Vander Lee, também. Tem muita coisa linda”, avalia a intérprete, para quem é chegado o momento do fim da trégua. “Estou com necessidade de fazer algo como aquilo que vinha realizando no fim dos anos 1980”, reforça o desejo de um novo 'Estrebucha baby', em que gravou Jean e Paulo Garfunkel, Dalto e Herbert Vianna, além de versões de Ronaldo Bastos e Nelson Motta.

NOITE DE LUA Única canção inédita de 'Tudo se transformou', 'No vento', de Necka Ayala, foi escolhida depois de a cantora receber um disco da artista gaúcha, que lhe chamou a atenção não só pela poesia, “bem-estruturada e bonita”, mas também por se tratar de algo harmonicamente resolvido. “É extremamente simples e objetiva”, elogia 'No vento'. Já a presença de clássicos como 'Disparada', recorda Zizi, remonta a um passeio de moto que ela teria feito com o então segundo marido à Serra da Bocaina.

“A noite era enluarada e comecei a cantar, enquanto 'Disparada' foi-se mostrando para mim”, lembra Zizi, que, depois de um registro da canção à base de voz e piano, no disco 'Puro prazer', volta a gravá-la, agora em companhia de banda. Itamar Assumpção e Paulo Leminski assinam 'Santa Maria', que abre o disco, enquanto Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown são os autores de 'Sem você', que o encerra. À frente da banda que acompanha Zizi o maestro Jether Grotti.

Crítica - Para conhecer Zizi

Kiko Ferreira


'Tudo se transformou', o samba de Paulinho da Viola, dá nome ao mais recente disco de Zizi Possi. Quem acompanha a música popular brasileira sabe que Zizi é uma cantora sofisticada, que soube, durante três décadas e vários álbuns, administrar um ecletismo saudável que ia de discos de trilhas de novelas a releituras de malditos como Jorge Mautner e Sérgio Sampaio.

Mas, num tempo em que a chamada MPB anda cada vez mais distante, das rádios, dos acervos digitais armazenados em dispositivos variados e até da imprensa, quem, efetivamente sabe quem é Zizi Possi? Os jovens ouvidos que ainda têm curiosidade sobre o que vai além de funks e ritmos adotados por universitários em baladas, podem começar por 'Tudo se transformou' a conhecer as várias facetas de uma cantora e intérprete eclética. Mesmo que o termo esteja surrado e fora de moda.

Gravado ao vivo no Tom Jaz, em São Paulo, em 18 de agosto de 2012, o álbum traz a cantora relendo algumas de suas características e sucessos sem muita (re)invenção. Acompanhada por Jether Grotti Jr. (piano, tamborim, clarinete, vozes, regência), Keco Brandão (teclados, vozes), Webster Santos (violão, bandolim, guitarra, voz) e Luiz Guello (percussão, bateria), ela baseia o repertório em temas já testados e consagrados por seu público.

Alguns discos emblemáticos são lembrados na seleção. Do elogiado LP 'Pedaço de mim', de 1979, vem 'Morena dos olhos d’água', de Chico Buarque. O Gonzaguinha de 'Explode coração' saiu do álbum 'Mais simples', de 1996. E sua pungente releitura de 'Disparada', de Vandré e Théo de Barros, foi destaque do disco 'Puro prazer', de 1999. O romantismo de 'Contrato de separação' (Dominguinhos e Anastácia) e 'Meu mundo e nada mais' (Guilherme Arantes) ajudam a compor o mosaico, vitaminado com a bela faixa-título.

Além dos clássicos, o álbum traz medley com 'Porta estandarte', de Vandré e Fernando Lona, uma balada da própria Zizi com o letrista Dudu Falcão ('Cacos de amor') e a tribalista 'Sem você', de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. E ainda tem a inédita 'No vento', de Necka Ayala, teste para o poder dramático da cantora, que passa com nota 10. Com louvor.

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